Do jornal OEstado CE

Operação cumpre mandados em Fortaleza

Foi deflagrada ontem, em seis estados (mais o Distrito Federal), a Operação Efeito Dominó, que conseguiu desconjuntar uma organização de grande porte especializada em atividades ilícitas, entre elas tráfico internacional de drogas. Aproximadamente 90 policiais estão cumprindo, ao todo quase, 30 ordens judiciais, algumas delas executadas em Fortaleza. Os outros estados envolvidos são Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Paraíba e Mato Grosso do Sul. A ação é uma sequência de algo maior, a Operação Spectrum, que vem se desenrolando desde o ano passado.
O delegado da Polícia Federal responsável pela operação, Roberto Biasoli, afirmou, ontem, que há indicativos de que dinheiro oriundo do narcotráfico tenha sido entregue a políticos e agentes públicos corruptos investigados pela Operação Lava Jato. “Há indícios de um vínculo muito claro do dinheiro do narcotráfico, em espécie, indo parar nas mãos de políticos”, afirmou Biasoli.
A Operação Efeito Dominó resultou na prisão de oito pessoas, entre elas dois doleiros que atuavam para o narcotraficante Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, conhecido também como o “Embaixador do Tráfico” e “Barão da Droga”. Ele é apontado pela Polícia Federal como o maior traficante de drogas do Brasil e um dos maiores do mundo. No geral foram 18 mandados de busca e apreensão, cinco relativos a prisões preventivas, sendo três de prisão temporária.

O vínculo entre o narcotráfico e as investigações da Operação Lava Jato é o doleiro Carlos Alexandre Souza Rocha, conhecido por “Ceará”. Em 2015, ele firmou um acordo de colaboração premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República) que foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No acordo, Ceará afirma que trabalhava para o doleiro Alberto Youssef como entregador de valores e mencionou repasses de dinheiro em espécie direcionados a diversos políticos como os senadores Fernando Collor de Melo (PTC-AL), Renan Calheiros (MDB-AL) e Aécio Neves (PSDB-MG) – a acusação deste último foi arquivada. Os repasses teriam sido ordenados por empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato.

Biasoli explica que há indícios de que “Ceará” trabalhava como doleiro tanto para o narcotráfico quanto para o esquema investigado pela Operação Lava Jato. A suspeita é que dinheiro recebido por Ceará, oriundo do tráfico de drogas, era depois repassado a políticos e agentes públicos. De acordo com o delegado, há indicativos de que Ceará prestou serviços financeiros ilegais a “Cabeça Branca” em 2016, período posterior à homologação do seu acordo de colaboração premiada.
Biasoli afirma que, durante seus depoimentos à Operação Lava Jato, “Ceará” havia dito que ele seria atrativo a Youssef por ter acesso a dinheiro em espécie oriundo da venda de relógios e vinhos. O delegado diz acreditar que, na realidade, a liquidez à qual “Ceará” tinha acesso era resultado da sua atuação junto ao tráfico de drogas.

Compensação
Igor Romário de Paula, delegado regional de Combate ao Crime Organizado da PF no Paraná, afirma que os doleiros atuam como se fossem uma espécie de câmara de compensação bancária e que o dinheiro oriundo de uma atividade criminosa pode ser repassado a outro cliente que atue em outro ramo do crime. O delegado disse que, na maioria das vezes, os “clientes” dos doleiros não sabem a origem do dinheiro que estão recebendo. Não há indícios, segundo a PF, de que as empreiteiras ou os políticos investigados pela Operação Lava Jato soubessem que o dinheiro operacionalizado pelos doleiros tinha origem no narcotráfico.

Em geral, doleiros usam dinheiro em espécie para realizar transações financeiras ilegais, sem que as autoridades tenham conhecimento. Nesse meio, segundo a Polícia, ter acesso a esses recursos com facilidade (liquidez) é extremamente valorizado. “Ele [Ceará] atende a diversos tipos de clientes, mas não há, necessariamente, uma vinculação entre eles. A atuação do que a gente chama de doleiro é um sistema de compensação”, afirmou o delegado.
Biasoli disse que a prisão de “Ceará” será comunicada ao juiz da 13ª Vara Federal da Justiça Federal no Paraná, Sergio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na primeira instância, à PGR e ao STF. Por ter, segundo a PF, continuado a atuar como doleiro, “Ceará” corre o risco de perder os benefícios que conseguiu ao firmar o acordo de delação premiada.
Quem é “Cabeça Branca”
O traficante Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, que mudou de rosto para fugir, é apontado pela PF como o maior traficante de drogas do Brasil e um dos maiores do mundo. Ele foi preso pela Polícia Federal em julho de 2017 durante a primeira fase da Operação Spectrum. Planilhas encontradas durante esta fase indicam que entre 2014 e 2017 ele tenha comercializado 27 toneladas de cocaína e movimentado, pelo menos, US$ 138 milhões. Em depoimentos à PF, ele admitiu seu envolvimento com o tráfico internacional de drogas. Cabeça Branca está preso na penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

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