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Recomendação da OMS indica 'excesso de zelo', afirma Ministério da Saúde


A decisão da OMS (Organização Mundial de Saúde) de incluir todo o Estado de São Paulo no mapa das áreas de risco para febre amarela indica um "excesso de zelo" e "ampliação da cautela", informou o Ministério da Saúde nesta terça-feira (16).
Segundo o ministro da Saúde em exercício, Antônio Nardi, isso ocorre diante da impossibilidade de mapear, nos aeroportos, portos e fronteiras, os locais de destino e rotas de deslocamentos dos turistas que chegam ao Estado.
Na prática, a medida endurece as recomendações para os viajantes estrangeiros que pretendem visitar o Estado. Eles serão orientados a se vacinar contra a doença ao menos dez dias antes da viagem para qualquer área de São Paulo.
MUDANÇA NA RECOMENDAÇÃO DA VACINAOrganização Mundial da Saúde agora considera todo o Estado de São Paulo como área de risco
"É uma ampliação da cautela, um excesso de zelo que a OMS está colocando para que todos os viajantes internacionais que venham a São Paulo, independente de sua área de circulação, estejam vacinados", afirmou.
A medida foi adotada após conversas entre representantes da entidade, da secretaria de saúde de São Paulo e do ministério nesta segunda-feira (15).
Ele nega a possibilidade de mudança nas áreas de recomendação para vacinação devido ao alerta aos turistas. "As áreas determinadas para vacinação continuam as mesmas", afirma. "As determinações serão atualizadas conforme necessidade".
Em 2017, a OMS passou a considerar como regiões de risco para febre amarela a porção norte do Rio de Janeiro, o sul da Bahia e todo o Espírito Santo. Já estavam nessa lista todos os Estados do Norte e do Centro-Oeste, além de Maranhão, Minas Gerais e partes dos Estados da região Sul, de São Paulo, da Bahia e do Piauí.
AVANÇO DE CASOS
A justificativa é o aumento, nestas regiões, do número de epizootias (morte de macacos) e de casos de febre amarela em humanos.
Dados de novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde apontam que, desde julho, quando o país declarou o fim do pior surto de febre amarela já registrado, já foram confirmados 35 casos da doença. Deste total, 20 morreram.
Os casos ocorreram principalmente em São Paulo (com 20 confirmações neste período), Minas Gerais (11), Rio de Janeiro (3) e Distrito Federal (1).
Para comparação, no fim de dezembro, o país somava apenas quatro casos confirmados de febre amarela, o que indica um aumento de 775%. Há ainda 145 casos em investigação.
Inicialmente, ao comentar sobre o fracionamento da vacina contra a febre amarela, o ministro da Saúde em exercício chegou a falar na existência de um "surto" em alguns Estados. Questionado, porém, recuou e negou que essa seja a avaliação da pasta.
De acordo com Nardi, o ministério ainda não avalia o cenário como "surto", mas apenas como "aumento na incidência do número de casos".
"É um aumento da incidência de circulação viral. Tivemos 35 casos registrados da doença, e 20 óbitos, todos acompanhados e monitorados com investigação epidemiológica concluída. E desta forma, uma situação dentro de um controle absoluto, com estratégia de controle do vetor, com investigação de epizootias e de estratégia de vacinação e suporte na rede hospitalar", afirma.
O termo anterior, diz, só poderia ser usado em caso de "registro astronômico" de novos casos, o que não ocorre no momento, avalia.
FRACIONAMENTO ANTECIPADO
Ainda assim, a recente confirmação de novas mortes em São Paulo fez o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciar uma antecipação na campanha emergencial de vacinação contra a doença no Estado. Em vez do dia 3 de fevereiro, doses fracionadas (0,1 ml) da vacina serão aplicadas a partir do dia 29 deste mês em 54 cidades paulistas.
Nardi afirma ainda que a mudança nas datas está restrita a São Paulo, mas que a pasta deve apoiar caso haja decisão semelhante em outros Estados que participarão do fracionamento, como Rio de Janeiro e Bahia.
"Quando adotamos o calendário de fracionamento apresentado na semana passada, ele foi construído em conjunto. O Estado de São Paulo definiu que estará adiantando em parceria com os seus municípios e o ministério acata a definição. Se os três Estados propuserem o início da vacinação, ao ministério compete encaminhar os imunobiológicos e encaminhar as seringas para que essa vacinação seja realizada", afirma.
Questionado, Nardi nega falta de vacinas, mas evita citar qual o tamanho dos estoques. A justificativa é que a informação sobre estoques estratégicos é de "segurança nacional". "Em quantitativo de doses, tanto a dose integral quanto a fracionada, há doses suficientes para suprir toda a população", diz.
Apesar disso, ele admite que a decisão de ofertar a vacina para as crianças a partir de 9 meses de todas as regiões do país, e não apenas nas áreas de recomendação de vacinas, ainda não tem prazo para ocorrer. A decisão havia sido anunciada em setembro do ano passado.
Febre Amarela
"Enquanto tivermos alta circulação viral, não fazemos adoção de nenhuma medida extensiva a todo o território nacional", diz. "Este não é o momento onde podemos estender de imediato a vacinação para esse público. A partir de momento em que tivermos a situação nacional sob controle, esse público-alvo será estendido gradativamente", diz.
O ministro interino afirma ainda que a pasta está adquirindo 20 milhões de novas seringas caso seja necessário ampliar o fracionamento da vacina no país. A demanda foi encaminhada à OMS na última quinta-feira.
Segundo ele, quem for passar o Carnaval em cidades como Rio de Janeiro e Salvador, onde haverá oferta de doses fracionadas da vacina, não precisa se vacinar, desde que fique apenas nas áreas urbanas. Se for para áreas de mata, a vacina é recomendada ao menos dez dias antes da viagem.
De acordo com o ministério, apesar do avanço de casos de febre amarela em regiões mais próximas de grandes cidades, ainda não há registro de casos de febre amarela urbana, a qual não é registrada no país desde 1942. Todos os casos, assim, são de febre amarela silvestre.
HOLANDA
Nesta semana, a Holanda avisou o Ministério da Saúde sobre o caso de um holandês que chegou ao país vindo do Brasil com sintomas de febre amarela, e que teve a infecção confirmada em exames. A pasta, no entanto, afirma que o caso ainda está sob investigação.
Questionado sobre a adoção de novas medidas diante desse caso, Nardi diz que o regulamento sanitário internacional determina que a situação seja avaliada entre os países, com a possibilidade de "medidas cautelares e bloqueios essenciais", diz. Essas medidas poderiam incluir a realização de exames para confirmar o diagnóstico, ações de prevenção de novos casos e aumento da vacinação no município de origem da infecção.
"Precisamos saber por onde esse holandês andou, por quais municípios [do Brasil] viajou. Se o local onde se infectou é onde já há pessoas sendo vacinadas, não há nada mais a ser feito", diz Márcio Garcia, diretor de doenças transmissíveis do ministério.

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