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Favorito
para assumir a presidência do Senado pelos próximos dois anos, Eunício
Oliveira (PMDB-CE), 64, avalia que a Operação Lava Jato criou uma
prerrogativa de culpa sobre os políticos antes mesmo que se prove o
conteúdo das delações premiadas.
Em entrevista à
Folha, diz que, em momentos de "desespero",
delatores "criam, inventam e até mentem" para conseguir o benefício ao
fechar acordo de colaboração.
Citado pelo ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, que o acusa de
ter recebido propina, Eunício nega: "sei o que não fiz".
Folha - O sr. construiu ampla aliança. Como atender a partidos tão antagônicos, como PT e PSDB?
Eunício Oliveira - A costura foi feita com cada partido, respeitando o
espaço e o direito adquirido nas urnas: a proporcionalidade. Se tiver
essa compreensão de que a regra é para todos, pode não agradar a todos,
mas você aceita.
O sr. participou do acordão que fatiou o julgamento do impeachment e
permitiu que Dilma Rousseff mantivesse seus direitos políticos. Isso foi
negociado para que o PT apoiasse a sua eleição?
Isso nunca foi tratado, nem com o presidente Lula. Conversei com o líder
do PT [Humberto Costa], com Jorge Viana (PT-AC), Paulo Rocha (PT-BA),
inclusive com Lindbergh (PT-RJ), dizendo: "não misturem as coisas. Aqui é
o espaço que vocês conquistaram nas ruas e quero preservar".
Se isso não estava na negociação e Temer não concordava com o fatiamento, porque o sr. participou do acordo?
Temer poderia ter um ponto de vista diferente do meu. A disputa política
é uma posição do PT. Quem está no governo é o meu partido. Não há
nenhum compromisso de silêncio, de votação de matéria. Não vou pedir a
eles e eles não me devem nada.
O sr. faz parte de um grupo que controla o Senado há anos, com Renan
Calheiros, José Sarney e Romero Jucá. Propõe alguma mudança?
Se eu tivesse que ser de algum grupo [no PMDB], seria da Câmara. O
presidente Renan tem um estilo. O meu jeito já foi demonstrado por onde
passei. O Senado não pode ficar batendo carimbo. Durante cinco anos, não
houve diálogo com a Câmara.
Esse ano haverá muitos projetos e decisões polêmicas, por exemplo, o de abuso de autoridade. O sr. concorda?
Presidente não vota. Mas quem vai defender abuso de autoridade? Aquele
momento era adequado, a discussão era aquela, houve diálogo com outro
Poder? Não tenho nenhum problema em procurar o procurador-geral da
República [Rodrigo Janot], a associação de procuradores, o STF para
dialogar.
O sr. defende qual perfil para o novo ministro do STF, no lugar de Teori Zavascki?
O momento exige um nome que tenha o perfil parecido daquele que não está
mais entre nós [Teori Zavascki], mas que se notabilizou exatamente pelo
respeito ao Direito e à Constituição.
Renan defendeu a indicação do ministro Alexandre de Moraes (Justiça) para a vaga de Teori Zavascki.
Renan tem a opinião dele. Prefiro não me manifestar porque a escolha é prerrogativa do presidente Temer.
Moraes tem perfil político, é filiado ao PSDB, integrante do governo e apoiado por partidos.
Ele também é um perfil técnico, não é? A Justiça é um ministério técnico.
Há divergências sobre o processo de escolha do novo relator da Lava
Jato. Como o sr. acha que a presidente da Corte, Cármen Lúcia, deve
proceder?
Não conheço o regimento do STF. O fato de Temer achar que tem que
escolher [o novo ministro] depois da escolha do relator, é posição dele.
O meu compromisso é com a celeridade.
O sr. teme se tornar réu na Lava Jato e o STF decidir que, por isso,
não poderá ocupar a linha sucessória da Presidência da República?
Não sou investigado. Sei o que fiz e o que não fiz. Tenho tranquilidade
em relação a qualquer citação [a meu nome na Lava Jato]. Porque as
pessoas, numa hora dessas de desespero, falam e ninguém pode impedir.
Para conseguir o benefício da delação premiada elas precisam provar o que falam.
Mas isso é lá na frente. As pessoas criam, inventam e até mentem para
poder ter o benefício da delação. Não posso impedir que a pessoa fale ou
cite nada.
O sr. é acusado pelo ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho de
ter recebido R$ 2,1 milhões em propina para aprovar MP de interesse da
empreiteira. Recebeu esse dinheiro?
A MP 613. Não fui presidente da MP, não fui líder, vice-presidente, relator, não fiz uma emenda supressiva ou aditiva...
Mas ele alega que a influência que o sr. tinha ajudava.
Raciocine um pouquinho: você não me conhece, nunca me viu, como eu te estuprei?
O sr. não conhece Cláudio Melo Filho?
Conheço porque moro em Brasília, de encontrar em avião e restaurante.
Não é relação de amizade. Uma história qualquer um conta. Quero provas
de que recebi o dinheiro.
Cláudio Melo Filho diz que Ricardo Augusto, seu sobrinho, foi ao
escritório da Odebrecht para entregar "a senha e o local" onde os
pagamentos seriam realizados.
Isso não aconteceu. Ir em empresas para pedir contribuições era regra.
Cadê a entrega desse dinheiro? Quem recebeu? Quero que alguém diga
'entreguei para o Eunício'. Sei o que não fiz e quero tranquilizar meus
pares em relação a isso.