É muita gente torcendo contra


Dólar pode subir até 10% em 2015 com falta de água e energia
Para analistas, falta de água e risco de racionamento de energia elétrica terão grande impacto sobre a inflação e atividade econômica, o que deve afetar a taxa de câmbio
Represa hidrelétrica Foto JF Diorio Estadão
Analistas da Focus projetam um dólar cotado a R$ 2,80 no fim de 2015, inflação de 6,99% e um crescimento de apenas 0,13% do PIB. Mas, um anúncio oficial de racionamento de água e de energia elétrica poderá piorar essas projeções (Foto: JF Diorio/Estadão)
O dólar acumula uma perda de 2,45% frente ao real em janeiro, cotado a R$, 2,5900 por volta das 11h08 desta terça-feira, 27, mas o bom comportamento da moeda americana deve durar pouco, segundo analistas.
No dia 22 deste mês, o dólar atingiu a cotação mínima em janeiro, cotado a R$ 2,5570, perda influenciada pelo choque de confiança no mercado das medidas de ajuste fiscal anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Mas essa melhora de humor com a guinada na política econômica é suficiente para manter o desempenho da moeda brasileira?
Com o crescente risco de desabastecimento de água para indústrias e agricultores e a maior probabilidade de apagões e de racionamento de energia elétrica, o dólar deve voltar a subir em relação à moeda brasileira.
E a alta do dólar pode ser maior dependendo dos efeitos sobre a economia brasileira das investigações da Operação Lava Jato, que têm afetado as atividades de várias empreiteiras e outras empresas que prestam serviços à Petrobras.
Há estrategista de câmbio no Brasil projetando uma alta do dólar entre 5% e 10% em relação ao real se governos estaduais e federal anunciarem medidas de racionamento de água e de energia elétrica, em razão do impacto que a restrição no abastecimento de água e eletricidade teria sobre os preços de produtos e serviços.
No meio dessa equação, com peso preponderante, há a expectativa de sinalização por parte do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, de quando começará a subir a taxa de juros nos Estados Unidos.
Nesta quarta-feira (28), o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed anuncia a sua decisão da reunião de política monetária. O consenso dos analistas é que o Fed manterá os juros inalterados e não deve fazer qualquer sinalização sobre o início do aperto monetário nos EUA no comunicado que acompanha a decisão.
Os investidores, que chegaram a apostar na primeira alta de juros na reunião do Fomc em junho, agora começaram a postergar tal estimativa para o encontro de política monetária do Fed de setembro, principalmente por conta dos efeitos desinflacionários da queda dos preços de várias commodities.
“O dólar poderá ser negociado aos níveis atuais por mais duas semanas se o ‘status quo’ for mantido: a precificação de uma elevação mais tardia (quarto trimestre de 2015) dos juros pelo Fed em meio a um cenário global de expansão monetária, onde o real se destaca atraindo fluxos de capital por elevadas taxas de juros no Brasil”, disse um estrategista de câmbio nos Estados Unidos.
Mas o cenário dele é de que o real vai se desvalorizar significativamente ao longo de 2015, chegando ao final deste ano cotado a R$ 3.
Além do Fed, “cuja sinalização é o fator de maior peso no mercado”, os efeitos sobre os investimentos e a atividade econômica das investigações da Operação Lava Jato terão um impacto importante sobre o câmbio no Brasil.
“No meu cenário para a taxa de câmbio em 2015, eu dou relevância aos riscos materiais do escândalo envolvendo a Petrobras contaminando os mercados financeiros e a atividade econômica”, explicou o estrategista. Para ele, o racionamento de energia elétrica é outro risco a ser monitorado.
“Num regime de câmbio flutuante, um choque negativo de oferta tende a desvalorizar a moeda local, mas eu não vejo o Banco Central brasileiro ficando de lado num cenário como esse”, argumentou a fonte acima. “Assim, eu atribuiria uma alta probabilidade de o BC aumentar a sua intervenção no mercado cambial numa situação de racionamento de energia e/ou efeitos da Operação Lava Jato, impedindo, portanto, um ajuste mais brusco de preços relativos.”
Só para lembrar, no dia 30 de dezembro passado, o BC renovou o programa de leilões de swap cambial até 31 de março de 2015, mas reduziu a chamada “ração diária” desses contratos ofertados ao mercado de US$ 200 milhões para US$ 100 milhões. Os leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) seguirão sendo realizados conforme as condições de liquidez do mercado de câmbio.
Um investidor brasileiro disse que se o dólar bater R$ 2,50, o BC deve parar ou reduzir a oferta da ração diária.
Já um estrategista de câmbio brasileiro, que trabalha numa importante instituição financeira de São Paulo, disse acreditar que o Banco Central pode caminhar para reduzir ou eventualmente eliminar a injeção da colocação marginal – “a ração diária” – de hedge cambial via os contratos de swaps, mas mantendo a rolagem do estoque.
“A nova equipe econômica tem repetido o discurso de diminuir a intervenção no mercado de câmbio,” argumento a fonte acima. Mas ele faz uma ressalva: “Isso vai depender de o dólar continuar no patamar atual frente ao dólar.”
O problema, disse o estrategista paulista, é que no curto prazo se o racionamento de água ou de energia elétrica entrar no radar dos analistas e dos investidores, o dólar vai voltar a subir.
“Um racionamento teria um impacto importante na inflação e na atividade econômica”, explicou ele. “O problema de restrição de abastecimento de água em São Paulo vem antes, daí o mercado começará a embutir nos seus cálculos os efeitos de um racionamento de energia elétrica.”
Para ele, o dólar pode subir entre 5% e 10% como reflexo de uma adoção de racionamento de água ou de energia elétrica.
Por enquanto, os analistas da pesquisa semanal Focus, do BC, projetam um dólar cotado a R$ 2,80 no fim de 2015, enquanto a estimam uma inflação de 6,99% neste ano e um crescimento de apenas 0,13% do Produto Interno Bruto (PIB). Todavia, um anúncio oficial de racionamento de água e de energia elétrica poderá piorar essas projeções. (AE)

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