Nosso WIlson Ibiapina escreve pra Revista Entre Lagos, do jornalista José Natal.



Carnaval chegando
Brasília, Janeiro de 2012


Wilson Ibiapina - Jornalista


O melhor Rei Momo do Ceará

Quem encontra hoje o circunspecto jornalista Ciro Saraiva é incapaz de
imaginar que este senhor que gasta bom tempo de sua vida em orações e em
leitura da Bíblia, foi um dia o mais espirituoso, alegre e divertido Rei Momo da
história do carnaval de Fortaleza.
Essa passagem na vida do hoje brilhante escritor, ele procura
esquecer por achar o carnaval cada vez mais longe do povo, que
essa “explosão cultural popular virou coisa de rico marcada
pela ferocidade do sexo, pela droga e pelo dinheiro”, conforme
ele assinala em seu livro “No Tempo dos Coronéis”.
Mas tudo começou por causa do incidente que ocorreu no Country
Club de Fortaleza, onde hoje funciona o restaurante Serigado,
comandado pelo cronista esportivo Sílvio Carlos.
Era o carnaval de 1961. O juiz de menores, Cândido Couto, recebeu
denúncia de que menores estavam participando da festa do Country,
a segunda feira mais animada do carnaval cearense. O juiz mandou
que a policia fosse lá retirá-los da festa. A tropa chegou no momento
em que o Rei Irapuan Lima e sua corte visitava o clube. O Edilmar
Norões, que fazia parte da corte como cronista carnavalesco, lembra
da cena. Algum gaiato gritou para a polícia não prender o Rei Momo.
Irapuan Lima, indignado bradou: “O Rei é imprendível”. A Polícia
abriu fogo no salão. O fotógrafo Vieira Queiroz, do Correio do
Ceará, foi baleado e o Rei teve que pular o muro para escapar dos
tiros.
Depois dessa confusão o Rei Momo abdicou. O presidente da
Crônica Carnavalesca, Chico Alves Maia, entrou em campo para
encontrar seu substituto. Para alegria geral a escolha recaiu sobre um
jornalista gordinho, recém-chegado de Quixeramobim. Com o
nome de Cirão I, o novo Rei Momo se vestiu de Nero e saiu às ruas,
segundo ele, com “a disposição de tocar fogo no Carnaval de
Fortaleza” Seu grito de guerra era “Vivo o Cão”. Um dia, num baile
no clube Iracema, Cirão sobe no palco e, ao lado do comandante da
Região Militar e do ministro Expedito Machado, proclama no
microfone: “O Rei, o ministro e o general! Viva a
irresponsabilidade!”
Foi, sem dúvida, o mais animado e debochado Rei do Carnaval
cearense. Sua performance aumentava a alegria dos foliões. Só ia pra
casa com o sol raiando. Não fez como aquele rei Momo do passado
que foi destituído em plena segunda feira de carnaval. Foliões, que
voltavam de uma festa às 6 horas da manhã, flagraram o Soberano de
pijama e comprando pão numa padaria.
A Rainha que acompanhava Cirão, Irani, era muito bonita e chegou a
provocar uma crise de ciúme na casa dele. Entre a Rainha do
Carnaval e a Ranha do Lar, o Rei optou pela Rainha do Lar. Inventou
que estava doente e como já era 1965, em plena ditadura militar, ele
saiu-se com essa; “Só volto ao carnaval quando houver condições de
fazer alegria no Brasil”. No carnaval seguinte, o Rei já era Javeh.
Hoje, o jornalista e escritor Ciro Saraiva, vive para Jesus, não ousa
siquer repetir o brado de guerra que ele usava para incentivar seus
súditos. Considera uma injuria a Deus.
Na verdade, nunca mais apareceu um Rei Momo tão espontâneo,
carismático que nem ele. O poeta Rogaciano Leite sentenciou um
dia: “No Ceará só existiram dois reis: Luisão e Cirão. O resto é
palhaço.”
Eu acho que o melhor mesmo foi o Cirão Primeiro e Único.

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