Mensalão da oposição

cristiana lôbo

O governador José Roberto Arruda tem dito a correligionários que não cogita renunciar ao mandato e pretende se defender das acusações de desvio de verbas públicas e distribuição de recursos à base aliada feitas pela operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. A estratégia, porém, estava definida antes da divulgação de vídeos mostrando que ele próprio recebeu um pacote de dinheiro das mãos do denunciante Durval Barbosa.

A informação da PF é a de que tal vídeo fora feito ainda na campanha de Arruda ao governo do Distrito Federal. Porém, a denúncia é de desvio de recursos depois de assumir o Palácio do Buritis, em Brasília. A resposta do advogado de Arruda é a de que o dinheiro fora usado para a compra de panetones para distrbuição à famílias carentes e que teria até notas comprovando a compra.

É uma explicação pouco convincente a esta altura das denúncias de um ex-auxiliar. Outros vídeos mostram auxiliares do governador recebendo recursos do mesmo “fornecedor”, já durante o governo de Arruda. Estes envolvidos foram afastados de seus cargos e o governador continua em silêncio, recolhido em sua residência.

O fato concreto é que a Operação Caixa de Pandora atinge o coração do DEM, o principal partido de oposição ao presidente Lula. Arruda é o único governador do partido e era tido como reeleição garantida para a legenda. Além disso, o crime do qual Arruda é acusado é exatamente igual ao que atingiu o PT em 2005, mensalão para doação de recursos à base aliada. Vale lembrar que o DEM foi o principal acusador do PT. Ironia da vida, o denunciante Durval Barbosa, disse em depoimente que Arruda pedia recursos a cada 15 dias. Ou seja, não seria mensalão, mas “quinzenão”.

A denúncia enfraquece o DEM, ainda, na campanha presidencial. O partido estava, por meio de seu presidente Rodrigo Maia, reivindicando a vaga de vice na chapa tucana – caso o partido não lançasse um “puro sangue” – Serra e Aécio. Agora, o partido perde força e nomes para isso, uma vez que o de Arruda chegou a ser cogitado.

O estrago político da operação da PF já está feito. Falta saber, no entanto, a dimensão desse estrago – se Arruda será ou não obrigado a se afastar -, se o vice Paulo Otávio sairá junto, pois também é citado no depoimento de Durval Barbosa -, e o que mais está por aparecer. Vale lembrar que o presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente, também é apontado como um dos beneficiários do esquema de distribuição de recursos. No caso de afastamento, portanto, o governo seria transferido ao presidente do Tribunal de Justiça.
Postado por Cristiana Lôbo - Para o Portal G1 - em 28 de novembro de 2009 às 22:39

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