Impactos do \brexit para o Brasil





O Reino Unido deixará a União Europeia às 23 horas (20 horas de Brasília) desta sexta-feira (31), mais de três anos e meio depois de ter decidido pelo Brexit em um referendo, em 23 de junho de 2016. Por disso, começam as especulações sobre os impactos do fato para os países diretamente envolvidos e também para o Brasil.
Confira abaixo as percepções da casa de análises Capital Research, assinadas pelo analista Ernani Reis:


• Historicamente, o Brasil possui uma boa relação comercial com a União Europeia, mas pode ganhar espaço nas exportações para o Reino Unido, até por conta do maior alinhamento ideológico entre os dois atuais governos. Nesse caso, o que está em jogo são as possíveis mudanças tarifárias e as exigências alfandegárias e legais que podem impactar nas importações e exportações entre os dois países.


• Tudo indica que o Reino Unido buscará compensar as perdas com os países da União Europeia, por meio da abertura do mercado para novos fornecedores. Um forte sinal para que isso aconteça foi dado ainda no ano passado, quando a ex-primeira-ministra britânica, Theresa May, declarou que, caso a saída ocorresse sem acordo, as tarifas sobre produtos exportados pelo Brasil, como frutas, café, tabaco e madeira, seriam reduzidas a zero.

• Agora, com a liderança do primeiro-ministro Boris Johnson, ideologicamente mais alinhado ao presidente Jair Bolsonaro, a chance de um acordo comercial entre Brasil e Reino Unido aumenta ainda mais. É claro que ainda não se sabe os termos deste acordo, mas o próprio Paulo Guedes declarou recentemente, após uma reunião em Davos com o ministro da Economia britânico, Sajid Javid, que o Brasil, por meio do Mercosul, deve ser um dos primeiros países a selar um acordo com os ingleses.

• Vale destacar, no entanto, que a “assinatura rápida” de um acordo dessa magnitude leva em consideração um horizonte de dois anos de negociação, ainda que integrantes do governo brasileiro digam já ter preparado um rascunho do que viria a ser esse acordo e que empresários britânicos e brasileiros mantenham um diálogo para tentar entender os termos que agradariam ambas as partes. Para chegar a essa estimativa, basta ver (i) o tempo levado para um acordo parcial na guerra comercial entre China e EUA que foi iniciada em 2018, (ii) os vinte anos levados para a assinatura do acordo entre Mercosul e a União Europeia e (iii) o próprio tempo que os britânicos estão levando para conseguir chegar a um acordo para a saída da União Europeia após o referendo do Brexit em 2016.


• A situação dos estrangeiros que vivem no Reino Unido é um dos pontos mais sensíveis do Brexit e ainda deve ser esclarecida nos próximos dias. O momento deve ser mais delicado para os brasileiros que vivem no Reino Unido, mas com a cidadania europeia, sem a cidadania britânica propriamente dita. Isso porque eles, provavelmente, devem passar a ser considerados apenas “turistas”. Espera-se, porém, que para não sofrer um impacto tão grande, o Reino Unido lance algum tipo de programa de regularização da situação desses indivíduos.


• O incentivo à saída de outros países do bloco vai depender do sucesso do acordo firmado entre o Reino Unido e a União Europeia e do desempenho econômico da ilha britânica “isolada” nos próximos anos. Além disso, tentativas separatistas como a da Catalunha, por exemplo, podem ganhar um novo impulso e desestabilizar economias de países integrantes do bloco europeu.

• Nesse contexto, vale a pena observar também o comportamento de países como a Irlanda do Norte, que é parte do Reino Unido, mas onde a população local foi majoritariamente contra o Brexit, e a República da Irlanda, que é um país independente e seguirá integrante da União Europeia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário