A Karina do Noblat


CARTAS DE NOVA YORK

'Agradecemos a Preferência'

É oficial. Minha pesquisa não-científica confirmou: “Você tem ideia de quanto isso custa no Brasil?” é uma das frases mais escutadas em Nova York.
A cidade parece ter sido tomada por brasileiros. E, tudo indica, eles estão comprando tudo o que couber numa mala. Ou em duas. Ou em três.
Ninguém aqui está reclamando. Muito pelo contrário. Os mais de 700 mil brasileiros que visitaram a Big Apple no ano passado deixaram 1,6 bilhões de dólares na cidade. Isso é o dobro da média de gastos dos outros turistas.
E não é só aqui em Nova York que os brasileiros estão manifestando entusiasmo pelas compras. Um jornal da Florida publicou uma matéria dizendo que os brasileiros ressuscitaram o mercado imobiliário de lá, comprando até mesmo casas de luxo à beira-mar em dinheiro vivo (pois é, esquece o que eu disse sobre comprar o que couber na mala.).
Entre as 10 nacionalidades que mais visitam os Estados Unidos, os brasileiros são os que mais gastam per capita. Ganham dos alemães, dos franceses e dos ingleses. Só perdem mesmo para os chineses e para os indianos, mas muito menos turistas daqueles países vêm aos EUA. Em média, um turista estrangeiro gasta 4 mil dólares a cada vez que vem ao país. Já o brasileiro típico desembolsa 5 mil doletas por viagem.
Os altos impostos do Brasil e o real valorizado fazem tudo parecer uma pechincha por aqui. A economia é tanta que, muitos dizem, cobre os gastos da passagem e do hotel. Um amigo, de passagem pela cidade há pouco tempo, fez os cálculos: vale a pena comprar um computador aqui mesmo que tenha de pagar a multa por não declará-lo na alfândega.
O caso é que a ideia que brasileiro vinha para cá pedir emprego é passado. Morto e enterrado. Tem quem diga que os brasileiros estão basicamente sustentando o setor do varejo de Nova York e da Flórida.
Pode ser exagero. Mas não foi à toa que o presidente Barack Obama anunciou que iria agilizar os vistos para os brasileiros (e chineses). Ele disse que não só vai aumentar a capacidade de processamento de vistos em 40% mas também já considera a possibilidade de incluir os brasileiros no programa de isenção de vistos aos quais pertencem muitos países europeus.
Na Disney, Obama deu mil voltas para fazer o anúncio. Falou sobre as atrações do país e das belezas naturais dos parques americanos. Não precisava. Pelo menos para os brasileiros o recado era um só: “Obrigado. E volte sempre.”

Karina Vieira é jornalista e mora em Nova York há 10 anos.

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