Da BBC Brasil

Estados Unidos
Lucas Mendes: Cem dias e meio...
Lucas Mendes

De Nova York para a BBC Brasil


Quando Obama completou 50 dias na Presidência apareceram colunas e comentários sobre os primeiros 100 dias. No país da gratificação instantânea, em política exigimos gratificação antecipada.

No Google, ontem, um clique em Primeiros 100 Dias trazia mais de 28 milhões de referências sobre 100 de Barack Obama. Em 100 dias você não lê a tralha toda. Vamos dizer que li umas dez horas e nos próximos 3 minutos resumo o que vi, li, ouvi e dou meu plá sobre os 100 dias e meio. Afinal já entramos na segunda safra dos 100 dias.

A primeira comparação é com o último presidente, George W. Bush, que completou os 100 dias num domingo e comemorou na segunda-feira com um almoço na Casa Branca. Convidou 100 congressistas, metade compareceu. Ele ia ladeira abaixo, atolado nas pesquisas e no Congresso, quando derrubaram as torres do World Trade Center. Ele saiu dos escombros, nos deu oito anos de ansiedades, mediocridades, abusos, dúvidas, guerras e uma recessão quase depressão.

E nos deu também Obama, que como Ronald Reagan, pegou o país numa recessão. Os dois presidentes têm os números mais aproximados nas pesquisas dos 100 dias, mas com promessas opostas: Reagan, de encolher o governo, Obama, de governar até bancos e montadoras de automóveis. Para o republicano, o governo era o problema, para o democrata é a solução.

Esta medida dos 100 dias surgiu na Europa, no período entre a volta de Napoleão de Elba e a derrota dele em Waterloo. Nos Estados Unidos, o marco foi criado para medir os 100 dias de Franklyn Roosevelt que herdou a pior crise econômica dos últimos 100 anos. No meio de uma depressão, rompeu barreiras e forçou 15 leis históricas pela goela do Congresso que, além de desmoralizado, estava aflito para sair de férias e fugir do calor brutal que se aproximava. O prédio não tinha ar condicionado.

O presidente Lyndon Johnson também foi um campeão em aprovação de leis num prazo curto, mas o recordista em popularidade ainda é John F. Kennedy, que não tinha um pacotaço de leis e aprovou fracassos, entre eles a humilhante invasão de Cuba. Mas no final dos 100 dias, só 6% dos americanos estavam contra ele.

Se aqui as pesquisas dão Obama na faixa dos 60% de aprovação, fora daqui ele continua nas grimpas, talvez tão ou até mais popular do que Kennedy. O mundo gosta de Obama. Já passou 13 dias fora e encontrou 33 líderes. Nem muito, nem pouco, mas nem Chávez tenta atropelar o presidente. O Irã freia, derrapa, sai pelo acostamento. A Coreia do Norte vai na contra mão, a China não sabe se é hora de ultrapassar ou empurrar os americanos. Apesar dos reticentes, teimosos e duvidosos, ele é um sucesso.

Pouco antes dos 100 Dias, a Casa Branca e o próprio presidente fingiram que a data era uma criação da imprensa, tão importante quando 99 ou 101 dias, mas por trás dos bastidores, os marqueteiros do presidente encheram o bolo de aniversário com matérias otimistas na grande imprensa. Por que não capitalizar nas pesquisas e no otimismo americanos?

Comparado com o que vem pela frente, os 100 Dias foram uma lua de mel e já temos um filhote. Chama-se Nova Fundação. The New Foundation, na linha do New Deal de Franklyn Delano Roosevelt e da Great Society de Lyndon Johnson, os Estados Unidos vão se reconstruir em bases sólidas. Chega de castelos de areia, bancos sem fundos, corretoras sem leis, justiça com tortura, ministérios e políticos corruptos.

Os investimentos econômicos e financeiros dos 100 Dias ainda não podem ser medidos, mas os resultados políticos são positivos e os americanos acham que o país está na direção certa, entre eles o influente senador Arlen Specter, da Pensilvânia, que abandonou o Partido Republicano. Neste momento "é o cara" de Barack Obama.

O presidente merece os 60% de aprovação, mas se acrescentarmos Michele e Bo acho que ele vai a 80%. Depois de tantas primeiras-damas bem vestidas e comportadas, politicamente frouxas e pouco educadas, Michele é uma iluminada. Não tem medo de abrir a boca nem as portas da casa.

O impacto de Bo é imensurável, mas uma história do próprio presidente nos dá uma noção do prestígio do melhor amigo do presidente. Obama estava levando o cão d'água português para uma caminhada pelo gramado da casa quando foi flagrado por um grupo de turistas e um deles gritou: Olha lá! É o Bo.

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