Fortaleza e a Região Metropolitana têm sido palco de uma série de
ataques a ônibus e prédios públicos desde a última sexta-feira, 27. Até
ontem, já haviam sido atingidos 14 veículos da frota do transporte
público, além de agências bancárias, do depósito do Departamento
Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE) e de uma agência dos Correios
no bairro Jacarecanga.
Segundo Ana Paula Cavalcante, presidente do Sindicato dos Policiais
Civis de Carreira do Estado do Ceará (Sinpol), isso tem relação direta
com o que julga ser um desequilíbrio na distribuição de atenção,
recursos e amparo às diferentes polícias no estado. “Há um investimento
muito forte na Polícia Militar e não se vê o mesmo tratamento na Polícia
Civil. Segurança pública é como o processo para decolar de um avião,
deve ter duas asas equilibradas, mas o nosso avião tem uma asa
totalmente estruturada e outra mais carente, com efetivo diminuto e
diversos outros problemas. Há cinco anos a gente pede esse equilíbrio”,
diz.
Com esse setor das forças de segurança sendo responsável por realizar
as investigações que resultam na prisão dos criminosos em posições mais
elevadas das facções, o combate a essas organizações fica comprometido
quando não há investimento suficiente nesse equipamento, conta a
presidente. “Do jeito que está, estão prendendo só avião do tráfico,
pirangueiro, enchendo os presídios com esses soldados enquanto os
generais estão tranquilos. Ninguém prende esses generais fardado, tem
que ser com ações de investigação, inteligência, atividades da Polícia
Civil”, continua ela.
Conforme um levantamento recentemente feito pela entidade, 58% dos
inspetores e escrivães da Polícia Civil contratados durante os últimos
dez anos no Ceará deixaram sua posição. É apontado ainda que parte
considerável dos policiais civis formados no Ceará foram atuar em outros
estados. Isso tem relação direta com o efetivo diminuto desse segmento
de polícia no estado.
Falta, para Ana Paula, valorização desse profissional, o que explica o
grande número de policiais que decidem se mudar para outros estados: “Já
vi muita gente fazer concurso para a Civil do Piauí, que é o estado
mais pobre do Nordeste e estava pagando praticamente o dobro do Ceará.
Estamos perdendo bons profissionais”.
Em paralelo a isso, há problemas com a designação dos agentes que
desempenham as funções de inteligência policial. A Coordenadoria de
Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social
do Ceará (SSPDS), conta a presidente, é majoritariamente operada por
policiais militares, quando essa é uma atividade que deveria ser
vinculada à Polícia Civil. Ela avalia que hoje o efetivo insuficiente
dessa polícia quase não consegue dar conta das demandas comuns e que, do
jeito que está atualmente, ficaria sobrecarregado tendo que controlar a
Coin.
Segundo divulgado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de
Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), um total de nove ônibus
foram danificados na sexta-feira, três no sábado e mais dois no domingo.
Desses 14, 10 tiveram perda total e o restante perda parcial. O órgão
esclarece, por outro lado, que está conseguindo manter o serviço de
transporte público em Fortaleza com normalidade, em parceria com a
Secretaria de Segurança e a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza
(Etufor).
As forças de segurança capturaram em flagrante três suspeitos de
envolvimento nas ocorrências do fim de semana: Gean Patrick Aguiar Lima,
19, Pedro Henrique Mesquita de Sousa, 27, e Oderison dos Anjos
Oliveira, 19. Segundo o secretário da Segurança do Ceará, André Costa,
os ataques registrados desde sexta-feira são apontados como retaliação
dos criminosos frente às mortes de três criminosos em um tiroteio com
policiais ocorrido no município de Amontada na última quinta-feira, 26
Medidas
Ana Paula Cavalcante considera que, além de um esforço para alcançar um
equilíbrio entre as duas polícias no Ceará, há outras possíveis soluções
para o problema de enfraquecimento da Polícia Civil. Segundo ela, o
início das atividades da nova unidade prisional do estado, o Centro de
Detenção Provisória, poderá desafogar consideravelmente a atuação dessa
polícia. Caso as pessoas hoje encarceradas nas delegacias possam ser
transferidas para a unidade, será possível liberar cerca de 600
inspetores e escrivães que hoje têm que dar conta desses presos para
trabalhar nas investigações de crimes.
Ela conta ainda que uma iniciativa do Sinpol, que deverá ser aplicada
oficialmente em setembro, poderá contribuir para isso. Trata-se de
unificar as atividades relativas aos cargos de escrivão e inspetor, de
modo a dar mais dinamicidade às investigações e rapidez à conclusão dos
inquéritos. Segundo a presidente, o modelo já é discutido em outros 12
estados, devendo ser adotado pelo Rio de Janeiro, que hoje também passa
por uma grave crise na segurança pública.
Fonte - Jornal OEstado CE
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