Opinião

A CRISE AMERICANA E NÓS

Por Carlos Chagas

Nos Estados Unidos, os bancos tomam dinheiro do governo pagando zero ou, no máximo, 0,5% de juros. Mas emprestam a 13%, em média. Estão felizes. Para enfrentar a crise, Barack Obama propõe cortes da ordem de três trilhões de dólares, junto com aumento de impostos. Os bancos, há dois anos salvos da bancarrota pelo Federal Reserve, estimulam os cortes, desde que se façam sobre programas sociais, mas insurgem-se contra maiores taxações. Falam pelo Partido Republicano, cuja maioria, na Câmara de Representantes, leva o presidente americano a uma sucessão de recuos. Pouca gente acredita nele, mesmo no Partido Democrata, registrando-se que dias atrás, numa reunião com seus companheiros, Obama precisou exigir respeito quando um deles exortou-o a dizer a verdade e confessar logo estar submisso aos adversários. Aproxima-se o prazo fatal depois do qual Washington precisará anunciar o calote, ou seja, a impossibilidade de honrar seus títulos do tesouro, sendo a China o maior credor, com espaço também para o Brasil, com quase 300 bilhões de dólares enfiados no buraco negro. Desnecessário se torna acrecentar que o desemprego multiplica-se em progressão geométrica, naquele país.

Analistas mais próximos da isenção atribuem a crise a mil fatores, mas o principal repousa nas loucuras do governo George W. Bush, aliás, republicano, por conta das guerras que desencadeou no Iraque e no Afeganistão. Sacou sobre o futuro, ou seja, o governo do sucessor é que precisa pagar.

Tais considerações são feitas por um brasileiro radicado nos Estados Unidos, bem sucedido exportador e importador, hoje de volta ao Brasil examinando a possibilidade de não retornar. Essa alternativa, infelizmente, não pode ser adotada pelo governo brasileiro. Semprte precisaremos voltar, não podemos bancar o avestruz e enfiar a cabeça na areia em meio à tempestade próxima, simplesmente ignorando o que se passa lá em cima. Temos muito a perder se eles falirem, como também se conseguirem aguentar-se.

Explicam-se, assim, a preocupação da presidente Dilma Rousseff e os telefonemas diários que dá ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando não o convoca ao seu gabinete. Quer estar informada, ainda que fórmulas miraculosas não possua. Só não aceita a dupla opção de nossos irmãos do Norte, de cortar projetos sociais e de aumentar impostos. Que tal voltarmos ao ponto de partida deste texto para concluir que os bancos, tanto lá como cá, pretendem ficar à margem da crise, auferindo lucros fabulosos, como ainda agora a imprensa registrou. Não seria hora de Dilma e Obama quebrarem a casca do ovo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário