Opinião

Tiros contra a caravana de Lula e a escalada fascista: o que falta acontecer?

Na última segunda-feira, dia 26, perguntei aqui no Balaio sobre os ataques aos palanques e ônibus por onde a caravana passou nos últimos dias:
“Se a Justiça demora a prender e impedir Lula de ser candidato, querem agora eliminá-lo fisicamente para manter o poder por mais 500 anos?”
No dia seguinte, dois ônibus da caravana do ex-presidente pelo Sul foram atingidos por quatro tiros.
O atentado terrorista foi tratado pelas autoridades constituídas e por setores da mídia como uma ocorrência policial rotineira que vai ser investigada.
O que ainda falta acontecer nesta escalada fascista para que o país e seus governantes se deem conta da gravidade do que está acontecendo nesta campanha eleitoral, algo nunca visto desde a redemocratização?
“Foi um atentado. A escalada fascista escalou mais um degrau. Grupos ultradireitistas não enxergam limites (…) Vi isso num crescendo nos últimos dias. Adeptos de Bolsonaro, ruralistas, pessoas violentas que berram e xingam”, resumiu a jornalista Eleonora de Lucena em depoimento à Folha nesta quarta-feira.
Para hoje, estão previstas durante o dia manifestações dos bate paus do grupo radical MBL (ironicamente, sigla do Movimento Brasil Livre) e dos seguidores de Jair Bolsonaro, o candidato da extrema-direita, na mesma Curitiba, quartel-general da Lava Jato, aonde Lula vai encerrar a sua caravana à noite.
Depois de afirmar, logo após o atentado, que “o PT colhe o que plantou”, na mesma linha das declarações de Bolsonaro, o candidato tucano Geraldo Alckmin voltou atrás e escreveu logo cedo no twitter:
“Toda forma de violência tem que ser condenada (…) O país está cansado de divisão e da convocação ao conflito”.
Pode ser tarde demais. Pressionado por estar bem atrás do incendiário Bolsonaro nas pesquisas eleitorais, até o pacato governador Alckmin saiu dos seus confortos para aderir à retórica radical do olho por olho, dente por dente.
E a campanha ainda nem começou para valer, dando uma ideia do que nos espera daqui para a frente, a seis meses das eleições.
“Com fascismo não se brinca”, reagiu o pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, ao propor uma união dos partidos de esquerda em defesa da democracia.
No Congresso Nacional, em plena Semana Santa, a batalha verbal também subiu de tom como se pode constatar neste confronto entre dois senadores.
“O clima que mergulhou o país no obscurantismo foi fomentado por essa mesma direita que derrubou Dilma. O estímulo ao ódio e à agressão fez alguns mostrarem sua face mais perversa (Humberto Costa, do PT de Pernambuco).
“Não é com agressão que criaremos um ambiente civilizatório para a nossa democracia. Não posso ouvir calado que tudo que está acontecendo é culpa daqueles que votaram a favor do impeachment” (Cássio Cunha Lima, do PSDB da Paraíba).
Passado o feriadão, novo enfrentamento já está previsto para a quarta-feira, 4 de abril, quando o Supremo Tribunal Federal deve finalmente decidir sobre o pedido de habeas corpus de Lula.
Associações de classe já estão convocando ruralistas de todo o país para protestar neste dia em frente ao STF, onde deverão se concentrar também os defensores do ex-presidente.
Na passagem da caravana de Lula pelos estados do Sul, já tivemos uma amostra do que são capazes estes grandes fazendeiros chamados bucolicamente de ruralistas, que formam a mais poderosa coalizão da Câmara.
Também chamados de “bancada do boi”, que costuma se aliar às bancadas “da bala” e “da bíblia”, formando a santa aliança conservadora “BBB”, estes patriotas querem aproveitar para arrancar do governo a anistia total às suas dívidas vencidas do Funrural.
Eles no momento se dividem entre Bolsonaro Alckmin, Meirelles, Temer, Maia e agora também o empresário Flávio Rocha, o dono da Riachuelo, que lançou ontem sua candidatura pelo PRB da Igreja Universal, e têm um inimigo comum: Lula.
Qualquer que seja a decisão do STF sobre a prisão após condenação em segunda instância, teme-se pelas reações populares de um dos dois lados em que o país está dividido desde as eleições de 2014.
Pelo andar da carruagem, a campanha eleitoral de 2018 pode não ser decidida só nos tribunais, mas em batalhas campais, com direito a tiros, sem a intermediação de lideranças capazes de moderar o conflito.
Por onde anda a chamada sociedade civil que, em 1984, tendo à frente OAB, CNBB e ABI, devolveu o país à democracia?
Talvez seja o caso de deixar de sobreaviso as tropas da ONU para evitar o pior.
O que falta ainda?, é o que todos se perguntam nestes dias tenebrosos de ódio e intolerância.
Vida que segue.

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