THE BLACK MASK DA LADROEIRA
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 26 DE NOVEMBRO DE 2017
Já que falar estrangeiro no dia a dia parece estar no rigor da moda, tratemos em inglês da Black Week: que roubada, de ponta a ponta! A Black Week do Brasil foi copiada dos gringos. Só se esqueceram dos descontos.
A
ideia, os objetivos (de vender mais entre o Dia da Criança e o Natal), a
propaganda, é tudo igual. Mas, nos Estados Unidos e Europa, liquida-se
de verdade; aqui, como mostraram a Folha e O Globo, os
preços sobem antes para dar a impressão de que houve desconto. Em
outras palavras, os preços da Black Week são a metade do dobro. Há
ocasiões em que o preço parece ter caído; mas confira o frete, que subiu
e muito.
E
aí surge a segunda roubada, a dos cartões, que supostamente parcelam o
valor da compra. Só que não é bem assim: o cliente só tem a compra
aprovada se dispuser no cartão do valor somado de todas as parcelas. O
cartão pode parcelar uma bicicleta em duzentas prestações, sem risco: se
o cliente não tiver no cartão o suficiente para pagá-las todas, a
compra não é aprovada. Não é muito diferente de pagar a vista, em cheque
ou dinheiro: só que, em vez de seu dinheiro liquidar a conta na hora, e
de o caro leitor trocar seu saldo por um produto, o dinheiro fica
bloqueado no cartão e não pode ser usado até que a conta inteira seja
paga com seus próprios recursos.
E
não acredite em “sem juros”. Os juros estão embutidos no preço. Banco
não é entidade de benemerência. Sem jurinho não tem negócio.
No freshness
Alguém
poderia nos dizer por que Black Week, e não Semana Negra? A ideia é
evitar conotações de discriminação? Nesse caso, usa-se o inglês por
achar que o cliente, sem conhecê-lo, não entende o significado do nome.
Pode ser; mas por que Liquidação é chamada de “Sale”, ou “Off”?
O Rio, quebrando mais
Os
dirigentes cariocas ainda não acham que o Rio já esteja sufocado: a
Câmara de Vereadores (antigamente conhecida como ”Gaiola de Ouro”)
aprovou, por 40 votos a 1, o retorno dos cobradores aos ônibus da
cidade. A proposta foi de dois vereadores, do PT e PTB. Só que o
cobrador tem salário, que aumenta as despesas dos ônibus; e não têm
serviço. Em São Paulo, só 7% dos passageiros pagam a passagem em
dinheiro. Cobrador hoje dorme, ou mexe no celular. Sua atividade é tão
essencial quanto a de ascensorista. Mas quem paga o ascensorista, quando
há, é o condomínio, não uma cidade com economia quebrada, capital de um
Estado quebrado.
Quem é quem
Dos
sete governadores eleitos do Rio desde 1982, três estão presos, todos
por corrupção: Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral (dois
mandatos). O governador atual, Pezão (suspeito de receber doações
irregulares da Odebrecht) e Moreira Franco (Quadrilhão do PMDB), eleito
entre os dois mandatos de Brizola, têm problemas com a Justiça. Moreira
virou ministro para ter foro especial –a manobra que Dilma tentou com
Lula e não deu certo. Brizola e Marcelo Alencar morreram. Qual Estado
aguenta vinte e tantos anos sendo sugado?
Fora, Kátia
A
senadora Kátia Abreu, Tocantins, foi expulsa do PMDB por infidelidade
partidária. Kátia é do ramo: dirigia a Confederação Nacional da
Agricultura, ferozmente antipetista, e era do DEM. Saiu do DEM para o
PSD de Kassab; e, logo em seguida, saiu do PSD para o PMDB. De repente,
virou ministra de Dilma e sua amiga de infância, e aliada do PT. Contra a
posição do partido a que pertencia, rejeitou o impeachment e vota
sistematicamente contra as reformas propostas pelo Governo do PMDB.
Daqui a pouco, fora Requião
O
senador paranaense Roberto Requião deve ser o próximo alvo do Conselho
de Ética do PMDB (sim, existe – e ainda bem, que Requião, como Kátia,
está aliado ao PT para votar contra as propostas de Temer). Requião
ameaça “soltar os cachorros” contra Romero Jucá, presidente do PMDB.
Bobagem: Jucá está habituado a alimentar-se de cães ferozes.
Pode ser... mas Renan?
Há
quem aposte que Renan Calheiros, que vem liderando a oposição a Temer,
pode entrar na lista dos expulsos. Este colunista não acredita: Renan
vem há anos fazendo o que quer e escapando de punições.
E Marun?
Pior
que os que foram e serão afastados do PMDB é um peemedebista do Mato
Grosso do Sul, Carlos Marun, ex-Eduardo Cunha, hoje Temer. Marun diz que
as denúncias contra Temer deixaram os deputados “um pouco fatigados”, e
que não vê disposição para votar a reforma da Previdência. O que ele
não diz é como ligar esses parlamentares: nomeá-lo para o Ministério do
Governo, no lugar do tucano Antônio Imbassahy. Ali nunca faltam mimos
para distribuir a aliados pouco dispostos a trabalhar.
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