Opinião
QUE GESTAÇÃO É ESSA?
MARLI GONÇALVES
Pega
a folhinha. Conta. 1, 2,3. Três já foram. Faltam agora só nove e a
coisa que creio todo mundo mais deseja é não ter que passar esses nove
meses esperando que nasça um novo Brasil. Temendo que esteja sendo
gestado um monstro nascendo prematuro, tirado a fórceps. Que vá direto
para uma encubadeira.
______
Entra
dia, sai dia, entra noite, sai noite. É na hora do café da manhã, do
almoço, do jantar. Se bobear, também na hora do lanche. Uma informação
estranha, muito estranha, uma prisão, uma soltura, uma chacina,
assaltos, explosões. Tiros. Um desaforo. Um telecatch entre ministros
supremos, alguma deselegância.
Será
que estão se dando conta? Três meses já foram. Mais três tem Copa do
Mundo, que era só o que faltava para esse ano; soma mais três e –
lembra? – Eleições. Nacionais. Para a Presidência, Governo dos Estados,
Senado, Câmara Federal. Seria a hora boa para trocar, renovar, arejar,
oxigenar. Seria.
Mas
nossas mãos embalam um berço ainda vazio. O que poderia vir como novo
se dedica especialmente a infernizar a Mãe Pátria, chutando bem a sua
barriga, e nessa gravidez múltipla – põe múltipla nisso – com mais de
dez candidatos a herdeiro, um tenta enforcar o outro com o cordão
umbilical, tomar as forças, tomar a frente, nascer.
E,
pior, parece que todos são gêmeos quase idênticos, para o nosso
desespero, nós que esperamos aqui do lado de fora. Querendo saber se é
menino ou menina, o tom da pele, se vai nos libertar ou censurar; se vai
propor o desarmamento de espíritos, se vai querer estudar e ser alguém
ou viver de dar jeitinho. Com quem vai parecer. Queremos ver a carinha,
saber de que cor vai ser seu enxoval, sua roupinha, se branca, verde ou
encarnada. Se cantaremos cantigas românticas, ou hinos nas ruas, com o
velho refrão: o povo unido, jamais será vencido.
Ficamos
aqui torcendo – pelo andar desse andor – que ao menos nasça de parto
minimamente natural. Ao menos isso temos de conseguir nesse meio tempo,
já que os nossos desejos ainda terão de ficar esperando. O ovo ainda não
mostra a serpente.
Não
há como negar, contudo, que essa gravidez está bem tumultuada e
estressante. Tanto que não dá nem pra desejar comer melancia com pão, ou
sorvete de bacon. Temos de nos ater ao arroz e feijão, pondo a mão para
cima, louvando se os temos.
Há
fantasmas rondando esse berço, vindos de uma espiral do tempo, de 68,
78, 88, por diante, e não são rotações. As farsas se repetem. E nesse
futuro-presente vêm ampliadas em redes virtuais, tecnológicas, não
humanas, redes que ainda não têm a sua capacidade de destruição
totalmente identificada.
Sai pra lá, bicho papão! Dona Cegonha, tenha piedade de nós.
Marli Gonçalves, jornalista – Que confusão é essa? Que bandalheira é essa? Que gestação é essa, que nós é que sentimos as contrações?
Brasil, lépido 2018
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