*Por Ricardo Guilherme.
O Teatro da Ribeira dos Icós, órgão da Prefeitura Municipal de Icó, é o mais antigo teatro do Ceará.
Inaugurado
em 1860 e remanescente da fase áurea da cidade como centro de atividade
econômica baseada na criação do gado, no cultivo das vazantes do Rio
Salgado e no comércio, durante o final do século XVIII até meados do
século XIX, o prédio foi tombado em 1983 pelo Estado como patrimônio
histórico e artístico.
O
amplo espaço diante e ao lado do qual está implantado o teatro forma um
conjunto arquitetônico composto pela antiga Casa da Câmara e Cadeia, o
Sobrado do Barão do Crato e a Igreja do Bonfim.
A
praça situada defronte a essas edificações ficou conhecida como o Largo
do Théberge (atual Praça Sete de Setembro), em alusão ao médico francês
Pedro Théberge (1811/1864), idealizador do teatro e um dos nossos mais
importantes historiadores, autor do livro Esboço Histórico Sobre a
Província do Ceará, publicado em 1869 por iniciativa de seu filho,
Henrique Théberge, e reeditado em 1973, pela Imprensa Oficial.
Gustavo
Barroso, no livro À Margem da História do Ceará, lembra a rivalidade
entre as cidades de Icó e Aracati e cita o anedotário, criado pelos
aracatienses, segundo o qual a centenária casa de espetáculos de Icó não
teria sido inaugurada solenemente por completa ausência de convidados.
O
historiador reproduz a versão de que a inauguração oficial não ocorreu
porque nenhum representante da elite da cidade quis correr o risco de
ser o primeiro a chegar, receoso de que essa pontualidade pudesse ser
interpretada como típica de um exibicionismo provinciano.
Conforme
citação de Gustavo Barroso, as famílias icoenses vestiram suas melhores
roupas e permaneceram em alerta em suas casas, mandando escravos
espionar o teatro, com ordem de retornar informados sobre a aparição dos
primeiros convidados.
Nessa espera, a noite teria passado e a festa inaugural não teria acontecido.
O
fato é que, além dessas referências maledicentes sobre a pretensa
solenidade de abertura do Teatro de Icó, as escassas informações
referentes à história do teatro em livros ou mesmo no Guia dos Bens
Tomados pelo Estado do Ceará, não fornecem dados esclarecedores quanto à
verdade dos fatos ocorridos naquela noite, em 1860.
Somente
nos anos trinta, já no século XX, a historiografia do velho teatro
ganha contornos mais precisos, quando, então, tem-se notícia de seu
precário estado de conservação e de seu posterior processo de
recuperação e reforma, empreendimento da gestão do prefeito José Pereira
Curado, sob a coordenação do mestre de obras José Pereira Simão.
A
17 de abril de 1935, o jornal O Povo noticia que, com recursos
municipais e verbas provenientes de festivais artísticos, a Prefeitura
inicia os reparos.
A
construção do piso de cimento em placa de duas cores, a reconstrução das
alas esquerda e direita em alvenaria e os retoques na fachada principal
são algumas das melhorias apontadas.
Inativo
em 1934, o teatro é reaberto em maio de 1935, recuperado e parcialmente
reformado. Após 1950, houve um período em que o prédio serviu de forma
adaptada a exibições de filmes e na década seguinte, no foyer funcionou
uma emissora de rádio. Nos anos setenta, o teto da platéia chegou a ruir
e novamente o prédio sofreu interdição.
Em
1978, Francisco Augusto Veloso, chefe da Divisão do Patrimônio
Histórico e Artístico da Secretaria de Cultura do Estado propôs à
Secretaria de Planejamento da Presidência da República um projeto de
recuperação do Teatro, assinado pelos arquitetos Domingos Cruz Linheiro e
Vera Mamede Accioly.
Com
recursos do Programa de Cidades Históricas da Fundação Pró-Memória, o
Governo Virgílio Távora em convênio com a Prefeitura de Icó, na gestão
de Quilon Peixoto Farias, inicia em 1979 as obras de restauração e em
outubro de 1980 o teatro é mais uma vez reaberto como espaço cênico.
Da
programação de reabertura, que se estendeu por todos os fins-de-semana
de novembro, participam a Academia Hugo Bianchi, a Comédia Cearense e os
grupos Independente de Teatro Amador, Pesquisa e Vanguarda.
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