Com todo respeito; é preciso conhecer um pouco de história pra não ficar falando asneira pela aí.
Dirigentes de partidos de oposição, sobretudo do PSDB e do DEM,
defendem hoje levar adiante um pedido de impeachment contra a presidente
Dilma Rousseff (PT).
Há 16 anos, deu-se uma cena muito parecida
no plenário da Câmara. Mas os papéis eram invertidos em relação ao que
se dá agora, em 2015.
No começo de 1999, era o PT quem trabalhava
pela saída do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Meses
antes, em outubro de 1998, Fernando Henrique havia sido reeleito
derrotando Lula (PT) e Ciro Gomes (então filiado ao PPS). O tucano
saiu-se vitorioso no 1º turno, com 53,06% dos votos.
Meses depois
da posse de FHC para seu 2º mandato foram apresentados 4 pedidos de
impeachment. O então presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), mandou
todos para o arquivo. O primeiro pedido de impedimento havia sido
formulado pelo então deputado Milton Temer (que era filiado ao PT), em
29.abr.1999. Quando o requerimento foi arquivado, a oposição recorreu ao
plenário.
É exatamente essa a estratégia da oposição no momento:
esperar que o atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
arquive um pedido de impeachment com alguma consistência. Em seguida,
haverá um recurso ao plenário –este post descreve em detalhes a estratégia.
O
Blog foi até os arquivos da Câmara e recuperou as imagens produzidas na
sessão em que os deputados votaram o recurso da oposição há 16 anos.
Foi na noite de 18.mai.1999. Depois de 1 hora e 42 minutos de discussão,
o governo sepultou o pedido por 342 votos a 100. Houve 3 deputados que
se abstiveram. Saiba aqui como cada deputado votou naquela ocasião. A apuração é do repórter do UOL André Shalders.
No
pedido de 1999, Milton Temer acusava Fernando Henrique de ter cometido
crimes de responsabilidade durante a execução do Programa de Estímulo à
Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional, o Proer. O programa foi
iniciado em 1995, no primeiro mandato de FHC. Havia também a acusação
–negada pelo tucano– de que o Planalto teria constrangido o Ministério
Público e outros órgãos durante a investigação do que havia se passado.
Fernando
Henrique também enfrentava baixas taxas de popularidade, decorrentes de
dificuldades na economia e dos efeitos da desvalorização do real
ocorrida no começo do 2º mandato. Em setembro de 1999, a aprovação do governo de FHC caiu a 13%.
Os
argumentos usados pela oposição em 1999 eram semelhantes aos usados
hoje pelo grupo que deseja a queda de Dilma Rousseff. “E não venham
dizer que a oposição quer apenas fazer a denúncia. Nós estamos com
propostas, estamos com alternativas. Mas a oposição tem o dever de dizer
a outro poder (o Executivo) que não pode exercê-lo de maneira
absoluta'', dizia José Genoíno, então deputado.
Aécio Neves
(PSDB-MG), então líder da bancada tucana na Câmara (e hoje na oposição),
pediu em 1999 ao grupo anti-FHC que trabalhasse para “assegurar a
democracia''. Aécio acusou o PT de não aceitar o resultado das eleições.
Exatamente como faz hoje o PT.
“Na verdade, o que presumo é que
existe ainda uma frustração enorme na alma e no peito desses ilustres
parlamentares [da oposição], que não concordam ou não aceitam a
deliberação majoritária da sociedade brasileira'', disse Aécio na
ocasião.
Essa frase de Aécio é muito parecida à usada neste ano de
2015 pelos dilmistas. “Parece que o senador Aécio perdeu em 2014 e
agora não aceita mais derrota'', disse em fevereiro o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
Além
das supostas irregularidades, a oposição acusava FHC de ter cometido
“estelionato eleitoral'' e de ter tentado impedir as investigações em
curso no Ministério Público Federal (MPF) e na chamada “CPI dos
Bancos''. Dias antes, FHC havia criticado a Polícia Federal e o MPF por
terem realizado uma operação de busca e apreensão na casa do então
presidente do Banco Central, Francisco Lopes.
“Não vamos discutir
aqui o estelionato eleitoral de Fernando Henrique Cardoso, ao prometer
um 2º mandato de crescimento e criação de empregos, ao tempo em que
negociava com o Fundo Monetário Internacional a política de recessão em
que nos encontramos'', disse Milton Temer.
Na propaganda partidária
divulgada nesta 2ª feira (28.set.2015), é o próprio FHC quem acusa os
petistas de “estlionato eleitoral''. Segundo ele, o PT prometeu “o céu''
ao povo, e “não teve a competência para gerir a economia. E hoje
oferece o inferno da crise e do desemprego''.
É do Fernando Rodrigues.
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