A demissão de Elias, do DNOCS, segundo o Jornal O Estado


O diretor-geral do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), Elias Fernandes, deixou o cargo ontem após relatório da CGU (Controladoria-Geral da União) apontar irregularidades em sua gestão envolvendo obras no Ceará. O secretário Nacional de Irrigação, Ramon Rodrigues, assume interinamente o cargo. 

Ramon Rodrigues foi indicado pelo governador Cid Gomes e pelo senador Eunício Oliveira, presidentes estaduais, respectivamente, do PSB e do PMDB. Ele foi subsecretário de Recursos Hídricos do Ceará, Pasta dirigida pelo peemedebista César Pinheiro.

A decisão do afastamento foi tomada após conversa entre Fernandes e o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), seu padrinho político. Apesar de oficialmente o Ministério afirmar que Fernandes pediu sua demissão, a saída foi decidida pelo Planalto e ocorre após Alves desafiar o governo a demitir o apadrinhado da legenda.

Ontem cedo, Fernando Bezerra (Integração Nacional) e a ministra Gleisi Hoffman (Casa Civil) conversaram com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e avaliaram que a situação de Fernandes estava insustentável. Temer conversou com Alves, que encaminhou a demissão junto com Fernandes. Ficou acertado que o líder do PMDB indicará o substituto no Dnocs.

Por meio do Twitter, Alves diz ter sido comunicado pelo próprio Fernandes da sua demissão. “Elias acaba de me dizer que entendeu e agradeceu conversa leal do ministro Fernando [Bezerra], que reafirmou absoluta confiança no trabalho realizado.”
SUSPEITAS
O agora ex-diretor-geral passa por uma crise no órgão após relatório da Controladoria-Geral da União apontar desvio de R$ 192 milhões em obras tocadas pela autarquia. Segundo a CGU, houve desvios de recursos, dispensa de licitação e superfaturamento em obras e serviços do Dnocs na irrigação do Tabuleiro de Russas, a 160 quilômetros de Fortaleza.
O Dnocs é vinculado à Pasta da Integração Nacional, comandada pelo ministro Fernando Bezerra, do PSB, que enfrenta suspeitas de favorecimento político na distribuição de verbas do Ministério.
ALIADO
O PMDB é o principal aliado do PT na coalizão de Dilma Rousseff e foi um dos fiadores do governo em votações polêmicas de 2011, como a do Código Florestal. Apesar da aliança, nos bastidores peemedebistas manifestam insatisfação. O partido avalia que não irá ganhar espaço na reforma ministerial e que o governo tenta enfraquecer Alves na disputa pelo comando da Câmara. Apesar do acordo para a candidatura do peemedebista, setores do PT trabalham para que isso não aconteça.
A demissão de Fernandes já havia sido pedida à Casa Civil pelo ministro Fernando Bezerra em dezembro. Temer, porém, interferiu na quinta-feira da semana passada (19) ao convocar o ministro para uma conversa em seu gabinete.
Nessa conversa, o ministro foi convencido em rever sua posição e encaminhar para o TCU (Tribunal de Contas da União) o relatório da CGU, inclusive avalizando a defesa do Dnocs. As declarações do ministro de que a faxina no Dnocs será feita, porém, surpreenderam o PMDB.
Na última quarta-feira, Henrique Eduardo Alves desafiou a presidente Dilma Rousseff a demitir Elias Fernandes: “O governo vai brigar com metade da República, com o maior partido do Brasil? Que tem o vice-presidente da República, 80 deputados, 20 senadores? Vai brigar por causa disso? Por que faria isso?”.
INVESTIGAÇÃO
Antes de deixar o cargo, Elias Fernandes Neto designou três servidores para integrar uma comissão de sindicância para investigar denúncias de irregularidades na coordenadoria estadual do órgão no Ceará. A portaria foi publicada ontem no Diário Oficial. Um dos servidores designados é a corregedora seccional do Ministério da Integração Nacional, Jussara Santos Mendes, que é servidora de carreira da Controladoria-Geral da União.

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