Natal e morte na favela da Praça do Ferreira

Morador de rua morre na Praça do Ferreira
No final da tarde de ontem, um morador de rua conhecido por Valdir morreu à espera de atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192), na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza. Ele tinha um corte na perna e, aparentemente, estava com hemorragia.
No protocolo de atendimento, a triagem classifica a chamada como urgência e emergência, determinando, assim, a prioridade da solicitação. Uma equipe atendeu Valdir por volta das 16 horas de ontem, porém, o paciente, segundo o Samu, negou-se a seguir para o hospital. Horas depois, ao receber o chamado para a mesma pessoa, o atendimento explicou que não poderia levá-lo à força.

O CASO
O caso chamou a atenção de duas mulheres que passavam pela praça, Juliana Carlos da Silva, que é técnica de enfermagem e de saúde bucal, e Lena Lima, que é estudante do curso técnico de enfermagem do Senac. Elas fizeram os primeiros socorros e ligaram para o serviço pedindo uma ambulância. Ao todo, afirmam as mulheres, 1h30min de espera até o falecimento de Valdir.  O fato comoveu quem passava próximo.
“Prendemos a perna dele para estancar o sangue, mas só para esperar a chegada de atendimento. Ligamos para o Samu, e eles disseram que não poderiam enviar ambulância, pois o Seu Valdir estava se recusando a ir ao hospital e que não poderiam levá-lo à força. Infelizmente a perna dele já estava necrosada, com ‘tapurus’, mas ele tinha medo que a perna dele fosse amputada. Mas pelo que eu sei, pessoas a partir de 65 anos têm que ser levadas, independente de a pessoa querer ou não”, relatou Juliana.
Lena contou que ele tinha distúrbios mentais e que informou o atendente do Samu sobre o fato, para que o serviço enviasse uma ambulância apropriada para este tipo de atendimento. Contudo, Lena afirma que o Samu respondeuque não podia fazer nada. “Uma hora da tarde passei e o vi deitado no sol quente. Dei água, e ele bebeu. Conversei com ele, e disse-me que era de Russas e que veio para Fortaleza para tratar da ferida. Mas ele disse que tinha medo de hospital. Naquele momento, já vi que a ferida estava grave e que ele precisava de uma ajuda urgente, mesmo sem estar perdendo sangue naquele momento”.  
A estudante então ligou para o serviço que chegou às 16 horas. Porém, Valdir negou o atendimento dos médicos que foram embora. “Depois disso, quando voltei no final da tarde, vi que ele já estava sangrando, foi quando resolvemos estancar e pedir ajuda novamente. Mas, demorou muito, ele perdeu uma quantidade de sangue muito grande, ficou com respiração fraca e acabou falecendo. É muito triste, pois fizemos de tudo, e ele tinha condições de sobreviver; só morreu por conta do sistema que não ajudou”, declarou Lena, emocionada.
Assim como Lena e Juliana, várias pessoas que estavam no local e presenciaram o fato também ligaram para o Samu.  O operador de máquina Francisco de Assis, 49 anos, disse que ligou seis vezes para o Samu. “Fiquei comovido com o que eu vi, mas estou revoltado com a demora de atendimento do Samu. No telefone me disseram que ele não queria ser levado para o hospital, mas esse foi um caso de vida ou morte. Eles deviam ter vindo pelo menos para fazer os atendimentos aqui na praça como as duas mulheres fizeram como ele. É triste, pois, apesar de ser um morador de rua, era um ser humano”, lamentou Assis.

SAMU
O gerente do Samu, Felipe Soares, explicou que foi enviada uma ambulância para atender o morador de rua na primeira chamada, mas que o paciente tinha negado o atendimento. “Ele estava consciente e não quis ir ao hospital, chegou a ser agressivo com a equipe. Se ele nega, é antiético leva-lo à força”, reiterou, afirmando também que o caso não se encaixava como uma urgência psiquiátrica, pelo fato de o paciente não estar agredindo ninguém e nem a ele mesmo. “Só o fato de o paciente ter distúrbios mentais não caracteriza a precisão de ambulância”.
 “No segundo momento, repassaram que o homem estava com os mesmos sintomas que descreveram quando nos ligaram a primeira vez. Disseram que era uma lesão e que ele estava consciente, ainda negando atendimento, o que significa que o caso não era tão grave quanto de outros chamados que recebemos como atropelamentos, lesões a bala e AVCs. Isso não significa que ele não vai ser atendido, mas apenas que outros vão ser atendidos com mais rapidez. Não disseram que ele estava com hemorragia. Como já sabíamos do caso e o paciente tinha negado atendimento, foi classificado como um caso de menos urgência. Somente no momento em que ligaram e disseram que o homem estava inconsciente e com suspeita de óbito classificamos com a devida gravidade”, esclareceu Soares.
 Soares alerta sobre a importância das informações que são repassadas ao médico regulador que atende as ligações. “É importante a maneira de repassar os dados solicitados. Tudo depende dessas informações. Pelo que apurei, o solicitante não informou que ele estava em estado hemorrágico”, afirmou. O gerente do Samu disse, ainda, que vai apurar o caso e pedir para ouvir as gravações das ligações.

 
“Natal de Luz” abre com Fagner

Começa hoje, a partir das 17 horas, o 18o “Ceará Natal de Luz 2014”, na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza. Dentre as atrações, está a chegada do Papai Noel, a apresentação da Camerata Unifor, a apresentação do coral e o show do cantor cearense Raimundo Fagner. Um palco foi montado na praça para receber as atrações. A expectativa dos organizadores é a presença de 80 mil pessoas.
 O tema do evento deste ano é “O Natal dos Reis”. O “Ceará Natal de Luz” é uma realização da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza. No local, além das atrações, os visitantes poderão ainda ver a árvore de tecido branco de 24 metros de altura montada na Praça. Este ano, a Coluna da Hora também recebeu uma decoração diferenciada e tocará canções natalinas 9h, 12h, 15h, 17h, 18h e 21h nos dias do evento.

CORAL
Durante 15 dias, 130 crianças e adolescentes irão apresentar hinos e cânticos natalinos na sacada do Hotel Excelsior. O coro infanto juvenil é formado pela junção de dois corais: o Coral Ângelus composto por 30 crianças e o Coral Joias de Cristo composto por cem crianças da Associação Nossa Casa Mãe África, sob a regência da maestrina Socorro Raulino e coordenação musical do maestro Poty. A Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) controlará o tráfego no entorno da Praça do Ferreira. Um efetivo de 18 agentes será disponibilizado para essa operação, sendo seis em cada turno.

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