O Papa Francisco pediu que os incêndios na Amazônia fossem extintos o mais rapidamente possível. Estamos preocupados com os incêndios que ocorrem na Amazônia. Esse pulmão florestal é vital para o nosso planeta.
Eliane Brum, no The Guardian,
diz que o que está acontecendo na Amazônia - a explosão do desmatamento
seguido dos incêndios para abrir áreas - faz parte das intenções do
governo Bolsonaro. Para Eliane, o fato de a Amazônia ainda ser vista
como algo distante, na periferia da nossa visão, mostra o quão estúpida é
a cultura ocidental branca. É uma estupidez que forma e molda as elites
políticas e econômicas do mundo e também do Brasil. Acreditar que a
Amazônia está longe e na periferia, quando a única chance de controlar o
aquecimento global é manter a floresta viva, reflete a ignorância de
proporções continentais. A floresta está no centro de tudo o que temos.
Este é o verdadeiro lar da humanidade. O fato de muitos de nós nos
sentirmos longe dela só mostra o quanto nossos olhos foram contaminados,
formatados e distorcidos. Colonizados.
Míriam Leitão escreveu dois artigos no seu blog nO Globo. Um sobre a imagem queimada do país, no qual se pergunta como recuperá-la. Em outro,
ela comenta: Todos eles (países europeus) têm interesses comerciais
envolvidos? Têm sim, mas isso não explica tudo. Até porque a Inglaterra
do conservador Boris Johnson se juntou ao clamor. A chanceler, Angela
Merkel, aceitou a proposta de Macron. A Finlândia também se manifestou.
Bolsonaro só teve o afago, já no fim do dia, de Donald Trump. Queira ou
não, o mundo tem o direito de se preocupar com o futuro da floresta que
está tão ligada ao destino do planeta. Ao final, Miriam conta a
diferença feita pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, entre
incêndio e queimada, para afirmar que queimadas seriam comuns nesta
época do ano. Para contrapor esta fala, Míriam reproduz uma frase
recente da ex-ministra Marina Silva: as queimadas nunca (foram)
incentivadas pelo discurso de um presidente.
Vinícius Torres Freire, na Folha,
reparou que, no pronunciamento que fez na 6ª feira à noite, o
presidente não sabia do que estava falando, como de hábito. Bolsonaro
elogiava décadas de políticas e acordos ambientais, os quais ameaça de
morte, criados sob tantos governos, todos de esquerda (...)
[Bolsonaro] jacta-se do poder da sua canetinha, associando o exercício
da Presidência ao mandonismo, de modo jeca e ignaro, para piorar.
Tivemos ditadores mais espertos.
Dorrit Harazim, nO Globo,
fala do livro A Terra Inabitável, de David Wallace-Wells, que tem um
longo trecho sobre a Amazônia. Harazim fala do tema climático na
política dos líderes do G7, em um trecho que vale reproduzir: Nenhum
dos poderosos do G-7 (...) foi eleito por suas preocupações e propostas
ambientais. Eles foram sendo catequizados à ação pela força das
evidências, e para não perder a sua conexão com o coletivo humano.
Exceto Trump.
Jonathan Watts, no The Guardian,
eleva o tom e sugere que os líderes do G7 deveriam se perguntar se o
estupro do mundo natural deveria finalmente ser tratado como um crime.
No final, Watts diz que se fazer de cego diante de um ecocídio não é
mais opção. Os incêndios na Amazônia nos fazem lembrar que não são
apenas um crime contra a natureza, mas um crime contra a humanidade.
Elio Gaspari, na Folha,
foi direto: A resposta às queimadas é mais simples. Basta botar na
cadeia meia dúzia de agrotrogloditas que se aproveitaram da mudança de
governo para tocar fogo na mata. Quem conhece a Amazônia sabe que de
nada adianta prender peões. Os agrotrogloditas estão em belas moradias
nas grandes cidades e passam feriadões em Miami.
