NÃO TEM MAS, NEM MEIO MAS
MARLI GONÇALVES
Porém, no
entanto, todavia, contudo, não obstante. Horas que as letrinhas
adversativas chegam apenas para mascarar. Essa mania nacional de pensar
claudicante e de pouca firmeza em opiniões pode nos levar a um buraco
muito mais fundo do que aquele que já estamos. Eu não sou isso, aquilo,
mas... não cabe nesse momento. Ou é ou não é. Ao menos assumam.
Respeitem nossa inteligência. Nada de votos envergonhados
______
Já começou a temporada do “Eu não sou..., mas” – e lá vem defesa do
indefensável. Tenho reparado que essa praga volta com força máxima e
logo agora que tanto precisamos de opiniões e atitudes certeiras,
decididas. É igual a usar excessivos gerúndios, que estou convencida que
é um vício que “pegou” porque é apenas uma forma, um jeitinho, de ir
levando, ir fazendo, ir ganhando tempo, de não fazer é nada, como
combina com o caráter nacional. Acabemos com isso, enquanto é tempo. Não
é hora para covardes vindos de nenhumas das várias pontas da questão
Brasil.
Direto ao ponto, para ser mais clara. Um candidato à
eleição presidencial vem se fazendo apenas (até porque não tem outras
qualidades) em cima de polêmicas absurdas, despreparo, atraso,
manipulação de informações e do desespero de brasileiros em várias
áreas, em especial a violência. Ele não é novo, não é exótico; é apenas
uma besta. Estou falando, claro, de Jair Bolsonaro, que, pior ainda, tem
filhotinhos bolsonarinhos. Pronto, já deixo claro aqui o que eu acho
desse nome: traz as trevas, não tem a menor condição, é mais uma
palhaçada que se criou nesse ambiente doente e árido em que vivemos. Eu
acho isso. Respeito, embora não há argumentos que possam justificá-lo,
quem admite de forma desenvolta que ficará com ele.
Mas já
irrita profundamente, e as tenho encontrado com alguma insistência,
especialmente nas redes sociais, pessoas que escancaram um “Eu não sou
Bolsonaro, mas...” seguido de uma série de argumentos favoráveis a essa
angustiante opção. Esse tipo de sentimento gerou Malufs, Cabrais entre
outros insolentes que acabaram no poder. E acabaram com o país e com o
nosso crédito na política.
Do outro lado: “Eu não sou
petista, mas...” tem impressionado muito, porque precisa ter capacidade,
ou um bom pagamento de soldos, para vir a público defender, não só o
Lula, mas toda a corja que se formou dentro do partido que era a
esperança, e virou um verdadeiro e escancarado lixo, para dizer o
mínimo. Gosta dele, Lula, quer vê-lo fora da cadeia? Ok. Bárbaro.
Hashtag para você também. Mas por favor, pare aí. Não venha com
lamúrias, ousar dizer que não houve julgamento, sendo que passou por
todas as camadas, esferas e estratosferas. Fora que esse processo que
corre mais lépido é apenas um entre outros muito mais cabeludos. Muito
mais.
Entendo e admito que no meio de mais de uma dezena de
opções absolutamente atemorizantes se definindo como candidatos, nossa
cabeça esteja mais para biruta de aeroporto. Mas há de haver detalhes
inegociáveis. O respeito aos direitos individuais, à liberdade de
expressão, aos mecanismos democráticos de controle, ao Estado Laico.
Dentro disso tudo, repito, não tem nem mas, nem meio mas...Não pode ter.
Não sou racista, mas... Respeito as mulheres, mas... Não tenho nada
contra gays, mas... É muito covarde e gera atos tão covardes quanto. Não
acredito em bruxas, mas...
Podemos usar o tal mas em
outras formas, nas quais denota defeito. Por exemplo: Lula é um líder,
mas deixou rastros e provas de ter se beneficiado pessoalmente;
Bolsonaro apareceu, mas sua incapacidade intelectual e gênio o tornam
inábil e perigoso. Eles, entre outros nomes que se apresentam nas
esferas estaduais e federais são a personificação do mas, em sua
terceira opção, a da dificuldade, porque são a própria negação, o
embaraço, o obstáculo, o inconveniente, a objeção. Mas é adversidade, e
não aguentamos mais tantas delas.
Apelo: "mas" enquanto
conjunção sempre ligará duas orações. Aproveito: que assim seja, Deus
nos livre deles! – mas se eles insistirem será preciso combatê-los. Com
firmeza.
Marli Gonçalves, jornalista. Um detalhe importante
para aprender. Mas não é mais, que sempre aparece como outro erro de
linguagem. Uma é uma coisa; mas a outra, outra coisa.
Brasil, mas pode chamar de ameaçado, 2018
marli@brickmann.com.br; marligo@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário