População cerca-se em pequenas fortalezas; é a indústria do terror

Por Aline Pedrosa
Especial para O Estado

Pequenas fortalezas. Essa é atual realidade da cidade onde vivemos. As pessoas, por conta da violência, fecham-se em suas residências. Grades, cercas, muros altos, uma verdadeira prisão. Nos carros, vidros alto mesmo diante do calor, fumê, blindagem, câmeras. A insegurança deu lugar à tranquilidade da Fortaleza de outrora, onde as pessoas sentavam-se nas calçadas para conversar. Essa prática, até no interior tem sido menos decorrente. O crack e a exclusão social são os principais alastradores desse medo.

A pensionista Antônia de Farias, desde que foi assaltada na Via Expressa, tem medo de dirigir. “Estou com pânico. Fico olhando para os retrovisores o tempo todo”, fala. Ela assume que vê os programas policiais para saber o que acontece na cidade. “Sei que há uma espetacularização, mas tudo aquilo é verdade. Quando minhas filhas saem de casa fico acordada a noite toda. Isso é vida?”, questiona.
De acordo com o pesquisador do Laboratório do Estudo da Violência (Lev), da UFC, Ricardo Arruda, a mídia dá uma visibilidade maior em casos de assassinatos, casos rumorosos. “Estamos diante da crise da pessoa humana. Às vezes a gente se acha no velho oeste, é a chamada aceleração do medo”, afirma. Ele desenvolve pesquisa na área de homicídios, mais especificadamente pistolagem, desde 2003.

Nicho social
“Não necessariamente a cidade está mais violenta, mas, sim, a visibilidade que hoje é dada a determinados casos”, acredita Ricardo Arruda. Ele ainda enfatiza que crimes contra as classes mais abastadas recebem uma maior atenção na mídia. “No mesmo dia em que houve o latrocínio contra a empresária Marcela Montenegro, houve também a morte de um jovem na Praia do Futuro, e este caso não ganhou tanta repercussão”, reafirma.
Para o pesquisador, a mídia dá lucro para as empresas de segurança. “É o chamado lucro do terror”, completa. Ele ainda repudia os programas policiais que desrespeitam os direitos humanos. “Esse tipo de imprensa coloca uma lente de aumento. A mãe que vê aquilo, na mesma hora vai ter medo de que seu filho saia de casa”, fala. Porém, Ricardo Arruda pontua que não se pode generalizar, pois existem muitos veículos sérios.

“FOBÓPOLIS”
A população, diante dessa insegurança, passa a ficar mais desconfiada, é a chamada “fobópolis”. “O pior é que as pessoas não confiam mais nas autoridades e na política, e cada vez mais querem se armar”, completa. Segundo pesquisas, os homicídios que acontecem na Capital, em 90% dos casos são pelo uso de armas de fogo e por pessoas de até 30 anos de idade.

Um coronel aposentado que preferiu não se identificar, disse que, apesar de possuir a autorização para o porte de armas, sua família pede para que ele não a use. “Mês passado fui assaltado e chamado de vagabundo pelo ladrão. Nesse momento, agradeci não estar portando arma de fogo, pois poderia não estar aqui hoje para contar a história. Os bens materiais vão e vêm, já a vida é única”, finaliza.

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