Voluntários brasileiros partem em navio-hospital para o Haiti






Kamila Fernandes
Especial para o UOL Notícias
Em Fortaleza
Setenta e quatro brasileiros voluntários, onze deles civis, embarcaram na manhã desta quinta-feira (28) no navio da Marinha italiana Cavour, um porta-aviões que funciona como um navio-hospital e que segue para o Haiti para auxiliar no socorro médico dos sobreviventes do terremoto do dia 12. Esta é a primeira vez que a Marinha brasileira integra uma missão humanitária em parceria com outro país, segundo o comandante da Marinha do Brasil, o almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto.

O Cavour atracou por volta das 10 horas (11 horas no horário de Brasília) no porto do Mucuripe, em Fortaleza. Onze médicos civis brasileiros, selecionados em diversos Estados, e todos os demais militares embarcaram para integrar a ajuda humanitária, que deve durar no mínimo um mês, mas não tem data certa para acabar. São médicos de diferentes especialidades - entre elas obstetrícia, anestesia, traumatologia, pediatria e cardiologia -, com experiência em atendimento emergencial, que irão cuidar de casos graves sem deixar o navio.


Navio Aeródromo Cavour chega a Fortaleza

Enfermeiras em uma das salas de cirurgia do navio

Helicópteros italianos serão levados ao Haiti
"Creio que vamos encontrar um quadro com doenças infecciosas derivadas das duas últimas semanas, as sequelas do desastre", disse a médica Maria da Graça Falkembach, 59, anestesista que trabalha em Porto Alegre e que há oito anos atuou numa missão humanitária no Timor Leste.

"Quando houve o chamado para voluntários, minha família não pensou duas vezes e me disse 'vá'.
Creio que qualquer ajuda será de fundamental importância para tantas demandas daquela população", afirmou a obstetra Lúcia Helena de Albuquerque, 49, de Porto Alegre, que ajudará no parto das grávidas haitianas.

Único cearense no grupo, Frederico Arnaud, 44, acredita que, além de experiência - ele atua há 20 anos no atendimento em emergências e UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) -, é necessário vocação para participar de uma missão dessas. "O que mais motiva é saber que vamos fazer um trabalho muito necessário. Estou ansioso para poder ajudar", disse.

Tripulação e tecnologia
Essa será a primeira missão humanitária do próprio Cavour. Nele, seguem 890 militares italianos - a grande maioria da Marinha, mas há também representantes do Exército e da Aeronáutica -, que não irão apenas prestar o socorro médico. Eles também pretendem colaborar na reconstrução do Haiti, já que há engenheiros e outros técnicos a bordo.

Já entre os brasileiros, além dos onze médicos civis, há outros seis médicos e dez enfermeiros da Marinha - todos serão chefiados por um médico militar, o capitão-de-fragata Álvaro Figueiredo Bisneto, além de onze oficiais e 36 praças. Os militares não médicos seguem para o Haiti para pilotar os helicópteros que seguem a bordo - dois brasileiros e seis italianos - e para outras ações que forem necessárias.

O navio - que deixou a costa italiana no último dia 22 - parte hoje para o Haiti, sem qualquer parada, onde deve chegar entre segunda e terça-feira. Também hoje deve partir do Brasil para o país outra embarcação, o navio Almirante Henrique Sabóia, com saída prevista do Rio de Janeiro com uma carga de ajuda humanitária e material de apoio para a Marinha brasileira, segundo Moura Neto. "Creio que essa operação foi montada em tempo recorde, por grandes profissionais que trabalham com muita amizade e eficiência", disse o embaixador da Itália no Brasil, Gherardo La Francesca.

Atendimentos a bordo
Os médicos que seguem no Cavour não devem ir a terra. O resgate de pacientes será feito por helicóptero, com o apoio de médicos que já estão atuando nos hospitais de campanha. O navio está preparado para atender casos de alta complexidade, cujo cuidado nos hospitais disponíveis em terra é considerado insuficiente.

No navio há duas salas de cirurgia, 12 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), 40 leitos com oxigênio e outros 100 para casos mais simples. Há ainda um aparelho de tomografia e radiografia e uma câmara hiperbárica móvel, onde podem ser atendidos 12 pacientes simultaneamente, para acelerar a recuperação em casos graves de fraturas, amputações e infecções, como explicou o comandante do navio, Gianluigi Reversi.

A embarcação leva ainda donativos da Itália: 135 toneladas de comida do World Food Program, 77 toneladas de materiais da Cruz Vermelha e 40 toneladas de outras ONGs. Também serão levados 181 veículos, o que inclui ambulâncias e outros veículos que serão deixados no Haiti.

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