A Manchete nossa de cada dia trabalho de geniais jornalistas


O da esquerda é o Ibiapina, o outro é o cearense de São Bento da Amontada, dono desse simpático (e muito bom) restaurante em Fátima. Chama-se Regaça da Rainha e tem um bolinho de bacalhau de comer rezando, sem falar no vinho da casa e etc. e tal. Mas vamos ao nosso Piaba.Fiz a foto antes da primeira garrafa.

Wilson Ibiapina

Manchete de jornal, chamada de primeira página, não tem nada mais difícil. Tem toda uma métrica, obedece o número de colunas, de batidas
Geralmente é a última tarefa para se fechar uma edição. A oficina toda esperando o primeiro caderno. A pressão não é pequena. O mancheteiro tem que ter poder de síntese, ser criativo e rápido. Alguns jornalistas se especializaram em fazer manchetes, tarefa que é cumprida, na maioria dos jornais pelo chefe de redação. É sempre ele com a ajuda dos editores que titulam a primeira.
Lembro que no Ceará, o Felizardo Mont’Alvene, chefe de redação do Correio do Ceará, principal vespertino dos Diários Associados no Estado, tinha prazer em fazer as manchetes.. São dele: “ Delfim tranquiliza Plácido com o Fundo” O governador Plácido Castelo reclamava da falta de dinheiro e o Ministro da Fazenda diz que vai liberar verbas do Fundo de Participação dos Estados. “Mulher nua, morta a pau” ; “Todo fumante morre de câncer, se outra doença não matar primeiro”. O Rangel Cavalcante lembra outras: “Saram as Cicatrizes da Guerra”; “Fechado o PCB (Partido Comunista Brasileiro) da Grécia O Bichão como era conhecido, ficou famoso pelas manchetes que serviam para abastecer a coluna do Stanislaw Ponte Preta, na Última Hora do Rio
E por falar em Última Hora, conta a lenda que Samuel Wainer, seu dono, estava uma noite numa boate com um grupo de mulheres e resolveu cartar marra, se exibir, fazer farol.. Pediu e o garçon trouxe o telefone. Quase cinco metro de fio se estendendo pelo salão, pois era antes do sem-fio e do Celular. Ligou pra redação e perguntou qual a manchete do dia seguinte . O Secretário de redação: “Pegou fogo o Maracanã .” E ele, quase gritando, mais para ser notado pelas moças do que para ser ouvido pelo secretário: “- Não, essa não. Coloca aí: Pegou fogo o Maracanã.
Dizem que o grande mancheteiro da imprensa brasileira foi Carlos Eiras. Fez escola no antigo Diário da Noite. Seus seguidores se espalharam pelo país. No Ceará, Odalves Lima , primo do jornalista Fernando César Mesquita, abriu uma edição do jornal Estado : As Peruas dormem à sombra dos Pinheiros”, para denunciar as camionetas contrabandeadas que foram encontradas pela polícia na fazenda de um Pinheiro famoso.
Famoso mesmo foi o Santa Cruz. O jornalista Pedro Rogério, que trabalhou anos na imprensa carioca, diz que Santa Cruz revolucionou o Dia, do Rio, com manchetes policiais: “Cortou o mal pela raiz”, a história da mulher que castrou o marido que lhe traía. “Matou a família e foi ao Cinema”, depois virou até filme. O padre prefeito aumentou o preço da carne e ganhou manchete: Padre não resistiu à tentação da carne”. Comeu cachorro quente e teve dor de barriga : “Cachorrro faz mal a moça”. Sérgio Ricardo, num festival de música da Record, responde as vaias jogando o violão no auditório: “Violada no auditório”.
Outro mancheteiro famoso foi Adriano Barbosa. Segundo ainda o Pedro Rogério, ele era responsável pelas manchetes policiais de Ultima Hora e de O Globo. Aqui em Brasilia entre os muitos que sabem manchetar estão o Geraldo Seabra, Renato Riela, Rachid Rachid Pinpin. Eram deles as manchetes que faziam vender o Correio do Planalto, jornal que a Consuelo Badra, Wilson Pedrosa e o Kleber Ribeiro fundaram em Brasilia. O vespertino era direcionado para as cidades satélites mas estourou no Plano. Tinha gente que o chamava de Vampiro do Planalto, Era puro sangue. A Consuelo bem que podia reeditar o projeto. Garanto que tem espaço, e como tem.
Os jornais policiais são os que mais exploram as manchetes, mas no Rio eles perderam a criatividade, estão mais apelativos: “Padreco sofreu com picadura de zangão”.
Ví os jornais policiais do final do século passado , verdadeira coleção, no dia em que fui ao almoço que o jornalista João Bosco Serra y Gurgel ofereceu como parte do festival gastronômico pelos 60 anos de idade dele.( Os outros ágapes serão em Niterói , Cabo Frio, Fortaleza e Acopiara).. As manchetes de jornais como Povo, A Notícia não tem mais o charme da Luta Democrática, do Dia, do Diário da Noite. De antigamente . Chega a ser imoral: “Magricela deu pro gordão e morreu esmagada na cama”. Apelam até na manchete esportiva: “Mengão promete enrabar o Fogão sem usar vaselina”.
Das muitas que lí, só escapou uma. Você sabe que o normal dos suicidas da ponte Rio-Niteroi é se jogarem lá de cima. Mas o delegado Almir Pereira preferiu dar um tiro na cabeça. E A Notícia do dia 29 de outubro de 1991 manchetou: “Atirou em vez de se atirar”.

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