Bom dia

Tidim

Quando morre um dos nossos, fica a vida cheia de vazios e vazia de alegria. É como quando estamos longe, muito longe...o espaço e o tempo do reencontro ferem tanto a alma que nos faz cientistas como o velho que mandou a Sobral uma equipe pra provar que a luz, no espaço e no tempo, tem peso e faz curva.
É o peso da ausência que nos curva a espinha numa genuflexão pelo que está dentro de nós querendo fugir de nós mesmos. São dores se expurgando, sentimentos passados a limpo, vida se esvaindo num cenário de guerra, num teatro que a existência nos obriga a ver e...rir e chorar e rir de novo e chorar de novo.
O Tidim morreu, diz o Tião Meia Meia num escrito entre desabafo de dor e crônica de saudade. Jogo ao chão os joelhos que um dia se jogaram ao lado dele, nas porfias do futebol, nas brincadeiras das viagens, nas paixões que nos aproximava dos amores vizinhos.
Desde muito cedo estivemos juntos porque nascemos e moramos basicamente na mesma rua João Pessoa, porque a rua dele era uma extemsão da nossa. Desde muito cedo íamos à pelada na Praça do Figueira depois do pão com manteira na padaria do Seo Salu e da torrefação de café que ele ainda menino gerenciava.
Mães amigas eram aflitas quando nosso trem não chegava de volta, fosse do Ipu,Camocim, Granja...pela aí. -Maria, o Pompeu Macário já chegou? - Não Albinha, e o Manoel Francisco, deu notícia? Elas se cuidavam uma da outra cuidando da gente e das nossas ligeiras ausências quando o esporte nos arrancava de casa.
E veio a puberdade e veio a juventude e as namoradas e as paixões que nos fazia gastar intermináveis litros de gasolina na lambreta com a qual arrodeávamos os palácios das divas. E os encontros, mais tarde, depois dos namoros próximos, o Tião, o Tidim e eu.
A vida nos separou no começo de tudo e nos uniu mais tarde, ou reuniu se assim quiserem. Uma profissão me levou pra longe, um trabalho nos afastou até nos reunir outra vez na minha profissão confessa e indiscutivel. E ele adorava oferecer aos amigos apoios e oportunidades. Fe-lo comigo mais de uma vez.
E como sempre nos encatamos com o que tínhamos que fazer até que a política o levou com febre de realizações. E não fora o destino teria ido muito mais longe. O velho Pinda, jogava bola como poucos, mas nunca jogou com a vida. A ela, deu-se pelas famílias, pelos filhos, pelos amigos.
Se me perguntarem um dia se conheci alguém que cumpriu os mandamentos da Lei de Deus, diria que o Tidim cumpriu o primeiro e mais importante: Honrar pai e mãe. Ah, isso ele fez por amor, respeito, admiraçao, reconhecimento, decencia, veneração e porque tinha que ser assim: Primeiro honrar pai e mãe e amar ao próximo como a si mesmo.
Li tantas coisas na vida, tantos livros, tantos compendios, tantas apostilas, escrevi livros, discursos, panfletos, cartas, propagandas mas jamais conseguí decifrar o Chagas Neto, o Manoel Francisco, O Tidim, o Pinda em toda sua plenitude. De onde tirava tanta generosidade para com as pessoas.
Levou pra si o segredo. Deixou pra nós o decífra-me ou devoro-te. Devorando está, com esta saudade maluca, este buraco enorme em nossas existencias, mas a certeza de que um dia, seja la quando ou como for, estaremos juntos. Deus há de ter dado a ordem a São Pedro: Cuide desse aí que é dos meus.
Imagino São Pedro, aquela enorme barba, barrigão proeminente, à chegada do Tidim no céu, a dizer...Entre meu filho. Aquelas colunas ali mandamos fazer pra voce. Aqui estará tudo sempre justo e perfeito. E sente ali, naquele canto que seus amigos - alguns claro - um dia chegarão e cês vão alegrar as tardes e as noites do infinito.
Té mais tarde amigo velho de tantas guerras.

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