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Cartas de Reykjavík, Islândia: Aqui não existe "com licença" ou "desculpe"

Talvez por estarem tão acostumados a tanto espaço, os islandeses não saibam como se manobra quando se encontra outra pessoa no caminho.
Uma conhecida perguntou se eu responderia um questionário. A amiga dela estava procurando estrangeiros que topassem falar sobre o processo de adaptação na Islândia, parte de uma pesquisa para o seu mestrado em recursos humanos.
O questionário acabou sendo uma conversa, daquelas interessantes em que se aprende coisas variadas.
Quando ela perguntou qual foi a primeira coisa que notei da cultura islandesa, respondi que me surpreendeu o fato de ninguém falar “com licença” ou se desculpar se por acaso te trombam na rua. Contei que algumas semanas após chegar, perguntei a um amigo americano que já mora na Islândia há mais de 10 anos como se diz “me desculpe” em islandês e ele respondeu que eu não precisava aprender isso pois ninguém faz uso do termo.
Em média, há 3 pessoas para cada quilômetro quadrado na Islândia, o que faz do país muito pouco povoado. Mesmo na capital, onde temos dois terços da população do país, é possível se encontrar completamente só na principal rua da cidade em pleno horário do rush.
Talvez por estarem tão acostumados a tanto espaço, os islandeses não saibam como se manobra quando se encontra outra pessoa no caminho, e menos ainda quando se está em uma multidão. É empurrão pra lá e pra cá, mas o curioso é que não há malícia alguma no ato; é apenas o jeito de se navegar: tirar os outros da frente.
Mas ao mesmo tempo em que essa rudeza parece ser generalizada, os islandeses são muito mais amigáveis do que eu tinha imaginado. Nada da frieza que se imagina dos nórdicos. Descobri um povo muito acolhedor, receptivo e aberto.
Os islandeses também são extremamente liberais. Não é a toa que o primeiro líder mundial assumidamente gay veio daqui. Em 2009, a lésbica Jóhanna Sigurðardóttir virou primeiro-ministro da Islândia, se casando com sua parceira no ano seguinte.
É também um povo culto. A Islândia tem uma taxa de alfabetização de 100% e um dos maiores índices per capita de vendas de livros no mundo. Conheci um islandês que trabalha como entregador de jornal e ao contrário do que se imaginaria no Brasil, que seria alguém com pouco estudo, todos os estereótipos foram por água abaixo. Escolheu essa profissão simplesmente porque prefere o horário de trabalho na madrugada e, assim, pode ficar com a filha bebê o resto do tempo.
Há também uma forte cultura do faça-você-mesmo. Acho que por isso tantos islandeses – homens e mulheres – tem como hobby algo em que se cria, seja nas artes visuais, na escrita, música, costura ou confecção de malhas.
A conversa rendeu muitos outros pontos de diferença cultural. Basicamente, os islandeses são muito interessantes, nórdicos durões que conseguem sobreviver a longos invernos frios e escuros nessa rocha implacável repleta de vulcões e geleiras, e mesmo assim conseguem estar entre os dez povos mais felizes do mundo.
Islândia (Foto: Arquivo Google)
  Por Beatriz Portugal para o Ricardo Noblat.

Por favor - No Brasil, pedindo desculpa e com licença, pois isso poderá evitar você levar um tiro na cabeça.

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