Com o título “Agosto vem aí”, eis artigo de Antonio Mourão Cavalcante, médico, antropólogo e professor universitário. Ele aborda o caso do vazamento das conversas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol. Para ele, a ordem, pelo visto, era impedir a vitória do PT no pleito passado.

As revelações feitas pelo site The Intercept Brazil, sobre inúmeras mensagens que o então juiz federal Sérgio Moro teria trocado com o promotor Deltan Dallagnol acerca dos processos de Lula, poderão ter imensa repercussão. Segundo o noticioso, eles tem inclusive mais chumbo grosso. Mais informações, na ponta da agulha, para detonar.
Os mais atentos não foram tomados de surpresa pelas denúncias reveladas. A pedra já tinha sido cantada. Inúmeras manobras foram intentadas, ao longo da Operação Lava-Jato, que faziam desconfiar. A tal República de Curitiba tinha um objetivo bem claro: instrumentalizar-se da Justiça para tirar o PT – sobretudo Lula – do jogo sucessório. Todas as acusações convergiam para esse desiderato. Houve uma condução coercitiva que pretendia levá-lo a Curitiba. Foi abortada, no último momento, no Aeroporto de Congonhas. Houve o vazamento de telefonemas de Lula com Dilma, quando esta ainda era Presidente da República. E uma série de outras arbitrariedades e arrogância.
O importante era impedir a vitória do PT, leia-se, do Lula. As pesquisas indicavam, objetivamente, que ele ganharia em todos os cenários desenhados.
As gravações agora reveladas confirmam a tendência desejada e buscada pela Justiça Federal do Paraná. Não existem mais dúvidas. Está configurada uma denúncia gravíssima. Quais serão os desdobramentos e conseqüências?
Crise a gente sabe como e quando começa. Jamais como e quando termina. O flanco está aberto. Se a repercussão for grande, irá mexer com a própria legitimidade do pleito acontecido e, por conseqüência, no governo em curso. Trocado em miúdos, um candidato foi preso e cerceado em sua liberdade, até aquele momento, muito mais por uma motivação política do que por ditames jurídicos. O ânimo era unicamente alijar Lula – definitivamente – do processo eleitoral e da política nacional. E agora? Ainda há clima para manter Lula preso?
Mesmo as conseqüências sendo menores, pode-se afirmar que as pretensões políticas do ex-juiz Moro estão encerradas. Nem deve esperar solidariedade maior do Presidente Bolsonaro. E, em consequência, adeus STF.
Se a turma do abafa conseguir sufocar as denúncias, estes acontecimentos terão marcado o governo com mais um imenso desgaste político na conta do Governo Bolsonaro. Seguramente, comprometendo as composições políticas que tanto deseja para fazer avançar as reformas.
Isto é, a crise pode apenas estar começando. Agosto vem aí!
*Antonio Mourão Cavalcante,
Médico, antropólogo e professor universitário.