Wilson ibiapina
A
cachaça, feito o samba “Tempos Idos”, de Cartola, aos poucos se
aprimora e, sem cerimônia, parte para o estrangeiro. De conquista em
conquista penetra na alta sociedade e já é vendida em bares e
restaurantes sofisticados, destronando o velho preconceito que a
transformava em bebida de pobre e irresponsável.
A
cachaça faz parte da cultura de nosso país, mas, apesar de seu sabor
único, de ser a bebida nacional, é discriminada. Ainda hoje tem quem
morre de vergonha se for flagrado tomando um gole de pinga. Talvez por
causa do preço, virou bebida de pobre. Como é muito barata, a moçada
abusa do aperitivo. Bebe até cair, ajudando a estigmatizar o produto que
ainda é tido por alguns como bebida de gente desqualificada.
Chamar
alguém de cachaceiro é uma ofensa imperdoável, a não ser que o cidadão
tenha presença de espirito e tire de letra como fez o ex-prefeito de
Caucaia, município do Ceará. Domingos Pontes discursava inaugurando
obras no mercado municipal, quando ouviu um grito: Cala a boca,
cachaceiro!!
Domingão,
sem perder a pose, respondeu na lata: Quem dera fosse eu um cachaceiro,
um fabricante de aguardente. Infelizmente, sou apenas um humilde
consumidor.
No Nordeste, até a literatura de cordel faz coro na discriminação:
“A cachaça é moça branca
Filha do pardo trigueiro
Quem bebe muita cachaça
Não pode juntar dinheiro.”
Os
mineiros, com suas marcas artesanais, suavizaram o sabor. A bebida vai
penetrando que nem faca em melancia. Hoje já se vê até grupos de
mulheres em bares, restaurantes, jogando conversa fora em torno de uma
pura.
A
compra da Ypioca pela britânica Diageo, fabricante do Johnnie Walker,
um negócio de R$ 900 milhões, ajuda a diminuir preconceito.
A
última vitória da cachaça vem dos Estados Unidos, onde foi oficialmente
reconhecida como produto de origem exclusivo do Brasil. Acabou com essa
história de “brazilian rum”.
O
jornalista e escritor Reginaldo Vasconcelos não esquece “a história do
cara que quis tomar cachaça no restaurante de um hotel 5 estrelas da
cidade. Não serviam cachaça. Então ele quis saber se serviam
caipirinha. Sim, caipirinha serviam. Pediu então uma caipirinha, porém
sem gelo, sem limão e sem açúcar. E desse modo pôde tomar a sua pinga
sossegado, num belo copolong drink.”
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