OPINIÃO
CRÔNICA DE UMA CASA DIVIDIDA
COLUNA CARLOS BRICKMANN
Lula,
como ex-presidente, tem direito a uma escolta pessoal. Como líder de um
partido de porte, tem voluntários que o acompanham aonde quer que vá.
São voluntários com espírito bélico, que se identificam como “exército
do Stedile” (o líder do MST), falam em rejeitar decisões judiciais,
ameaçam “reagir de armas na mão” a qualquer medida contra Lula. O
próprio Lula diz que é da paz mas sabe brigar, ainda mais depois que
Stedile “coloque seu exército na rua”. Stedile não hesitaria, por Lula,
em usar suas armas brancas, a foice e o martelo, assim que conseguisse
distinguir um do outro. E mesmo assim, com tantos adeptos, tão
dispostos, tão voluntariosos, tão guerreiros, Lula foi barrado em Santa
Maria, Palmeira das Missões, São Borja, Santana do Livramento, Passo
Fundo, Bagé, todas no mesmo Rio Grande do Sul que já elegeu os petistas
Tarso Genro e Olívio Dutra. Lula mantém o direito de ir e vir, mas não
lá.
Os
antipetistas levaram a sério a pregação bélica do PT. Além disso, já
queriam, há tempos reagir contra a propaganda lulista que os apresenta
como ricos, brancos, “da zelite”, tudo galeguinho di zoio azul. Eles
venceram. Mas, se vencessem os outros, o perdedor seria o mesmo, o
Brasil. A campanha deixou de transmitir as ideias de cada candidato (se
as têm) e virou disputa de insultos.
Mais grave: cada lado quer impedir que o outro se mova pelo país. Ganhe quem ganhar, é fascismo na veia.
Crianças mimadas
Cada
lado acusa o outro de ter iniciado a campanha divisionista (e
antipatriótica) de demonizar o adversário. Podemos discutir esse tema
anos a fio, mas isso é irrelevante: político que se preza não faz
provocações desse tipo, político que se preza não aceita as provocações.
É como briga de criança, mas sem crianças e com adultos feios e mal
intencionados: a mãe nem quer saber quem começou, quer que a briga se
encerre ali mesmo. Um lado quer Lula na cadeia, outro acha que Aécio
precisa ser julgado com urgência? Pois recorram à Justiça e parem de
encher o saco do eleitorado.
Nosso futuro
Josias de Souza (https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/),
do UOL, fez uma apavorante lista de candidatos à Presidência da
República: Lula, já condenado em segunda instância, ficha-suja,
portanto inelegível, mas que ainda tenta quebrar o galho; Geraldo
Alckmin e Rodrigo Maia, submetidos ambos a inquéritos; Michel Temer, com
duas denúncias e dois inquéritos por corrupção; Henrique Meirelles, sem
acusações, mas filiando-se agora ao PMDB, partido em que o que não
falta é inquérito; Bolsonaro, que tem casa em Brasília e recebe
auxílio-moradia assim mesmo. Fora isso, há os de sempre, como o do
aerotrem.
Se voto não fosse obrigatório, quem votaria?
Lula lá
Este
colunista acha que prisão não é a melhor punição para criminosos de
colarinho branco: o ideal seria retomar o que foi roubado, acrescido de
multa, com a proibição de trabalhar na área de atividade que desonrou.
Como disseram Carlos Lyra e Vinícius de Moraes em Maria Moita, é
por pra trabalhar gente que nunca trabalhou. Ficar sem dinheiro e
obrigados a trabalhar? Haveria gente rezando para ficar na cadeia, ala
dos estupradores.
Portanto,
o colunista não está entre os que torcem pela prisão de Lula, “para
responder às aspirações populares”. Aspirações de quem, cara-pálida? Mas
é a favor de que se cumpra a lei: se Lula, condenado a 145 meses de
prisão por lavagem de dinheiro e corrupção, em duas instâncias, com
habeas corpus já negado por nove juízes, e a pena para isso é prisão,
que seja cumprida, e que a lei, no futuro, seja modificada. Mudá-la para
agradar a Lula é coisa esquisita. Pode haver alguém que diga “é górpi”.
A imagem do juiz
Roda
Viva, com a entrevista de Sergio Moro, bateu o recorde de público da
Rede Cultura. Foram quatro pontos de audiência; no Twitter foi um dos
temas mais comentados do mundo. Moro se mostrou como é: funcionário
público qualificado, sem aspirações de salvar o país, mas pronto a fazer
sua parte, na forma da lei. Admite que erra, mas lembra que errar faz
parte da profissão, e por isso há instâncias superiores que têm poder de
corrigi-lo.
Moro saiu do programa maior do que quando entrou.
Passando nos cobres
A
família Rocha Loures (à qual pertence o cavalheiro da pizzaria e da
mala de dinheiro) colocou à venda sua empresa, a Nutrimental, fabricante
de barrinhas de cereal e fornecedora de merenda escolar. A corridinha
de Sua Excelência com uma mala de dinheiro prejudica até hoje a
reputação da empresa. A Nutrimental, segundo a família, vale R$ 1
bilhão, mas ao que se saiba até agora nenhuma negociação chegou perto
desse valor.
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