A MAIS BURRA DAS LEIS


Janio chega a Sobral. De vassoura na mão, o menino Ademar Mendes Bezerra, hoje desembargador, era livre pra fazer campanha


Janio, sem rumo certo em campanha sem peias

Por Carlos Chagas
Agora foi o PT a denunciar o DEM junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Semana passada aconteceu o contrário, valendo incluir o PSDB nessa sucessão de acusações sobre campanha eleitoral antecipada. Uma farsa, que a Justiça Eleitoral engole por conta de suas atribuições e de uma das leis mais burras de todos os tempos, aquela que proíbe e tenta negar o óbvio. Alguém duvida de que José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva são candidatos? Por que, então, negar-lhes o direito de fazer campanha?

Tanto a lei quanto a Justiça deveriam preocupar-se exclusivamente com a utilização de dinheiro público na conquista de votos. A participação da máquina administrativa pública, também. Fora daí, o lógico seria a revogação da legislação e das regulamentações judiciárias que apenas demonstram o ridículo, porque impedir candidatos de fazer campanha é impossível, tanto quanto limitar prazos para o seu início. Obrigar os pretendentes a cargos eletivos fingirem que não estão pedindo votos chega a ser hilariante.

Haveria outra solução, que seria juízes e ministros dos tribunais não tomarem conhecimento das denúncias. Ignorarem solenemente as escaramuças dos partidos. O que não dá é para o país ficar assistindo capítulos sucessivos dessa lamentável novela.

HÁ CINQUENTA ANOS
Completam-se cinqüenta anos de uma campanha presidencial bem diferente da atual. Também, inexistiam leis restritivas da liberdade de pedir votos. Jânio Quadros empolgava o país, que percorria desde março, com discurso duro de oposição. Desancava o governo, apesar de poupar a figura do então presidente Juscelino Kubitschek, mais ou menos como José Serra faz com relação ao presidente Lula. O marechal Henrique Lott era o candidato do governo, sendo que Ademar de Barros imaginava-se a terceira via.

A televisão engatinhava, o povão nem sabia de sua existência. Assim, a disputa era travada em praça pública, com comícios aos montes, carregados de multidões. Os jornais cobriam cada minuto do dia dos candidatos, em longas reportagens transmitidas sabe-se lá como para as sedes, dos mais longínquos municípios do país. Se havia pesquisas, eram ignoradas.

Aquelas eleições foram, de longe, as que mais empolgaram o Brasil. Jânio era a promessa da moralidade, da punição para os corruptos e da cadeia para os malandros. Lott simbolizava o nacionalismo. Como Juscelino, popularíssimo, não participava da campanha, apesar de apoiar o marechal, já no mês de junho sentia-se no ar o resultado de outubro. Deu no que deu...

Carlos Chagas é jornalista e meu amigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário