A demissão de Elias,do DNOCS, segundo o DN


Após denúncias, diretor-geral pede demissão


Fernandes é o terceiro diretor exonerado em menos de dois meses. Ramon Rodrigues assume interinamente
Apesar do anseio de permanência e da insistência da base do PMDB em segurar o posto, o diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, parece não ter aguentado à pressão e cedeu. Ele pediu ontem a exoneração do cargo, após denúncias de irregularidades no órgão. O secretário nacional de Irrigação, Ramon Rodrigues, assume interinamente o cargo. Fernandes é o terceiro diretor exonerado da pasta em menos de dois meses.

Na última segunda-feira, o diretor administrativo-financeiro do órgão, Albert Gradvhol, foi exonerado do cargo por causa de uma suposta reestruturação da pasta. E, em dezembro do ano passado, o engenheiro Fernando Ciarlini assumiu a Diretora de Infraestrutura do Dnocs, em substituição a Cristina Peleteiro.

A demissão do diretor-geral do Dnocs foi uma exigência da presidente Dilma Rousseff. Ela parece ter se sentido desafiada, e Elias Fernandes foi "obrigado" a entregar a função com urgência.

Ontem, foram intensas as ligações telefônicas entre a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho e o vice-presidente da República, Michel Temer, em conversas de bastidores para tentar "abafar" a crise instaurada após a entrega de relatório da Controladoria Geral da República (CGU) apontando desvio de R$ 312 milhões.

O documento apontou suposto favorecimento ao Rio Grande do Norte, onde nasceu Fernandes Neto, nos convênios para ações contra desastres naturais. De 47 projetos, o Estado teria recebido 37 deles, a maioria. Elias Fernandes negou tudo e, ainda na última quarta-feira, disse não abandonar o cargo. Contudo, deixou a função ontem sem falar com a imprensa.

Nota

O ministro Fernando Bezerra, por meio de sua assessoria divulgou a seguinte nota: "após reunião de trabalho com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, o senhor Elias Fernandes, pediu, na manhã da quinta-feira, exoneração da Diretoria Geral em função da reestruturação dos quadros das empresas vinculadas à pasta".

O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), padrinho político de Fernandes Neto, postou no Twitter que tentou mudar a decisão do diretor de deixar o Dnocs.

"Elias, agradecendo minha irrestrita solidariedade, pede que eu entenda seu pedido demissão E acrescenta que também não quer servir de exploração política ou gerar crise política alguma para o seu partido, PMDB. Acrescenta, com serenidade, que o tema saiu do campo administrativo para o político. E com isso ele não concorda e pede para sair", publicou o deputado.

Conforme o deputado Eduardo Alves, o ministro pediu a ele uma "indicação urgente" para a direção do órgão nacional.

"Peço alguns dias para sugestão de novo nome para representar o Rio Grande do Norte e o PMDB na direção do Dnocs".

No Ceará, as bases peemedebistas pareceram se estremecer também. Durante toda a semana de crise, o senador Eunício Oliveira, segundo sua assessoria de imprensa, manteve-se calado, não quis comentar nada. Nessa "novela", o único que se pôs em meio ao fogo cruzado foi o deputado federal Danilo Forte (PMDB-CE). "O clima dentro do Ministério da Integração se acirrou, virou uma queda de braço e estava prejudicando a gestão, como feriria a gestão de qualquer órgão público. Temos agora que avaliar o desgaste do partido. Como sempre os mais prejudicados são os indicados pelo PMDB", afirmou Danilo.

O deputado disse ainda que esperava que a presidência fosse chamar o PMDB para conversar. "Eu acho que, depois de constatada toda a situação administrativa, isso gerou incompatibilidade entre a gestão e o Planalto. É quase impossível administrar um órgão em divergência com o superior. Sair é a melhor saída nesse momento".

Forte comentou ainda que o nome de Ramon Rodrigues não é ruim, seria um bom diretor. Entretanto, o deputado disse que o PMDB ainda deve ter uma conversa com o ministro.

Sobre as declarações atribuídas a Henrique Alves, de que as demissões foram causadas por "desentendimento político", Danilo Forte afirmou que isto é mais grave e requer uma análise ainda mais profunda da bancada. "Se foi briga política como vamos agir", declarou Forte.

Para o único deputado federal do Ceará de oposição ao governo, Raimundo Gomes de Matos (PSDB), as demissões devem fazer parte da estratégia de Dilma de "se livrar de uma herança maldita de mau comportamento". Ele disse estar preocupado com a possibilidade de a crise gerada como o PMDB impedir, segundo ele, uma limpeza no governo. "A Dilma está consciente da necessidade de choque de gestão", analisa Raimundo Gomes.

Sindicância

Na tentativa de "esfriar" o clima, antes de deixar o cargo, Fernandes Neto até assinou uma portaria, publicada ontem no Diário Oficial da União, que designa três servidores para comporem comissão de sindicância para apurar irregularidades denunciadas à Procuradoria da República no Ceará em relação à coordenadoria estadual do Dnocs.

Rodrigues sem interesse de se efetivar na função
O secretário nacional de irrigação, Ramon Rodrigues, indicado ontem como diretor geral interino do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, informou, ontem, ao Diário do Nordeste que já assumiu um compromisso com o governo federal de apresentar, em fevereiro desse ano, um amplo projeto de irrigação.

Então, por este motivo "não há qualquer possibilidade de eu ser efetivado como diretor do Dnocs", diz. Ramon afirmou ainda ter sido pego de surpresa pela saída de Fernandes, no início da manhã de ontem, e mais ainda por sua indicação para ocupar o tal cargo interinamente.

"Esta é uma responsabilidade muito grande. Creio que fui chamado pelo meu conhecimento na área, mas principalmente pelo fato de eu ser cearense", avaliou Ramon Rodrigues. Segundo o secretário nacional de irrigação, ele não chegou a analisar os motivos políticos da saída.

A divulgação da nota sobre a saída de Elias Fernandes atiçou o clima dentro do PMDB que piorou com mais dois anúncios por parte do governo que fragilizaram ainda mais as relações entre os principais aliados do governo Dilma Rousseff. A primeira foi a demissão de Sérgio Machado da presidência da Braspetro. A segunda foi a suspensão das licitações para as obras de transposição do Rio São Francisco.

Todos os parlamentares se disseram insatisfeitos com a decisão do Ministério de suspender as licitações das obras do São Francisco. A decisão, segundo nota divulgada pelo Ministério da Integração, teve caráter técnico e não tem relação com a saída do diretor geral e nem com a crise instalada na base aliada.

Suspensão

O Ministério da Integração decidiu suspender o procedimento, por determinação da Comissão, a fim de concluir a análise de impugnação.

Na nota, o governo afirma que "foi publicada na quarta-feira, na seção 3, no Diário Oficial da União, a suspensão temporária do edital de execução das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco.

IVNA GIRÃO/ANE FURTADOREPÓRTER/SUCURSAL

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