Em editorial de ontem, o Estadão
disse que Jair Bolsonaro, em apenas oito meses de governo, conseguiu
arruinar a reputação do país em uma das poucas áreas nas quais se
destacava de maneira razoavelmente positiva, graças aos esforços na
preservação das florestas nativas. Essa imagem não será recuperada
enquanto o presidente continuar a se queixar da mentalidade
colonialista da França, ou o ministro do Gabinete de Segurança
Institucional, Augusto Heleno, acusar países de usar ONGs para atingir
nossa soberania, ou, ainda, o chanceler, Ernesto Araújo, dizer que
muitas forças nacionais e internacionais querem recolonizar o Brasil.
Se o governo realmente estivesse preocupado com a defesa da soberania
nacional, estaria empenhado em esclarecer a opinião pública
internacional sobre a verdadeira situação na Amazônia e o que está sendo
feito para enfrentar o problema em suas reais dimensões. Ao preferir
ofender a inteligência de todo o mundo civilizado, o governo Bolsonaro
apenas desmoraliza o Brasil.
Marcelo Leite, na Folha,
usa a queda do Muro de Berlim, quando se queimava muito carvão, como
símbolo de uma Alemanha que se esforça para limpar a matriz energética e
deixar aquele carvão para trás. Leite lembra que este é só o começo da
estação de queimadas na Amazônia. Vem uma tempestade de fogo pela
frente, e só os cegos não querem ver - embora alguns aplaudam o envio do
Exército para combater chamas que supostamente não existem. Alemães,
juntos, demoliram o Muro da Vergonha. Bolsonaro brinca com fogo para erguer o seu entre brasileiros.
Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores na Rio-92, lembra, no Estadão,
que o tema do meio ambiente e a preservação da Floresta Amazônica é,
nos termos da Constituição, antes de mais nada, uma obrigação da
soberania nacional, imposta ao poder público e à coletividade. E
termina dando uma bronca: A palavra e os gestos são parte da ação
diplomática. O tosco recuo unilateralista em matéria de ambiente que
estamos presenciando é um estabanado tiro no pé no interesse nacional.
Corrói o legado diplomático do Brasil, coloca em questão a nossa
reputação e credibilidade internacional, desconsidera normas
constitucionais.
Jamil Chade, no seu blog no UOL,
mira no prejuízo para imagem do país. Jamil falou com personalidades,
abertamente e em off. Rubens Ricúpero, ex-ministro do Meio Ambiente e da
Fazenda, disse: No dia 21 de agosto, percorri todos os principais
noticiários da televisão mundial (...) Todos, até na seção de previsão
de tempo, dedicavam atenção principal às queimadas na Amazônia (...)
Jamais tivemos nos últimos 50 anos um desastre de imagem tão
catastrófico e irreparável como esse. É muitas vezes pior em
intensidade, horário nobre, repercussão junto a estadistas e gente do
povo do que sucedeu nos piores momentos do regime militar. Chade conta,
ainda, que dois embaixadores que pedem para não serem identificados
confirmam que, em décadas, jamais viram uma reação internacional contra o
Brasil de tal magnitude. Não me lembro da última vez que o Brasil
passou a ser tratado como um pária, como está sendo hoje.
Vale registrar as entrevistas dadas pelo biólogo norte-americano, Thomas Lovejoy, a Giovana Girardi, no Estadão; pela ex-ministra, Marina Silva, para Felipe Betim, no El País; pelo médico, Paulo Saldiva, para Morris Kachani, no Estadão; e pela bióloga, Erika Berenguer, para Vinícius Lemos, na BBC News Brasil. A Dra. Erika também escreveu um artigo para o CicloVivo.
Registramos, também, as notas do CEBDS,
que defende zerar o desmatamento ilegal no curto prazo na Amazônia e
em todos os biomas, e reduzir o desmatamento legal, e do IBA em defesa da Amazônia.
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