Opinião
O GATO DE ALICE
Coluna Carlos Brickmann
- EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 21 DE JANEIRO DE 2018 -
No
País das Maravilhas, Alice perguntou a um gato sorridente qual o
caminho a seguir para sair dali. “Depende: aonde você quer chegar?”,
perguntou-lhe o gato. Alice disse que o lugar não importava muito. O
gato respondeu: “Então não importa o caminho que você vai seguir”.
Sábio
gato: mesmo aqui, no País das Armadilhas, como saber para onde as
pessoas vão se não sabemos aonde querem chegar? A resposta é simples:
querem ir aonde for melhor para eles. Mas o que é melhor para eles?
Gleisi Narizinho Hoffmann, presidente do PT, diz que para Lula ser preso
muita gente vai morrer – como se multidões fossem lutar para manter
solto o Grande Líder. Lindbergh Faria, Lindinho, senador petista pelo
Rio, diz que a esquerda precisa estar “mais preparada para o
enfrentamento, para as lutas de rua”. Nenhum dos dois concordará com uma
sentença contra Lula: a Justiça só existe, acreditam, se Lula for
absolvido. E que acontece caso nenhum dos dois concorde com a sentença?
Pois é: absolutamente nada.
Eles
sabem disso. Mas aonde querem chegar? À intimidação da Justiça. Gleisi
enfrenta dez processos; Lindbergh, sete. Podem ser absolvidos em todos,
mas ambos parecem não acreditar nessa possibilidade. Preferem a tática
da ameaça disfarçada em advertência; agem em benefício próprio, mas
disfarçado em luta pela liberdade de um companheiro. Aceita a pressão,
Lula será beneficiado, mas quem ganha são Narizinho e Lindinho.
Serra fora
José
Serra decidiu manter-se no Senado, “cuidando dos projetos que
elaborou”, e desistindo de vez de sair para o Governo ou a Presidência.
Que é que Serra quer, que o leva a desistir de tentar realizar o sonho
para o qual se preparou, de ser presidente da República? Não, não são
seus projetos, pois várias vezes já deixou mandatos pela metade para
tentar novos cargos.
O
que Serra quer, agora, é um pouco de anonimato, longe da máquina de
moer carne que é uma campanha. Acusado por delatores, o que quer é paz.
Alckmin dentro
Fernando
Henrique, o cacique-mor do PSDB, determinou: o candidato do partido
será Geraldo Alckmin, Ignorou numa boa o prefeito de Manaus, Arthur
Virgílio, que em 4 de março enfrenta Alckmin nas prévias tucanas.
Alckmin já tomou uma surra histórica de Lula em 2006, tendo menos votos
no segundo turno do que no primeiro; não está bem situado nas pesquisas;
seu inegável charme é sintetizado pelo apelido de Picolé de Chuchu;
deixou de defender, quando teve oportunidade, as privatizações de
Fernando Henrique – pior, vestiu uma ridícula jaqueta com símbolos de
estatais, para garantir que não era privatizante. Ora, estatista por
estatista, Lula é mais tradicional. E Alckmin nunca foi sócio-atleta da
ala de Fernando Henrique.
Por
que, então, Fernando Henrique o apoiou? Porque viu em Alckmin melhores
chances de vencer ou de atrapalhar o candidato oficial (perder para
Meirelles, Rodrigo Maia ou Temer seria pior do que para Lula, pois os
centristas poderiam engolir os tucanos). Ruim com Alckmin, pior sem ele.
Boa troca
Enfim,
uma proposta de negociação sobre a reforma da Previdência boa para a
população: os parlamentares, em vez de cargos e verbas, pedem que os
juros dos bancos sejam reduzidos. A inflação em 2017 foi de 2,95%; os
juros básicos fecharam o ano em 7%; os juros bancários foram, em média,
de 325% ao ano, no cheque especial. Os cartões chegaram a 340% ao ano. O
deputado Fábio Ramalho, emedebista de Minas, diz que, baixando-se os
juros bancários, haverá apoio para reduzir as regalias do setor público.
Por que a proposta? Para que os candidatos à reeleição mostrem ao
eleitor que há algumas barganhas no Congresso em benefício da população.
E se chama Brasil
Por
que o presidente Temer insiste em nomear Cristiane Brasil para o
Ministério do Trabalho, recorrendo a instância após instância judicial? O
colunista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br)
dá a resposta: “Falta coragem ao presidente para desconvidar Cristiane
Brasil, tanto quanto para extinguir o Ministério do Trabalho, de
gritante inutilidade”.
Guerra conjugal
O
governador paraibano Ricardo Coutinho, do PSB, foi notificado pelo STJ
em ação movida por sua ex-esposa Pâmela Bório, com base na Lei Maria da
Penha. O processo corre em segredo de Justiça. Mas alguns fatos são
conhecidos: Pâmela Bório responsabiliza o ex-marido por hackear seu
celular, no qual, segundo se comenta, haveria fotos do casal em momentos
íntimos. O relator do processo no STJ é o ministro Francisco Falcão. O
processo tende a esquentar por dois motivos: primeiro, o hackeamento das
fotos da bela primeira-dama; segundo, a posição política de Coutinho.
Distante
da linha partidária, que oscila entre candidato próprio e o apoio a
Geraldo Alckmin ou a Marina Silva (Rede), o governador fecha com Lula.
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