De "vampiro" a "zumbi".

Temer vira "presidente zumbi", diz cientista político ao Le Monde

media Governo Temer está na corda bamba, diz Le Monde REUTERS/Adriano Machado
O jornal Le Monde desta quinta-feira (15) destaca em seu site as denúncias de Claudio Melo Filho, confirmadas por Marcelo Odebrecht, que provam o envolvimento de vários caciques do governo e do próprio presidente interino no esquema de corrupção da operação Lava Jato. Temer foi citado 43 vezes na delação de Melo Filho.
O jornal Le Monde descreve a cena no palácio do Jaburu, em maio de 2014, pouco antes da campanha presidencial. Michel Temer, então vice-presidente, “mestre de intrigas parlamentares”, diz o jornal, se dirige à Marcelo Odebrecht, herdeiro do grupo, e diz que precisa de R$ 10 milhões. Um roteiro, diz o Monde, digno do filme “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola.
“Foi o primeiro episódio de uma série de 70 confissões na chamada delação premiada, em troca de uma diminuição das penas dos dirigentes e executivos da Odebrecht”, descreve o texto do Le Monde, que cita o quadro Excel do departamento de propinas da empreiteira, onde cada político beneficiado tem um apelido, como Caranguejo ("crabe" em francês), nome atribuído ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, ou Boca Mole ("Bouche Molle").
RFI
O jornal lembra a demissão de José Yunes, assessor especial da presidência, suspeito de ter recebido em seu escritório em São Paulo uma parte dos R$ 10 milhões. Para o Le Monde, a corrupção dos dirigentes políticos brasileiros não é um mistério, mas o caso acaba com a retórica reinante de que o PT é o principal protagonista dos esquemas de corrupção e o ex-presidente Lula o ator principal da perversão do mundo político. “Uma parte dos brasileiros imaginava que o impeachment permitiria ao Brasil virar a página de uma crise política, econômica e moral. Só que não.”
Saída de Temer vira hipótese viável
Para o jornal francês, a saída de Temer se tornou uma hipótese viável. De acordo com uma pesquisa da Datafolha, 63% dos brasileiros pedem sua demissão e a convocação de eleições antecipadas. Para isso, ele deve deixar o poder ou ser cassado – mas o Congresso já barrou a emenda que permitiria sua saída. Ele não parece disposto a sair por conta própria. Pouco a pouco, viabiliza reformas impopulares, como a PEC 241, que limita os gastos do Estado por 20 anos. Um voto, lembra o Le Monde, que valeu um elogio do presidente americano eleito, Donald Trump.
Para o politólogo Mathias de Alencastro, Temer se tornou um “presidente zumbi”. Se Temer deixar a presidência depois de janeiro de 2017, haverá a organização de eleições indiretas no Congresso, com candidatos potenciais como Nelson Jobim, ex-ministro da Defesa de Lula e Dilma ou Fernando Cardoso, que desmentiu a candidatura.
Uma possibilidade que não entusiasma a oposição, já que um terço da Casa está envolvida em esquemas de fraude.
Rua continuará muda?
“Seria o golpe de Estado do golpe de Estado”, diz Jean Wyllys (PSOL). A pressão então é para mudar a Constituição e convocar eleições antecipadas. Para o Le Monde, as recentes denúncias são “o início da descida aos infernos para o septuagenário”. O caso Renan Calheiros, mantido na presidência do Senado, depois do Supremo Tribunal Federal voltar atrás na decisão, assinalou a morte anunciada de Michel Temer, diz o jornal, demonstrando como o governo e a democracia são frágeis.
O Le Monde encerra a reportagem questionando se a rua “continuará muda” diante dos escândalos que se sucedem. “Os simpatizantes de direita se manifestam de maneira esporádica contra a corrupção. Os de esquerda protestam contra as reformas e a austeridade. Brasília tem tremedeira pensando que os dois movimentos se unam um dia contra um inimigo comum: Michel Temer.”

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