Opinião
O PREÇO DO CRIME
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 21 DE FEVEREIRO DE 2018
É
provável que não houvesse alternativa à intervenção federal: Pezão, o
governador, já havia demonstrado sua incapacidade para combater os
narcotraficantes e a tragédia da insegurança no Rio tornava-se
intolerável. Mas o presidente Temer mostrou que até quando faz o certo o
faz de modo errado. A improvisação foi tamanha que até agora não se
sabe de onde vai sair o dinheiro para pagar as despesas da intervenção –
o que inclui desde a alimentação dos soldados até o custo operacional. O
comandante do Exército, general Villas Bôas, quis saber de onde sairia a
verba; o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que não é
mágico e que o dinheiro da intervenção terá de sair do corte de outras
despesas. Mas como saber quanto será necessário, se o interventor,
general Braga Netto, ainda não apresentou seu plano? Braga Netto foi
apanhado de surpresa pela escolha, e só a aceitou porque, militar de
brio, não rejeita missão. Mas o secretário da Segurança do Rio pediu
demissão e Braga Netto não tinha o substituto.
A
reforma da Previdência daria fôlego aos cofres oficiais, mas a própria
intervenção impede que reformas sejam implantadas em sua vigência. E há
desentendimentos: o Conselho Nacional de Direitos Humanos manifestou seu
repúdio à intervenção. Tudo bem – se o Conselho não fizesse parte do
Governo. O problema, portanto, não é concordar ou não com a intervenção:
é saber que, mantida essa bagunça, não há nada que possa dar certo.
Velhos tempos...
A
crise no Rio vem de longe, de muitos anos; o Rio esteve sob controle
dos bicheiros, dos narcotraficantes, dos milicianos. Os bandidos, de
certa forma, supriam a ausência do Governo: levavam doentes para
hospitais, às vezes conseguiam remédios para os moradores, tudo em troca
da submissão total. Nas eleições presidenciais de 1989, só Brizola
podia livremente fazer sua campanha. Os outros candidatos, para entrar
no Rio, precisavam acertar uma aliança com algum bicheiro de porte – e
certamente não era de graça. O Correio atende no máximo à metade da
população. A outra metade está em áreas perigosas demais. Só que isso
tudo era conhecido e, mesmo sem a erupção de crimes dos últimos dias, já
exigia ações bem planejadas.
Não é só jogar o fardo para que os militares carreguem. Por que a improvisação?
...velhos dias
Há
quem diga que Temer, sabendo que a reforma da Previdência seria
rejeitada, armou um factoide para mascarar a derrota. Há quem diga que
Temer, com a popularidade no chão, decidiu encarnar-se no herói que luta
contra bandidos. Pode ser: ninguém jamais perdeu dinheiro ao apostar no
caráter vacilante de um político. Mas por que não armar tudo
direitinho?
Os sujos e os mal-amados
Talvez
haja um certo constrangimento no combate ao crime no Rio. Pois não é
que no Conselho da República, convocado a aprovar a intervenção, há 16
conselheiros, dos quais nove sendo investigados no Supremo? São o
próprio Temer, o presidente do Senado, Eunício Oliveira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco, o líder do Governo no Senado, Romero Jucá, o líder do Governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, o líder do Governo no Congresso, André Moura, e o líder da Minoria na Câmara, José Guimarães. No Governo, na oposição, na linha sucessória, quantos!
A minoria
Não
estão sendo investigados os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles,
da Justiça, Torquato Jardim, do Planejamento, Dyogo Oliveira, Carlos
Marun (Governo); os deputados Raymundo Lira, líder da Maioria no Senado,
Humberto Costa, líder da Minoria no Senado, e Lelo Coimbra, líder da
Maioria na Câmara. Os investigados são maioria absoluta.
Tudo paradinho
Com
a intervenção no Rio, não é apenas a reforma da Previdência que para de
andar. Há mais 536 emendas constitucionais – que, como estavam mesmo
paradas, não chamam a atenção. Uma delas, do então deputado Clodovil, é a
que reduz o número de deputados e senadores. Por isso parou.
Ódio é ódio
A
mãe do prefeito carioca Marcelo Crivella, idosa, doente, foi tratada
num hospital público do Rio. Os adversários do prefeito protestam:
afinal, ela ocupa a vaga que poderia ser ocupada por um pobre. A briga
política é muito feia: se a senhora tivesse sido internada num hospital
particular, seria criticada por não confiar num hospital público. Em
resumo, não há saída.
Sim, sim, pois é, né?
O
presidente impichado Fernando Collor confirmou, no Senado, que sai
candidato à Presidência da República. Suas virtudes, segundo o discurso:
“Moderação, equilíbrio, maturidade”. Sua posição: “centro democrático,
ao mesmo tempo progressista e liberal”. Simples – mas que é que quer
dizer?
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