VESTI UMA CAMISA...
MARLI GONÇALVES
Vesti
uma camisa... Listrada? Não! Não pode. Vão achar que vocês são uns
reacionários de direita que só pensam em por o Lula na cadeia. Cocar?
Não!!! Lembrem-se do genocídio dos povos indígenas e comecem a chorar,
em pleno Carnaval. Homem vestido de mulher magoa os trans. Fantasia de
doméstica, de enfermeira, de nega maluca? Não! Lembra a terrível
opressão feminina, estimula o assédio, o racismo. Mas, para os mais
chatos dos chatos, a gente poderia, eles deixam, se fantasiar de planta.
De unicórnio (!). De super-heróis...
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Pronto.
Acabou. Agora deram de patrulhar até a mais livre e libertária festa
nacional, o Carnaval. Deus nos livre dessa gente que não só entra com
tudo na roubada de acreditar nos dogmas políticos, defender os
indefensáveis, como também agora quer patrulhar até as fantasias que
devem ou não ser usadas.
Mas
eles – considerando que eles são um grupo de pessoas que se acham as
mais sabidas-intelectualizadas-informadas-corretas-especiais-ungidas e
etc. e tal do planeta – já não é de hoje que querem acabar com a
alegria, botando política social-esquerdizante ou religiosa e
manipuladora em tudo o que respira. Para eles, aqueles exércitos na
Coreia do Norte seguindo o grande líder deviam ser aqui repetidos,
uniformizados.
Não
é brincadeira não. Fizeram um vídeo com orientações “politicamente
corretas” – fantasias que não “deveriam” ser usadas por quem segue essa
doutrinação. Sobrou até pra Iemanjá, pro Allah-la-ô. Não pode porque
seria desconsiderar as religiões. Tapem os ouvidos. Nada de ficar por aí
ouvindo marchinhas como Cabeleira do Zezé, Nós, os Carecas, Máscara
Negra, Índio quer apito, Mulata Bossa Nova...
Em
compensação, acredite, porque eu estava lá e na hora eu mesma não
acreditei. Bloco de Carnaval moderninho daqui de São Paulo toca o
Bolero, de Ravel. O mesmo Acadêmicos do Baixo Augusta, cheio de
“personalidades”, e que, a propósito, até agora não ouvi dar um pio
sobre o caso do menino eletrocutado durante o desfile deles, tocou
também “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré.
Faltou a Internacional.
Já
não bastasse o baixo astral nacional, em pleno Carnaval temos de ler,
ouvir e ver tanta besteira desfilando nas avenidas. Desfilando,
propriamente, não. Esses blocos grandes são paradas. Gente parada. Se o
caminhãozinho anda, vão atrás, como se fosse uma passeata. Repara só.
Nem os dedinhos para cima. As mãos agora estão ocupadas: seguram bebidas
ou celulares para selfies, lives, zaps.
Legal.
São Paulo realmente está nas ruas, com muita gente, especialmente
jovens, com alguma fantasia – nem que seja só aquele horrível e
inexplicável chifrinho de unicórnio na cabeça que parece uma casquinha
de sorvete ao contrário. Mas não se pode dizer mais que se brinca o
carnaval, essa expressão tão bonita. Não dá para relaxar. É violência.
Roubos, assaltos, cuidado para não arrumar alguma treta, pessoas
armadas, risco de arrastões. E agora tem ainda a pavorosa versão “choque
no poste”. Some-se a isso um prefeito arrumadinho cheio de mania de dar
ordens, querendo regular, normatizar, mudar até as rotas e caminhos dos
blocos que estavam indo tão bem organizados naturalmente.
Nessa
toada os cordões logo serão – ou voltarão a ser - só os de isolamento e
os blocos, só os de cimento e concreto. Foi indo nessa toada que no
século passado uma certa elite conseguiu acabar com os corsos, com os
blocos nas ruas, confinando todos só em quadras de escolas de samba.
Abaixo
a ditadura. Todas. O samba não fica só nos pés, tem de percorrer o
corpo inteiro, e invadir o cérebro desse povo chato que não gosta de ver
a gente dar a nossa risada.
Com
roupa, sem roupa, pouca roupa. Vestido do que quiser. Por isso, aliás, é
que chama fantasia. Que vivam os blocos afros, de sujos, das piranhas,
de paródias!
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Marli Gonçalves, jornalista - Se
for se vestir de planta, legalize já. Se for de super-herói, escolha o
Super Pateta. Mas, por favor, esqueça o tal chifre do unicórnio.
São Paulo,
..."Se acaso meu bloco, Encontrar o seu,
Não tem problema,
Ninguém morreu,
São três dias de folia e brincadeira,
Você pra lá e eu pra cá,Até quarta feira"....
Não tem problema,
Ninguém morreu,
São três dias de folia e brincadeira,
Você pra lá e eu pra cá,Até quarta feira"....
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