Fotografia é história 3 de agosto de 1975



O general Ernesto Geisel, falecido em setembro de 1996. Chegou à Presidência da República com a fama que sempre teve, a de durão. Era avesso às brincadeiras. De poucas palavras, ouvia mais que falava. O pai, August Wilhelm, e a mãe, Lídia Beckmann, imigraram da Alemanha para o Rio Grande do Sul em 1883. Assim como Orlando e Henrique, dois de seus irmãos, Ernesto também entrou para o Colégio Militar. Participou das revoluções de 1930 e de 1932. Foi também um dos líderes do Golpe de 1964 e chefe do Gabinete Militar no governo Castello Branco. Ao suceder o general Garrastazú Médici, demitiu os acusados da morte do jornalista Wladimir Herzog, em São Paulo. Tinha o propósito de promover a chamada abertura política. E deu uma surpreendente demonstração visual desse propósito deixando de lado sua antipatia à descontração. Durante uma viagem a Natal, no Rio Grande Norte, o rigoroso Ernesto Geisel caminhou tranquilamente de pela Praia dos Artistas, em frente ao Hotel dos Reis Magos, vestindo nada mais que um short de banho.
Como foi - Eu era o fotógrafo designado para a cobertura da Presidência da República. Da mesma forma que os colegas de outros jornais, viajávamos a qualquer hora para todos os lugares. Essa visita de Geisel ao Rio Grande do Norte foi inesperada, e não tivemos tempo de providenciar reservas de hotel. Por isto, tive que pegar “carona” no quarto de colegas de outros jornais, os concorrentes, mas não inimigos. O quarto era pequeno e só me coube dormir num cantinho junto à janela, que dava frente para a praia. Às seis da manhã, fui acordado por um dos “donos” do apartamento assustados com o que estavam a ver: o general passeando na praia. Inexplicavelmente, nenhum deles teve a iniciativa de retratar o momento tão raro e simbólico. Não tive dúvida. Fiz dois rolos de filmes. O primeiro, escondi entre as toalhas do carrinho da limpeza. O segundo apresentei como único ao meu companheiro de equipe, Merval Pereira. Eu tinha receio de – como estávamos vivendo ainda os tempos de censura à imprensa – ter as fotos tomadas pelo pessoal do Palácio. Fomos ao secretário de Imprensa do presidente, Humberto Barreto, para saber mais do passeio do general. E ouvimos de Humberto que a cena aconteceu por pura intenção. Geisel queria dar sinal de que estava se despindo da farda para sinalizar novos tempos no Brasil.
Orlando Brito.

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