Opinião
2018, UM ANO CLARAMENTE ESCURO
Coluna Carlos Brickmann
- EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 31 DE DEZEMBRO DE 2017 -
O
presidente Michel Temer, usando sem parar a máquina do Governo,
prometendo ampliar ainda mais as vantagens oferecidas a quem o apoia,
mantendo-se ao lado de cavalheiros amplamente conhecidos como Romero
Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco, atraindo para seu grupo mais
pessoas vocacionadas para integrá-lo, como o deputado Carlos Marun, tem o
apoiode 6% do eleitorado – um número como o ostentado, veja só, por
Dilma. Por que usar maneiras tão discutíveis de fazer política, para ter
resultados tão frustrantes? Por que, com tão pouco apoio, ensaia tentar
a reeleição?
Simples:
porque a primeira obrigação de um político é sobreviver. Vale tudo,
portanto, para manter-se no cargo, mesmo tendo de chamar de Vossa
Excelência alguns cavalheiros que só agora aprenderam a usar talheres às
refeições (e a devolvê-los no final do banquete). Sobreviver não quer
dizer que continue dando as ordens – que essas, mesmo em seus melhores
tempos, dava em voz tão baixa que o gravador de Joesley não pôde
captá-las direito.
Sobreviver
significa ficar livre de juízes de primeira instância, como Sérgio
Moro. Tentar a reeleição segue a mesma lógica: findo o mandato, Temer
perde o foro privilegiado e cai nas mãos dos juízes de primeira
instância, como Moro. Temer só não tentará a reeleição se houver um
acordo que lhe garanta foro privilegiado ou indulto. Sem isso, não
perguntem a Temer se prefere o demônio ou Moro. E se ele responde?
Perdão demais
Indulto
é decisão privativa do presidente da República. O Supremo não deveria
se intrometer no assunto, mas se intrometeu (e, cá entre nós, foi bom). O
presidente decide, mas decidir aumentando ainda mais as regalias dos
delatores é meio muito. Pense num dedo-duro bem safado, que trocou
amigos e cúmplices por uma pena que é quase um prêmio. Ganharia mais um
prêmio, ficando livre de cumprir outro pedaço daquela pena de mentirinha
com a qual foi premiado, e sem pagar multa nenhuma? Dá inveja dos
bandidos que roubam o Tesouro e, sem dó, entregam até a mãe.
Temer,
mestre de Constituição, sabe que foi além do razoável. Se sabe, por que
fez? Para indicar a aliados que, se apanhados, terão apoio, pois alguém
lá em cima gosta deles. Que sigam votando com Temer. A arma de Temer
para a reeleição é a economia. Se tudo der certo e ele ficar, será bom
para o bando todo. Bando, claro, no bom sentido; é sinônimo de “grupo”.
É isso aí
Por
falar em Carlos Marun, uma pessoa nova no grupo sempre é alguém que
ainda não se acostumou a narrar os fatos da maneira que agrade os
companheiros. Pois não é que Marun, agora ministro da Secretaria de
Governo, acaba de admitir que está pedindo apoio à reforma da
Previdência especialmente para quem recebe recursos oficiais?
“Não
vamos abrir mão de pleitear o apoio dos agentes públicos brasileiros e,
especialmente, daqueles beneficiados por ações do Governo”, disse. Ou,
em linguagem menos rebuscada, é recebendo que se dá. É bom aproveitar a
verdade antes que o ministro Marun aprenda a dizê-la.
O golpe e “o górpi”
O
governo da Venezuela expulsou o embaixador brasileiro, por “representar
um Governo de extrema direita” – na linguagem petista, “o górpi”. As
coisas estão agora mais claras: a Venezuela está entre os quatro países
bolivarianos que pegaram dinheiro do BNDES para realizar obras e, agora,
dão o golpe no credor, não pagando as prestações. Segundo a Operação
Lava Jato, há nesses empréstimos, com os quais seriam pagos os serviços
de empreiteiras brasileiras, farto superfaturamento, que em parte voltou
ao Brasil para pessoas bem relacionadas.
Maduro
falou mal do Brasil, do Canadá (que também expulsou diplomatas
venezuelanos) e de Portugal (ver nota abaixo). Mas a crise que a
Venezuela procura para ter um inimigo externo e abafar a crise interna é
com outro país: a Guiana. Tão logo o vizinho descobriu petróleo na
fronteira com a Venezuela, Maduro passou a reivindicar a região. Tenta
intimidar o vizinho com os jatos Sukhoi que comprou da Rússia. Não vai
adiantar: a Guiana tem o apoio de Brasil e Colômbia. E os Sukhoi são
caças ótimos mas não voam sozinhos.
A Guerra do Pernil
O
presidente venezuelano Nicolás Maduro está também em crise com
Portugal. Prometeu distribuir pernis de porco neste fim de ano a todas
as famílias venezuelanas, encomendou o produto a Portugal e só se
esqueceu de pagar a conta – deste ano e do ano passado. Os exportadores
portugueses suspenderam a operação, e Maduro acusa o Governo português
de sabotar o socialismo venezuelano por ordem, claro, dos Estados
Unidos.
O
curioso é que o Governo português, como o brasileiro, não exporta carne
nenhuma: quem exporta são as empresas produtoras. E todas têm o vicio
capitalista, neoliberal e pequeno burguês de exigir o pagamento.
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