Sigilo quebrado

O médico, antropólogo e professor universitário Antonio Mourão Cavalcante conta em artigo na edição deste sábado (29), no O POVO, sobre a perseguição que sofreu, anos atrás, porque coincidiu em um aula de cursinho oito questões do vestibular, na prova de Biologia. O professor lembra que apenas usou um livro de questões antigas de vestibulares e condena a confusão em torno do Enem com o Colégio Christus. Confira:

Há muitos anos, eu fui professor de cursinho pré-vestibular. Lecionava Biologia em vários estabelecimentos de Fortaleza. Em um deles, na época, havia o chamado Corujão: uma aula de exercícios que entrava noite adentro. Véspera das provas, não me sobrava muito tempo para elaborar as questões de tal encontro. Por sorte, naquela semana, comprei um livro – lançamento – com questões de vestibulares de todo Brasil. Do tal compêndio selecionei umas 50 questões. A noite do Corujão consistiu na resolução e comentários destas questões.

Grande surpresa. A prova de Biologia do Vestibular, dias depois, trazia oito questões iguais ao texto analisado e resolvido com os alunos.

Esse episódio deu muita confusão. Um famoso cursinho, onde eu também ensinava me deu as contas na semana seguinte. “Como é que você sabia as questões que iam cair e não passou aos nossos alunos?” E, mais grave ainda, fui chamado por uma comissão de inquérito que investigava o tão “surpreendente” episódio.

Ora, eu e a comissão que elaborou a prova tínhamos bebido da mesma fonte. Não houve suborno, nem compra de prova. Coisa alguma. Simplesmente, por negligência e/ou preguiça, a comissão que elaborava as questões, resolveu simplesmente copiá-las de um livro. Provavelmente pensando que um professor de cursinho não teria jamais acesso a um livro recém lançado.

Quem é do ramo sabe que uma das características do professor de cursinho é farejar o rumo das coisas, sentir os indícios e as tendências. Deixar-se pautar pela intuição e experiência. Foi o que fiz.

Essa história veio à minha cabeça, tantos anos depois, quando observo o que se passa agora com o exame do Enem envolvendo o Colégio Christus. Rumores e denúncias de que os alunos teriam tido prévio acesso às questões do Enem. De uma forma abusiva e arbitrária, o MEC ameaça anular as provas de 639 alunos do referido estabelecimento.

Na pressa em dar uma satisfação, condena-se por presunção e sem o direito de defesa. Quanta confusão, meu Deus!

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