Opinião

Crivella imita Doria: em meio à tragédia, governa por fake news

Com o bispo Marcello Crivella passeando pela Europa em pleno Carnaval, a Prefeitura levou duas horas para interditar a ciclovia Tim Maia, depois de mais um trecho desabar durante o temporal que deixou o Rio debaixo d´água na quinta-feira e provocou o caos na cidade. Quatro pessoas morreram nos desabamentos.
Da Suécia, uma das paradas da caravana do prefeito, todo encapotado e esfregando as mãos, Crivella enviou um vídeo para dizer que lá estava fazendo muito frio, mas ele seguia cumprindo sua missão.
Que missão? Ancelmo Goes, em sua coluna no Globo, informa que o Ministério Público Estadual vai investigar esta viagem que custou R$ 130 mil aos cofres públicos por haver evidências de que não havia compromissos oficiais por lá. Se ficar comprovado, pode configurar improbidade administrativa.
Crivella foi imitar o prefeito paulistano João Doria e quebrou a cara. Achou que poderia governar pelo celular enviando fake news para engabelar os cariocas.
No começo do ano, impressionado com a popularidade de Doria nas redes sociais graças aos videos gravados pela sua equipe, Crivella resolveu importar especialistas de São Paulo para o acompanharem em suas atividades.
Ao embarcar em pleno domingo de Carnaval, o bispo prefeito gravou um vídeo informando à população que viajou com a missão de “identificar novas tecnologias para o setor de segurança da cidade”.
O que ele entende disso? Não sairia mais barato mandar sua equipe pesquisar no Google e chamar os representantes das empresas para lhe apresentarem seus projetos?
Quando se consumou mais uma tragédia carioca _ além do temporal, o Rio viveu dias de desordem generalizada com tiroteios e arrastões na sua ausência _ Crivella enviou outro vídeo:
“O prefeito se solidariza com as famílias dessas vítimas e, para evitar que outras tragédias se repitam, acompanha o trabalho dos órgãos municipais”.
Que beleza! É isso mesmo que se espera de um prefeito moderno que acompanha o trabalho a 10 mil quilômetros de distância, tendo sempre ao lado Guilherme Sangineto, chefe executivo do Centro de Operações Rio, que aparecia nos vídeos só balançando a cabeça em sinal de aprovação às declarações de Crivella.
Os dois deveriam estar neste centro comandando as operações no Rio e não da Europa.
Fake news à parte, o fato é que Crivella resolveu fugir do Carnaval que detonou com sua figura no Sambódromo e nos blocos de rua antes do temporal cair.
A volta do prefeito estava prevista para esta sexta-feira e conviria que ele convocasse logo uma entrevista coletiva para prestar contas da sua missão pela Europa.
Pelo que se sabe até agora, o prefeito foi conhecer os últimos modelos de drones e seria bom ele explicar como eles poderiam evitar novas tragédias como a deste Carnaval.
Enquanto Crivella viajava por três países europeus, seu paradigma João Doria resolveu passar alguns dias de folia no Rio e em Salvador para testar sua popularidade.
Se ele é candidato a candidato a governador de São Paulo, seu mentor Geraldo Alckmin poderia se perguntar o que ele foi fazer em outros Estados, onde se reuniu com os democratas Rodrigo Maia e ACM Neto para discutir alianças eleitorais.
Com suas viagens pelo Brasil e pelo mundo, o prefeito paulistano viu despencar sua aprovação em São Paulo e Crivella não conseguiu até agora sair do rés do chão nas pesquisas.
Ao contrário do modelo Donald Trump, que acusa a imprensa de produzir fake news contra ele, Doria e Crivella resolveram eles mesmos produzi-las a favor deles.
Parece que até agora a estratégia não deu muito certo.
Doria quer ser candidato a presidente, depois aceitou ser apenas governador, mas até agora não se descobriu o que Crivella almeja com suas viagens internacionais.
Candidato a Papa não pode ser porque ele pertence a outra igreja, que abomina o Carnaval.
Vida que segue.

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