Opinião

Terapeuta bovino
Geraldo Duarte*

Nas contações de histórias, tempo houve em que os animais falavam. Chegavam a raciocinar e ofertavam à humanidade exemplos éticos. La Fontaine fabulou e, neles, exemplou com a arte do correr da pena.

Hoje, ante as aberrações de caracteres de homens, talvez, aquela fauna literária perdesse a visão, a audição e a voz.

Mas, aqui, o papear atém-se à percepção dos bovinos.

Anos cinquenta. Arredores possuíam vacarias. Onde morávamos, quatro destacavam-se. As do Zé Augusto, do Rochinha, do Mariano e do Tâna.

Vacas e touros pertenciam às raças nelore, guzerá e gir, sendo alegado que as desta última, comumente, retinham o leite durante a ordenha, mesmo com a presença da cria e o zelo do tratador. Por vezes, passavam dias produzindo pouco e chegando, até, a impedir que o bezerro mamasse.

À época, a problemática restringia-se na busca de soluções empíricas. Inexistiam profissionais da ciência veterinária disponíveis.

Dito popular de então demonstrava ser conhecido o fato. Quando alguém se furtava a fazer ou encobria algo, recebia o refrão: “Está como vaca gir, quanto mais se alisa, mais esconde o leite.”.

Como tudo sempre tem jeito, Tâna fez-se solucionador. Ao verificar que leiteira sua diminuía o desempenho, levava-a a local isolado do curral e passava momentos dirigindo-lhe falação ao pé da orelha. Não se sabia o que dizia, nem ele comentava a respeito.

Certos da solução do problema, os colegas socorriam-se do “terapeuta bovino”.

Aos personagens, agora moradores do Oriente Eterno, partícipes da formação do bairro Demócrito Rocha, nossa homenagem, extensiva aos seus familiares, ali residentes.
                                 
                                  *Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.

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