Bom dia

Se
Se você não tem futuro, é passado. Ser estatua, ser história,simplesmente a sua história, é permitir os pombos a sujarem seus ombros e sua cabeça. Vai ver que pensando assim fujo, feito o diabo da cruz, da ideia que amigos e parceiros vivem a cutucar meus mal feitos a por isso em livro. Andanças, reportagens, inusitados, tudo,inclusive amores, em livros para que todo mundo saiba. Mas se todo mundo não sabe, alguns sabem. Os que viveram essas histórias sabem e elas estão contadas nas suas próprias vidas.
Se você não tem futuro, é presente. Ser a história em movimento, em ação, não é tão simples como ou quanto ser espantalho que afugenta pássaros predadores de seu milharal ou estátua que abriga bosta e doenças de pombos. Esa simplicidade que não existe, é será simples mais que uma fotografia ou um retrato na parede a doer como conta o poeta de Minas. Reportagens foram feitas, então histórias foram contadas. Por quê teria que dizer como foi feita, ou quais emoções permearam aquilo que fui pago pra sentir, pensar, editar, escrever?
Se você não tem futuro, é futuro. É projetar amanhãs, manhãs, caminhos que não fará jamais a menor idéia de onde darão ou em que chegarão. Uma história não é o que se conta ou o que se faz, mas tudo o que cerca sua concepção. Quem ouviu a ameaça de ir pretim-pro-mei-dozinferno porque estava lendo um livro, ou sentiu a mão de Deus, na carne, na alma, no destino, não precisa escrever livros com suas historinhas medíocres, permitidas por um Deus generoso que te deu sentidos para aprender e vida pra descrever ou escrever esses aprendizados.
Se você não quer ser passado, sabe que o presente é etéreo e o futuro lhe move, então, resta-lhe ser. O simples ocupar do espaço que lhe permitem é ser. Ser em sí, ser no outro, ser pro outro, ser pra todos. Para isso fomos feitos. Por isso arma-me o braço e a sensação de te-lo a tamburilar desde muito cedo as teclas da vida que me fizeram ser o que quis, quando e como quis. De fazer meus caminhos sem medo de nada, porque o medo não te permitirá ter sequer passado, não saber o que é o presente, não distinguir agora com hoje, amanhã com futuro, hoje com passado que ficou no ontem.
Quanta bobagem! Tudo isso pra comemorar 73 incansáveis primaveras, onde repousam erros, cochilam pequenos feitos, dormem grandes sonhos. E nada disso é ou será velho. Nem o tempo, nem a luz, nem o sopro divino porque o Divino é eterno e uno e santo. Ter contado tantas histórias de vidas, alheias, não dará a ninguém, jamais, o direito a contar sua própria porque ela, a sua vida, não terminou. Quando terminar, aí sim, alguém contará na mesa do bar, na cremação do corpo sem vida, na missa do domingo, numa lembrança qualquer,quem sabe num orgasmo tardio, perdido.
Que coisa mais besta contar 73 anos como se fosse muita coisa. Feitos, desfeitos, malfeitos, desfeitos, defeitos, tudo e nada se comprimem em alguém te ligar, mandar um bilhete,um vinho, um abraço. Que coisa mais besta contar em décadas, ou em lustros, ou em anos, 73 entendidos desde os 3, como definitivos. Aos 3 alguém bem poderia imaginar o que seria aos 73, mas não saberia dizer por onde andar pra conseguir o feito. Se você pensar assim, voltando, vai ter passado, vai pensar que é presente e não contará o futuro. Vai ser apenas um velho ressentido e isso quem pensa, jamais se tornará. Velha é a sua mãe que envelheceu em você.
Hoje é 25 de outubro. Nesse dia,em 1946 nascia mais um desafiante a ser feliz. E está sendo.

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