Entenda onde uma pesquisa pode enganar

• ”Milionário provoca distorção em pesquisa de renda do IBGE” - 

Um milionário do ramo de transportes - com renda declarada de mais de R$ 1 milhão por mês - deixou a base de amostra da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE em março e pode ter provocado uma distorção na estatística do rendimento médio real dos trabalhadores do país no primeiro trimestre deste ano.
• Segundo a MCM Consultores, esse "outlier" - como são chamadas as observações anormais da pesquisa, que provocam distorções - passou a integrar a amostra da Pnad Contínua em dezembro de 2016. Naquele quarto trimestre, a renda dos trabalhadores subiu 1,4% frente ao mesmo período do ano anterior. De acordo com a consultoria, se o milionário fosse expurgado da amostra, a renda teria crescido apenas 0,2%. Numa pesquisa que engloba 70 mil domicílios por mês, observações individuais são geralmente diluídas e não afetam as estatísticas gerais. Desta vez isso ocorreu porque moradores de bairros de alta renda tendem a ter menor peso na pesquisa ao representarem parcela menor da população. O milionário, porém, mora num bairro de baixa renda e acabou com peso maior que o previsto na pesquisa.
• No primeiro trimestre deste ano, o milionário finalmente deixou de fazer parte da amostra da Pnad Contínua. Sua saída provocou, porém, um efeito contrário nas estatísticas. O rendimento dos trabalhadores ficou estável no primeiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado. Sem a distorção gerada por ele, a renda teria crescido 0,7%, segundo a MCM. "Por muitos trimestres, esse efeito inflou o crescimento do rendimento real. O indivíduo saiu da amostra no primeiro trimestre, mas permaneceu na base de comparação. Seu efeito passou a ser negativo. Até o fim do ano teremos essa distorção nos dados e teremos que olhar a série ajustada", avaliou Sarah Bretones, economista da MCM.
• O IBGE minimizou o impacto do "outlier" na pesquisa. Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, diz que as variações estão dentro do intervalo de confiança da pesquisa. Ele acrescentou que o IBGE criou um grupo de trabalho para avaliar formas de tratar os "outliers" nas pesquisas, com participação da Escola Nacional de Ciências Estatísticas.

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