Guimarães: estratégia tucana é afastar o PT do PSB

Carlos Alberto Alencar
e Fabiana Maranhão
da Redação do Jornal O Estado

O deputado federal José Guimarães (PT), integrante das Comissões de Finanças e Tributação, Fiscalização Financeira e Controle e a Comissão Mista de Orçamento da Câmara Federal, concedeu entrevista exclusiva ao O Estado, nessa segunda-feira, 26, analisando o quadro político nacional e estadual. Guimarães defende as alianças políticas antes das eleições, como a que foi construída com o PMDB, para garantir a governabilidade. Ele argumenta que se o PT não tivesse fechado o acordo com o PMDB, o PSDB teria feito, tendo em vista a estrutura partidária e o tempo de televisão de que o aliado dispõe. O parlamentar só não vê a possibilidade de uma coligação com os tucanos, por uma questão ideológica e de ideário partidário. “PT e PSDB são dois blocos hegemônicos, que defendem ideologias divergentes, que não se misturam. Nós defendemos o estado social e eles defendem o estado mínimo, preconizado pelo Consenso de Washington, já totalmente ultrapassado.”

O Estado – Deputado, vamos começar a entrevista repercutindo as declarações do deputado Ciro Gomes (PSB), na madrugada desta segunda-feira, na Rede TV!, quando ele detonou o PMDB, afirmando que o partido aliado era “um ajuntamento de assaltantes”, cujo comandante era o deputado Michel Temer, candidato em potencial a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff, do PT.

José Guimarães - Bem, eu acho que no Brasil é necessário se fazer alianças políticas, isso é próprio da democracia brasileira. Nenhum partido político é, isoladamente, hegemônico. O PT ganhou as eleições em 2002 fazendo alianças com vários partidos. E para isso pagou um preço, por serem partidos diferentes, com trajetórias diferentes. Dentro dos partidos, muitas vezes, tem práticas que não são as mesmas da sua realidade. O PT precisou aprender a conviver com isso. Eu, por exemplo, prefiro fazer alianças na campanha, quando ainda estamos trabalhando o projeto de governo do que após, com o objetivo de construir a governabilidade, na base do toma lá da cá. Isto é que não é bom para democracia brasileira.

OE- É possível fazer aliança na campanha e quando chegar ao poder, simplesmente, desconhecer o aliado?

JG- O erro do PT foi não fazer alianças em 2002, sobretudo quando iniciou o primeiro governo do presidente Lula. Existiam duas teses dentro do PT, uma que era de construir a governabilidade com parte do PMDB, um partido majoritário na Câmara e no Senado, e a outra de negociar projeto a projeto. Eu acho que a primeira tese teria sido melhor se tivesse construído essa governabilidade em torno do partido, o que não foi possível. E nós precisamos corrigir isso. Todo mundo precisa de aliança. Eu desafio qualquer candidato que não queira construir alianças.

OE - Do ponto de vista ideológico e partidário, o PSDB não estaria mais próximo do ideário do PT do que o PMDB?

JG- Não, pelo contrário. O PMDB não é um partido nacional, é um partido com várias características regionais. Cada região tem um PMDB. O peso do partido é um peso de federações regionais. Não esboça um programa nacional, tanto é que o partido esteve governando com o presidente Fernando Henrique Cardoso, como também está governando com o presidente Lula. Agora, o PSDB e o PT representam duas visões antagônicas de estado, sobretudo de como gerir o Estado brasileiro.

O PSDB tem como centro de sua formulação ideológica a idéia de que o mercado é a mãe. É o partido das privatizações. Nós do PT somos o partido do Bolsa Família, da superação das crises, do bom relacionamento externo, relação com o mundo, economia. Então pelo histórico de governo podemos perceber que é totalmente diferente. Não existe essa história de dizer que os dois governos são continuidade um do outro. Existem diferenças abissais. O PT está mais para o estado do bem-estar social e o PSDB está mais para o estado neoliberal.

OE - No caso do cenário local, as declarações do deputado Ciro Gomes podem afetar de alguma forma a aliança PT e PSB, e também PMDB?

JG- O nosso esforço é trabalhar para evitar quebraduras na nossa aliança. Eu digo isto porque quando o PT fez uma aliança com o Cid Gomes, em 2006 e ele fez conosco em 2008, apoiando a reeleição de Luizianne Lins, foi pensando no projeto Ceará. Nós percebemos que este foi um projeto que deu certo, e por isso queremos mantê-lo. Nunca um governo investiu tanto no Estado do Ceará e na Região Nordeste, como no governo Lula. Então não existe disputa por parte do PSDB e PT pelo PSB. Nós já somos aliados do PSB. Por isso defendemos a tese de fazermos alianças antes das eleições. Não pode depois de o governo instalado todo mundo querer a mesma coisa. Quem ganha apóia, quem perde faz oposição. E esta última, não é tarefa nossa, já que fazemos parte da situação.

