Coluna do blog


O Pecém desarrumado
Mesmo de hora-em-hora escarafunchando o noticiário local, só recentemente tomei conhecimento de que a Companhia de Integração Portuária do Ceará, CEARAPORTOS, mudou de nome e razão social. Chama-se agora CIPP -  S/A. Fundada nos estertores de 1995 - quando então transcorria o início do segundo Governo Tasso - e o recém eleito FHC atendia a quase todos os reclames do governador cearense, dada sua importância na sustentação política do Governo Federal, que ainda buscava manter o equilíbrio do engenhoso Plano Real, a CEARAPORTOS, pro bem e pro mal, mudou radicalmente aquela ponta extrema do litoral cearense nesses últimos 22 anos. Antes, bem antes, refúgio paradisíaco dos Tapebas, Pitaguarís e Tupinambás, que em conjunto formavam pequenas tribos tupiniquins da Grande Nação Tupi-Guaraní, aquela região foi ainda nos anos 80 identificada como área ideal para a construção de um grande porto off-shore (fora do continente), dada a crescente inviabilização do Porto do Mucuripe, em especial por já não atender as necessárias profundidades (calado) para atracar grandes navios, bem como porque as comunidades legal e ilegalmente fixadas no seu entorno já não permitiam sua expansão.

Pós considerações
Pois bem .. feitas essas rapidíssimas considerações, e voltando ao tema central acerca da mudança do nome da antiga Companhia de Integração Portuária, Cearaportos - empresa pública de economia mista para uma mais abrangente sociedade anônima (S.A.), isto é, ainda empresa controlada pelo poder público, mas agora com capital aberto - ex vi Banco do Brasil  - apurei que a sobredita mudança se deu para melhor se encaixar no interessante desejo do Governo Estadual de associar o Terminal Portuário do Pecém à uma PORT AUTHORITY de caráter global. Algo como o Porto de Nova Iorque, Porto de Houston, Porto de Hamburgo, Porto Ghanzou, Porto de Barcelona, Porto de Cingapura, Porto de Rotterdam ... ótima, excelente, fantástica ideia. Inserir-se-ia assim o arrumadinho Porto do Pecém no circuito do terminalões que movimentam em apenas 2 ou 3 semanas, ágil e logisticamente perfeito, o que o Pecenzinho leva todo um ano pra carregar, despachar, descarregar e despachar de novo no ritmo 24-7, isto é, 24 horas, 7 dias por semana. Repita-se, a ideia é matricialmente muito boa !

O legal
Ocorre que, como tudo na vida, há formas e formas de serem feitas as coisas. E nesse mundo cheio de regras, modelos e sistemas, convencionou-se que as tais coisas e, pasmem, até mesmo as pessoas, podem ser PÚBLICAS ou PRIVADAS, do Governo ou Particulares, de Todos ou de Pessoas, individualmente. Nesse sistema, e em particular no Brasil, quando a coisa é pública, pertencente assim a um governo, seja ele em que esfera for, a admissão legal para vender, alienar e-ou permitir a participação de capital privado (vide o que recentemente ocorreu com o nosso terminal aeroportuário Pinto Martins, um jovem cinquentenário inaugurado em 1966, entregue para administração concessionário de uma empresa privada alemã - FRAPORT AG) há de seguir-se todo um processo, e que seja público, aberto e transparente. No Brasil dos último 20 e poucos anos, convencionou-se utilizar o leilão, levado a interessados em bolsas de valores, com regras previamente definidas e habilitações previamente aceitas. Assim foram quase todas, e entre as nossas, das mais conhecidas, leiloaram-se a Teleceará, a Coelce, o BEC, e por último o Aeroporto Pinto Martins, que era administrado por um estatal federal, mas que seguiu igual curso, qual seja, o do LEILAO EM HASTA PÙBLICA, todos com regras previamente definidas e habilitações previamente aceitas, conforme determina a LEI !!

Sem trocadilho
Sendo assim, por que carga d'agua o Porto do Pecém não seguiu igual regime?. Por que não foi todo o terminal?, Por que não é venda, concessão, alienação, vinculação ou associação? ... Sem nenhum trocadilho com o que ocorre ali em ininterruptas movimentações, NÃO IMPORTA !! O Porto pertence ao bravo POVO CEARENSE, que meteu ali poupança e empréstimos ainda a pagar, e dito isto, não se pode entregar, seja integral ou parcialmente, nossa rica poupancinha ao primeiro interessado. Seja lá quem ele for. De fato, o Porto de Rotterdam é um puta porto, mas ouviram propostas de Barcelona, Hamburgo, Nova Iorque, Cingapura? Não ! Porque simplesmente não lhes deram chance !! Fizeram um road-show prá mostrar as potencialidades do Pecém mundo afora? Não ! Pois bem, eis a tal inacreditável história de uma sucessão de equívocos que podem levar a total invalidação de uma, repito, grande ideia. Se não voltarem a prancheta à começar quase tudo do zero, a super-ideia de se transformar o Porto do Pecém em um porto global pode a qualquer instante ir pro sal. Lembremos. Geograficamente, o Pecém é o mais perto da Europa, é bem perto do Canal do Panama e bem próximo dos principais portos dos EUA. Gerencialmente, é desde Erasmo Pitombeira superavitário. Econômico-financeiramente é promissor. Politicamente, precisa de fato se livrar do Governo do Estado, agora vamos fazer as coisas direito. Alô, Dr Pitombeira !! Em tempo: Eu participei da construção de cada metro do Porto e conheço suas histórias e agora suas arrumações.



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