Bom dia



Tenho manias. Todos têm. Uma delas é guardar coisas preciosas como escritos que por mais que o tempo passe mais atuais ficam. No começo deste ano que hoje finda, Ricardo Kotscho postou no seu Balaio, a opinião que segue:

Nelson Rodrigues tinha razão: “Os idiotas irão tomar conta do mundo”

13 de fevereiro de 2018 Ricardo Kotscho Comments 20

Nelson Rodrigues tinha uma obsessão pelos idiotas. Combateu-os a vida toda, mas eles venceram, e se multiplicaram.

Foi premonitório numa das suas célebres frases sobre este fenômeno humano:

“Os idiotas irão tomar conta do mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade”.

Vivo fosse, Nelson Rodrigues teria hoje 106 anos. Continua mais atual do que nunca.

Por que me lembrei dele justamente nesta terça-feira do Carnaval de 2018?

Fico pensando no que Nelson escreveria em sua coluna “A vida como ela é” sobre o noticiário destes dias em que a idiotice nacional bate todos os recordes.

E olhem que no tempo dele ainda não existiam as redes sociais, um terreno fértil para os idiotas que ele imortalizou em sua extensa obra.

Num país que tem hoje 20 pré-candidatos à Presidência da República, espalhados por mais de 30 partidos, um deles ameaça metralhar a Rocinha para combater a violência se for eleito e os banqueiros nativos batem palmas de pé.

Outros dois presidenciáveis compraram jatinhos com dinheiro público a juros baixos e tem quem defenda este direito como uma oportunidade de mercado, ao mesmo tempo em que blasfemam contra a corrupção.

“A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas que são a maioria da humanidade”, escreveu ele, mais de meio século atrás.

Nelson iria enlouquecer de raiva se lesse os comentários publicados no papel e nas redes digitais nestes últimos dias.

Ao mesmo tempo reacionário na ideologia e revolucionário na dramaturgia, não se conformava com a mediocridade e imbecilidade dos seus contemporâneos do século 20.

Não sabe o que perdeu ao morrer antes deste século 21 que revelou Donald Trump ao mundo e pode eleger Bolsonaro no Brasil, que ainda se espanta com os tapa-mamilos das mulheres de peitos de fora, enquanto o presidente Temer vai de Mangaratiba para Roraima cuidar de venezuelanos e o prefeito carioca Crivella passa o Carnaval na Alemanha.

“Daqui a 200 anos, os historiadores vão chamar este final de século de a mais cínica das épocas. O grande acontecimento do século 20 foi a ascensão espantosa e fulminante do idiota”, foi outra das suas constatações pouco generosas com a humanidade.

“Espera para ver o século 21…”, poderia lhe ter dito Ulysses Guimarães, parafraseando aquela sua profética frase sobre o Congresso Nacional, que os jornalistas da época criticavam: “Espera para ver o próximo”.

Mais do que nunca, a vasta obra do “Anjo Pornográfico”, tão fielmente retratado na biografia de Ruy Castro, é leitura obrigatória para entendermos melhor o que está acontecendo, com seus inacreditáveis protagonistas e comentaristas.

Nelson Rodrigues vive.

Agora falta pouco. Daqui a mais algumas horas entraremos na Quarta-Feira de Cinzas, acaba a fantasia e começa tudo de novo.

Vida que segue.

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