Opinião


Coragem de adotar
Dois anos depois, o jornal sente-se recompensado, em parte, pelo seu esforço continuado de conscientizar a sociedade cearense sobre a importância de adotar um filho.

O jornal O Estado iniciou, em 2008, a Campanha de Adoção de Crianças e Adolescentes. Dois anos depois, o jornal sente-se recompensado, em parte, pelo seu esforço continuado de conscientizar a população cearense sobre a importância de adotar um filho. Reconforta-nos que a sociedade tenha compreendido a nossa mensagem e que outros veículos de comunicação adotaram a pauta como suas, fazendo reportagens sobre a matéria. A nossa satisfação só não é completa, ainda, porque constatamos que a dura e injusta situação de crianças e adolescentes em abrigos, no Ceará e no Brasil, continua absolutamente a mesma, pela lentidão de promotores públicos e juízes no encaminhamento e decisão sobre os processos de adoção.

No Ceará, por exemplo, 570 crianças e adolescentes encontram-se em situação de abrigamento, isto é, vivem em instituições públicas à espera da morosa decisão do Ministério Público e da Justiça para inseri-los em convívio familiar, um ambiente onde todos eles deveriam estar. No Brasil, são 80 mil crianças e adolescentes nesta situação dramática e apenas 10% delas estão aptas, pelos agentes do Direito, para serem adotadas.

É um absurdo que em um país, como o Brasil, preocupado com o respeito aos direitos humanos, em particular da criança e do adolescente, a Justiça solte bandidos e mantenha crianças e adolescentes prisioneiros em abrigos. Desta forma, fazemos nossa, ou melhor adotamos a corajosa opinião do Promotor de Justiça do Rio de Janeiro, doutor Sávio Bittencourt, publicada no artigo “Institucionalização Criminosa”, no caderno especial sobre adoção do O Estado, do ano passado:

“...estreita é a visão de muitos operadores do Direito, que preferem aderir aos discursos oficiais sobre as causas da institucionalização desenfreada e irremediável de crianças, indicando a pobreza de uma família biológica idealizada como principal razão dos abrigamentos, sem enfrentar esta situação com prioridade absoluta, abrindo a caixa-preta das instituições e descobrindo os motivos reais de cada abandono. Tal esforço, que seria revolucionário e transformador, fica cerceado pela preguiça, pela empáfia, pela ignorância e pela demagogia. A sociedade não pode tolerar tal omissão e deve organizar-se para enfrentar as resistências armadas em barricadas elegantes de prédios com ar-condicionado central”.

Editorial do Jornal O Estado deste 29.12.2009

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