OE- Mas então como explicar essa aproximação do PSB com o PSDB no Ceará? No governo Cid Gomes, os tucanos mantiveram quatro secretários. A própria chapa eleitoral pode se encaminhar para apoio à reeleição do senador Tasso Jereissati, o homem forte do PSDB no Estado.

JG- Vamos deixar claro uma coisa. Qual é a estratégia do PSDB? É afastar o PT do PSB. Tanto é que, qualquer problema nacional, se faz um estardalhaço estadual, justamente com o objetivo de dinamitar nossa aliança. Eu encaro como natural essas indefinições do PSB. Isto faz parte do processo democrático. O nosso compromisso hoje é com o PSB. Assim nós vencemos em 2006, e é assim que nós queremos vencer novamente. Foi uma junção de fatos. Primeiro, o cansaço do modelo de gestão de 20 anos do PSDB, onde nossa região nunca foi priorizada e, além disso, a grande popularidade do presidente Lula.

OE- Hoje, não existe nenhum nome para entrar na disputa com o governador Cid Gomes. O senhor acha que essa falta de opção é democrática? O que essa ausência de alternativas representa para o Estado?

JG- Eu acho que é democrático ter opção, assim como manter as alianças. Não cabe a nós do PT nos preocuparmos em lançar candidato. Agora, com relação ao que isso representa, creio que não seja a perfeição. O Ceará ainda tem muito a ser feito, e eu acredito que isso se dará com a continuidade desses governos que tão bem os representaram.

OE- O senhor acha que essa aliança sofre algum risco, quando o PT impõe a candidatura de José Pimentel ao Senado na chapa de Cid?

JG- Não. Nós não estamos impondo nada. Criaram essa fantasia de que nós estamos impondo. Nós apenas entendemos que para o Governo dar continuidade aos trabalhos no Estado do Ceará, precisamos de dois nomes para o Senado. E os nomes hoje são: Eunício [Oliveira] e Pimentel. Essa é a nossa proposta, que deve ser resolvida logo mais com a decisão do PSB sobre o Ciro. Nós petistas fazemos nossos debates internamente, para sair com uma opinião formulada para quem está de fora.

OE - Não havendo esse acordo, caso o governador Cid Gomes não abra mão da vaga do Senado e a reserve para o projeto de reeleição de Tasso Jereissati, existe possibilidade de rompimento?

JG- É bem verdade que há uma ansiedade por parte da imprensa e da nossa militância de ver logo essa situação resolvida. Mas nós não trabalhamos com suposições. Nós vamos aguardar as definições nacionais e a partir daí fazer as nossas definições. O que eu posso garantir é que nós não estamos trabalhando com outra hipótese. Nessas horas, nós temos que buscar o entendimento. O mesmo se resume para a vaga de vice. Nós temos dois bons nomes para essa vaga, mas não podemos revelar agora, que vamos trabalhar para também encabeçar. Nós estamos oferecendo uma proposta, cabe a eles aceitar ou não. Não existe essa pressa. Nós não podemos cair nessa armadilha. O apressado come cru.

OE - Uma das críticas de Ciro Gomes é que o PT acabou impondo o bipartidarismo. Esta situação não empobrece o debate democrático?

JG- Isto tem que valer para o Brasil e o Ceará. Não podemos ter uma análise unilateral. E não somos nós que estamos impondo o bipartidarismo. Foi a própria mídia que criou uma expectativa em cima dos dois nomes. Se a imprensa só entra na dinâmica da Dilma e do Serra, que culpa temos nós? Essa polarização não é nossa.

OE - Existe um plano B do PT no Ceará?

JG- Não existe plano B. Nós trabalhamos com apenas uma proposta e somente depois dessa definição é que nós vamos resolver. Não adianta criticar o PT, criticar o PMDB. Este partido tem grandes dimensões. Quem hoje não quer aliança com o PMDB? As mazelas existem em todos os lugares. Eu, como deputado federal, sei disso. Mas, não podemos generalizar. Cada dia é uma surpresa. Hoje falo uma coisa e amanhã já pode mudar, devido a uma decisão nacional. Nós temos objetivo, foco. É prioridade nossa derrubar o Serra, no Ceará. Ele seria um desastre para nosso Estado.

OE - Sobre o estaleiro, como o senhor vê essa indefinição, que pode acarretar a perda do empreendimento?

JG- Eu não posso falar nem pela prefeita Luizianne nem pelo governador Cid. Eu só posso dizer é que o Ceará não pode e nem deve perder esse empreendimento. Eu tenho certeza de que esse assunto vai avançar e que eles vão entrar num consenso sobre o local, que só cabe aos dois definirem.

Do Jornal O Estado

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