Cearense é assim...


Cearense formado no MIT trabalha em projeto que inventará os aviões do futuro

O engenheiro Sandro Salgueiro, de 24 anos, trabalha em uma das maiores empresas do ramo, a Airbus, na França

Por Crisneive Silveira em Perfil


Há 3 dias
“Não há nada mais importante que ambição, vontade de aprender, coragem de falhar, e desejo de sempre alcançar algo mais”.
O cearense Sandro Salgueiro, de 24 anos, é o único brasileiro na equipe de projetos conceituais da Airbus. (FOTO: Arquivo Pessoal)
As palavras fortes e incisivas vieram de Sandro Salgueiro, e explicam os altos voos que tem alcançado na carreira. Formado em Engenharia Aeronáutica pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, ele também fez mestrado no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets), na mesma área, e logo vai para o Doutorado. Tudo isso até os 24 anos.
Convicto do sonho que nutre desde criança, o cearense de Fortaleza começou a trilhar o caminho pela aviação muito cedo. Atualmente, é o único brasileiro na equipe de projetos conceituais de aeronaves em uma das maiores empresas de aviação do mundo.
Foi só ver um avião, ainda criança, que as portas do coração se abriram em automático. Ali, nascia uma paixão que se tornaria a vida de Sandro. Ele não queria só pilotar, a vontade era entender o que acontecia por dentro e como melhorar, como criar novas possibilidades de voo.
O processo foi natural. Com apoio dos pais, aos 18 anos ele deixou o Brasil para dar asas ao propósito dele: se graduar em Engenharia Aeronáutica. Foi lá que tirou a carteira de piloto comercial e, depois, veio o mestrado no MIT.
“Queria criar, projetar, construir, e voar aviões. Não foi uma decisão que levou tempo: foi uma escolha natural e sem ponderação. Depois disso, simplesmente procurei os melhores lugares no mundo para fazer meu treinamento de pilotagem e estudar engenharia aeronáutica”, relembrou.
E assim passou por empresas importantes da aviação como Rockwell Collins, Gulfstream Aerospace e Amazon. Tudo isso entre 2011 e 2017.
O CityAirbus é uma das aeronaves projetadas pela equipe do cearense, na Airbus. (FOTO: Arquivo Pessoal)
Céu limpo, sem turbulências. Acostumado a lidar com desafios e a batalhar pelos propósitos, morar sozinho em outro país, tão cedo, não foi dificuldade mas serviu para o crescimento. Hoje, na França, o jovem cearense trabalha na Airbus, uma das maiores fabricantes de aviões do mundo. Lá, é responsável pela aviação do futuro. Ele cria projetos conceituais de aeronaves que podem ser construídas em 20 ou 30 anos.
Entre elas, o CityAirbus: uma aeronave de decolagem e pouso vertical, também elétrico e não poluente, que o cearense está desenvolvendo na Airbus. O objetivo é usá-la para transporte de passageiros entre prédios.
Já imaginaram algo meio “Os Jetsons”, aquele famoso desenho dos anos 1960, da sociedade do futuro? Pelo visto, está mais perto do que se imagina, hein?
E se você acha que ele só pensa em voar, é por aí mesmo. No tempo livre, tem avião na pista, mas também muita decolagem por meio da leitura e uma busca incessante por novos aprendizados.
“Estou sempre procurando aprender mais sobre qualquer assunto, tanto no trabalho como em casa. Leio sobre História, economia e tecnologias diversas, por exemplo. Também viajo bastante, o que me ajuda a expandir minhas perspectivas do mundo”, disse o piloto que já conheceu quase todos os 50 estados americanos e também viaja pela Europa.
A ousadia é co-piloto de Sandro. Não por acaso chegou tão longe. Pelo caminho, encontrou brasileiros brilhantes, outros tantos que o motivaram, mas a inspiração mesmo veio de casa, dos pais que deram muitas palavras de incentivo desde criança.
E ele nem quer desacelerar, viu? Enquanto planeja os aviões das próximas gerações, Sandro também pensa em voltar ao MIT, em 2019, para avançar com o doutorado. Comandante da própria vida, ele não se sente diferente de qualquer outro, apesar de estar em um grupo seleto de brasileiros que consegue passar no MIT, uma das instituições de ensino mais bem conceituadas do mundo.
Sandro (o segundo da esq. para a direita) e outros engenheiros recem-graduados da Airbus na frente de um Concorde. (FOTO: Arquivo Pessoal)
“Essa filosofia de casa sempre gerou uma ambição natural na minha vida — ambição de sonhar grande e nunca aceitar uma posição de conforto. Alcançar grandes feitos profissionais é uma tarefa que em maior parte depende de atitude. Não há nada mais importante que ambição, vontade de aprender, coragem de falhar, e desejo de sempre alcançar algo mais”, disse o cearense.
O sonho do homem de poder voar vem de muito tempo. Na mitologia grega, Ícaro já buscava ver o céu mais de perto. Leonardo da Vinci, com seu aeroplano, também ensaiava sentir a liberdade lá de cima. O brasileiro Santos Dumont, com o 14 Bis, concretizou isso. O que todos eles têm em comum? Foram visionários e não desistiram dos seus propósitos, mesmo quando pareciam impossíveis aos olhos da maioria.
Do alto, de onde seus pensamentos estão mesmo quando os pés mantêm o equilíbrio no chão, Sandro não deixa de contemplar o “milagre” que é ver o mundo de um lugar tão privilegiado e de poder fazer dele um espaço para viver o que ama: a aviação.
“Penso que estou fazendo algo que seres humanos não foram feitos para fazer. Penso que a vista lá de cima é única, e que consigo ver mais coisas em um único momento que seres humanos conseguiam ver durante a vida inteira por milhares de anos. Penso que, apesar da mudança de paisagem no chão, o céu é sempre o mesmo em qualquer lugar, e isso me dá conforto. Penso que meu avião se mantém no ar como se fosse mágica — que, sem eu precisar pensar, milhões de moléculas de ar estão percorrendo as superfícies da asa a centenas de quilômetros por hora e me segurando no ar. Penso que não estou preso a um lugar só, e que posso alcançar qualquer lugar ou qualquer coisa”.

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