Opinião

Dilma movimenta as peças no tabuleiro do PMDB

Presidente terá uma nova relação com o partido aliado

A votação da MP dos Portos na Câmara dos Deputados e no Senado serviu para marcar uma nova relação da presidente Dilma Rousseff com o PMDB, seu principal parceiro no Congresso. Enquanto algumas lideranças aumentaram seu prestígio com o Palácio do Planalto, outras caíram em desgraça, mas não sofrerão retaliações, por enquanto. A trinca Michel Temer, Renan Calheiros e Henrique Alves mereceram todos os elogios da presidente, enquanto Eduardo Cunha e Sérgio Cabral foram os grandes perdedores do embate travado na Câmara em torno da medida.
Eduardo Cunha, que foi um verdadeiro paralelepípedo no sapato do Governo, não vai sofrer retaliações, seus indicados continuarão nos cargos, não haverá uma ofensiva do Governo contra ele, nesse momento. Dilma vai engolir o sapo porque ainda tem pela frente outras  medidas provisórias relevantes que em breve entrarão em votação, entre elas a que muda o marco regulatório da exploração mineral e a que libera quase R$ 4 bilhões para contratação de serviços de tecnologia da informação e telecomunicações para a Copa das Confederações, que começa em junho, e a Copa do Mundo de 2014.
ESVAZIAMENTO
Dilma não fará nenhuma retaliação também porque não quer enfrentar dificuldades em sua campanha presidencial, que já está na rua. Mas, Cunha terá seus passos monitorados, esquadrinhados, radiografados e milimetricamente medidos para que, futuramente não haja mais surpresas e ele volte a agir, com mais desenvoltura do que a oposição, em matérias de interesse do Governo. A estratégia do Palácio do Planalto com relação ao líder do PMDB na Câmara será de esvaziar sua atuação, transferindo para outros parlamentares do partido o papel de líder.
Dilma já sinalizou para o vice, Michel Temer, de que não há a menor condição de Cunha continuar atuando como se não fizesse parte da base de sustentação do Governo no Congresso. Vai pedir a ele e outros interlocutores do PMDB próximos ao Planalto que comecem a operar o esvaziamento de Cunha e transfiram para outro parlamentar sua função. Esse nome ainda não foi escolhido, mas será alguém com maior afinação com o Governo e de comum acordo com os peemedebistas palacianos. Essa mesma estratégia será usada para os indicados de Cunha para os cargos no Governo: Gedel Vieira Lima e Fábio Ferreira Cleto, que ocupam cargos de vice-presidentes na Caixa Econômica Federal.
Outro perdedor após a votação da MP dos Portos foi o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que sai enfraquecido do episódio. A fatura do apoio que Cabral deu a Cunha para ocupar a liderança do Partido na Câmara será apresentada a ele pelo Governo no momento oportuno. O governador teve seu cacife político reduzido para exigir que Dilma e Lula interfiram nas eleições estaduais para que Luiz Fernando Pezão seja o candidato único da aliança PT-PMDB e com isso impedir que Lindbergh Farias não saia candidato.
ALIADOS
O trabalho para aprovação da MP 595 contou com uma grande disposição do vice-presidente, Michel Temer, e dos presidentes da Câmara, Henrique Alves, e do Senado, Renan Calheiros, que atuaram exaustivamente pela aprovação da matéria. Telefonemas para convencer parlamentares a votar favoravelmente à medida e mensagens pelo celular foram as formas mais usadas pelos três na defesa da matéria, além de assessores como mensageiros perambulando pelos gabinetes. O trabalho dos peemedebistas foi reconhecido pela presidente que, após a última votação no Senado, telefonou a cada um para dar os parabéns pelo empenho.
Henrique Alves teve inclusive que enfrentar a ira de deputados do PT que cobravam dele uma atitude mais incisiva com relação às manobras de Eduardo Cunha e da oposição. Alves não ligou o trator, afinal as obstruções vinham de seu próprio partido. Conduziu a votação dentro do que foi possível, já que estava numa posição delicada, mas agiu nos bastidores para que a medida fosse aprovada. Renan Calheiros enfrentou vários senadores insatisfeitos, mais uma vez, por desempenharem um papel meramente decorativo, aprovando uma matéria que não tiveram tempo hábil sequer para ler o texto que veio da Câmara.
DESARTICULAÇÃO
Dilma e sua equipe terão que fazer também uma reavaliação da articulação política com o Congresso. As “meninas poderosas”, como são conhecidas a própria presidente e as ministras Ideli Salvatti, Relações Institucionais, e Gleise Hoffmann, da Casa Civil, foram bastante criticadas na tramitação da MP dos Portos e de outras matérias encaminhadas pelo Governo. A inabilidade no trato com os parlamentares, principalmente das duas ministras, reflete o jeito áspero de Dilma no trato com seus interlocutores. Sem nunca ter ocupado cargo político, Dilma não tem o menor jogo de cintura e muito menos a paciência necessária com os meandros políticos tradicionais e, às vezes, necessários nas relações com os parlamentares.
Enquanto Lula fazia pessoalmente as articulações com o Congresso, Dilma tentou atribuir essa função a outros petistas, mas nenhum deles conseguiu repetir o desempenho do ex-presidente. Ideli tem enormes dificuldades na relação com os parlamentares e muitas vezes sequer é levada a sério. Gleisi, por sua vez, repete a aspereza da “chefa” e também não obtém resultados satisfatórios. Enquanto essas deficiências não forem contornadas, as relações do Planalto com o Congresso continuarão sendo aos trancos, barrancos e noitadas em claro.

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