Opinião
OS FILHOS DE PAPAI NOEL
Coluna Carlos Brickmann
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 20 DE DEZEMBRO DE 2017
Os
delatores, que confessaram ter participado de milhares de crimes de
corrupção, estão aos poucos sendo soltos, ou cumprindo pena no conforto
de seu lar. Os delatados, que participaram de menos crimes, mas mesmo
assim suficientes para criar-lhes enormes complicações legais, estão
numa boa. Fora um ou outro, apanhado de surpresa pelo furacão Lava Jato,
antes que seus companheiros de ladroeira tivessem elaborado uma boa
estratégia de esquiva, os demais comemoram um réveillon dos sonhos –
livres, leves, soltos. Sabe quantos processos o Supremo julgou contra a
turma do foro especial? Puxe pela memória! Não lembra? Pois tem razão:
nenhum.
Não
é por falta de freguesia. Só a delação da Odebrecht rendeu a abertura
de inquérito contra 24 senadores, 37 deputados e oito ministros do
Governo Federal. O povo da toga discute entre si, pronuncia votos de
matar os ouvintes de sono, discorre sobre qualquer tema. E para que?
Para nada.
Para
os delatores, os problemas foram superados. Marcelo Odebrecht fica em
sua mansão de 3 mil m² em São Paulo, mas com uma restrição: só pode
receber visita de 15 pessoas ao mesmo tempo (mais advogados). Adriana
Ancelmo, esposa de Sérgio Cabral, volta à prisão domiciliar, para poder
tomar conta dos filhos, e também é alvo de dura restrição: não pode usar
Internet. Lúcio Funaro, o doleiro, foi para a prisão domiciliar.
Todos somos filhos de Papai Noel, mas alguns são mais queridinhos do pai.
O custo da Justiça
Os
processos andam devagar, mas a Justiça busca equipar-se para cumprir
suas tarefas. De acordo com o excelente site jurídico gaúcho Espaço
Vital (www.espacovital.com.br),
o gasto da Justiça Federal com o aluguel de veículos passou de R$ 99
mil em 2009 para R$ 25 milhões em 2016. São 16 mil por cento em sete
anos, já descontada a inflação.
O custo da folia
O
BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, decidiu
contribuir com R$ 2 milhões para a SRCom, empresa que realiza o
réveillon na praia de Copacabana. A Petrobras também vai contribuir, mas
ainda não decidiu com quanto. A Caixa Econômica Federal e a Ambev
estudam sua participação.
O
país vai bem, obrigado. Se tudo der certo, quatro empresas arcarão com o
maior custo do réveillon; das quatro, três são estatais. E a única que
pode lucrar diretamente com a festa é a empresa privada, a Ambev,
vendendo cerveja durante as comemorações.
Bye, bye, Brasil
Condenado,
absolvido? O ex-presidente Lula não parece preocupado com seu futuro.
No dia 24 de janeiro, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto
Alegre, deve julgar o recurso de Lula contra a sentença do juiz Sérgio
Moro que o condenou a 9 anos e 6 meses de prisão. Caso a condenação seja
confirmada, Lula poderá ser preso. Mas ele já informou que pretende
viajar para o Exterior dois dias após o julgamento, para participar em
Adis Abeba, na Etiópia, de debates sobre a fome na África. Os debates
foram convocados por um companheiro de PT, José Graziano, que chefiou o
programa Fome Zero em seu Governo e hoje está na ONU.
Como é mesmo?
O
simples anúncio de que está com viagem marcada para o Exterior logo
após o julgamento pode servir como base para que Lula seja preso,
garantindo sua presença para cumprir a eventual pena. Caso seja
condenado, o TRF-4 poderá mandar prendê-lo na hora, para evitar que
fuja.
O sonho brasileiro
A
Ipsos, empresa internacional de pesquisa de mercado, acaba de chegar a
uma conclusão surpreendente: 70% dos brasileiros acreditam que é
possível governar o país sem corrupção. E 73% rejeitam o lema “rouba,
mas faz”. Boa parte dos pesquisados acredita que há poucas discussões
sobre o tema “como acabar com a corrupção”.
E
por que a conclusão é surpreendente? Porque políticos que chegaram a
renunciar ao mandato para fugir de denúncias de corrupção voltaram a se
eleger com facilidade. E o PT, alvo de denúncias pesadas desde o início
da Operação Lava Jato, tem tido bons índices de preferência para as
eleições de 2018. Na pesquisa, foram ouvidas 1.200 pessoas em 72
municípios.
Um país enlouquecido
Um
cunhado da apresentadora Ana Hickmann reagiu quando um jovem armado de
revólver atirou na apresentadora e em sua assessora: com um tiro, matou o
rapaz que tentava assassinar as jovens. E está sendo acusado de
homicídio por um promotor, que alega que, embora tenha havido legítima
defesa, foi excessiva, e o cunhado da apresentadora poderia ter evitado a
morte do candidato a assassino. O promotor que nos perdoe, mas este
colunista, em situação igual, descarregaria o revólver, para garantir a
vida de suas parentes. Alguém seria capaz de moderar-se nessa situação?
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