Deu no estadão


CRISE DO DIESEL: MIOPIA GOVERNAMENTAL
Há um século, os trens no Brasil só perdiam para a Índia em número de pessoas transportadas. Paralelamente, o mundo entrava fundo na era do petróleo, mas EUA e Europa - mais esta última - construíram um sistema multimodal integrado. No pós-guerra, sob pressão de aliados, o Brasil decidiu substituir as ferrovias por estradas. Sem visão de longo prazo, todos os governos que se seguiram fomentaram a infraestrutura rodoviária e praticamente abandonaram as ferrovias. Só recentemente este movimento se reverteu em parte, mas com ferrovias dedicadas quase que exclusivamente ao transporte de minérios. Segundo Paulo Resende, coordenador do núcleo de infraestrutura e logística da Fundação Dom Cabral, formou-se assim “uma das matrizes de transportes mais desequilibradas já vistas”. A miopia governamental não enxergou que já há alguns anos as cadeias de suprimento deixaram de trabalhar com grandes estoques e passaram a usar uma estratégia just in time, que tem a vantagem de reduzir os custos de estocagem, mas cria riscos na possibilidade de desabastecimento, se o transporte não se mostrar eficiente. A fera criada mostra agora suas garras. Poucos dias de paralisação foram suficientes para romper linhas de produção, provocar falta de gêneros de primeira necessidade e muito mais. Para Resende, “é o preço pago por uma nação governada por interesses mesquinhos, sem a menor preocupação com as estratégias necessárias para termos um grande Estado”.

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