Sobre
Bolsonaro, o cancelamento da COP-25 no Brasil e o 'Triplo A'
O futuro presidente eleito mencionou mais uma vez o ‘triplo A’ ao
responder, ontem, uma pergunta sobre a desistência da organização da COP-25
no Brasil em 2019. Mas afinal, por que esta obsessão com uma obscura ideia do ex-presidente colombiano Juan Manuel
Santos que nunca chegou a ser levada a sério pelos governos Dilma e
Temer? Uma busca na internet dá uma pista: Bolsonaro e sua entourage
se mobilizam com blogueiros, de preferência de direita, e a ideia que propõe
organizar um megacorredor de biodiversidade de 200 milhões de hectares
protegendo partes da Amazônia na Colômbia, no Brasil e na Venezuela foi
objeto de matérias em blogs ligados à direita como o Ambiente Inteiro, o SputinikNews e o Defesa Aérea e Naval, todas baseadas em um
pensamento geopolítico um tanto delirante de um tal professor Rogério
Maestri. Para ele, “esse tal
corredor ecológico (...) não é um corredor, é uma verdadeira ocupação. É o
germe de uma ocupação de uma parte do Brasil com o objetivo de isolá-lo do
norte, do Caribe, e a América do Sul da parte norte”.
Segundo
uma matéria de 2017 d’O Eco, a repercussão desta ideia,
quando foi assumida pelo ex-presidente colombiano, fez com que o assunto
chegasse à Dilma por vias não diplomáticas, o que azedou a possibilidade da
então presidenta levar a sério a proposta. Ainda segundo O Eco,
representantes do governo Temer até chegaram a conversar sobre a ideia com
suas contrapartes latino-americanas, mas esta “não teria a possibilidade de
sucesso da forma como [foi] colocada”. Portanto, o 'triplo A' não chegou a
ser agenda dos fóruns latino-americanos e nunca foi levado como proposta ao
Acordo de Paris. Aliás, a lógica do Acordo de Paris se baseia em promessas
soberanamente feitas pelos estados nacionais que dele fazem parte, e a
promessa brasileira, nossa NDC, sequer menciona a proteção
destas áreas.
Em tempo: na conversa de ontem com jornalistas, Bolsonaro disse
que "se isso (o Triplo A) for o contrapeso, nós, com toda certeza, (...)
teremos uma posição que pode contrariar muita gente. Mas vai estar de acordo
com o pensamento nacional. Então, eu não quero anunciar uma possível ruptura dentro do Brasil, além dos
custos [pela realização da COP] que seriam, no meu entender bastante
exagerados, tendo em vista o déficit que nós já temos no momento".
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